tag:blogger.com,1999:blog-88978094026725206842024-02-28T20:44:26.444-03:00Filmes, filmes, filmes! (e outras cositas mais)Impressões sobre filmes, óperas, espetáculos teatrais e afins.Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.comBlogger264125tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-84243401486603030582023-10-18T09:00:00.001-03:002023-10-21T09:54:32.583-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 – Dia 8<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBM7iAGsRu4F2VWtxqkxa-if4AhrSwVr6EUiXsTOrmXpKjfMzgKQJdS_eYW0vqeiW50dYnYotQ1lS3SvKJViCqCdKXR1Vi5wRKW-ZwA22OsBY0DuV5z0RPGfVg1bHwT3A5xTCUFVqHhSDBH75LBbZzO5lqNF_HVJ_ATBn6OoQRqGQ7ont7EY_sQ0NM4I/s438/Conrad_in_Quest_of_His_Youth-664667503-mmed.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="438" data-original-width="300" height="468" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBM7iAGsRu4F2VWtxqkxa-if4AhrSwVr6EUiXsTOrmXpKjfMzgKQJdS_eYW0vqeiW50dYnYotQ1lS3SvKJViCqCdKXR1Vi5wRKW-ZwA22OsBY0DuV5z0RPGfVg1bHwT3A5xTCUFVqHhSDBH75LBbZzO5lqNF_HVJ_ATBn6OoQRqGQ7ont7EY_sQ0NM4I/w321-h468/Conrad_in_Quest_of_His_Youth-664667503-mmed.jpg" width="321" /></a></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Dia 8, sábado, 14 de outubro </b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Outro programa duplo neste último dia da Giornate virtual, que coincide com o encerramento do evento físico: o longa alemão “Die Straẞe” (The Street, Karl Grune, 1923), e o longa norte-americano “Conrad in Quest of his Youth” (William C. de Mille, 1920), com acompanhamentos musicais, respectivamente, de Günter Buchwald e Neil Brand. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGiLYKU37NZtXTMFnGRhEBfKqNTl-Da2knXclSsTXxFBJw6TSPJd5Hp7LJ5CEY1n7KFu7Jfq5JxzebZuz89jAgVn5Jnhaxcm8XQkunMM25AQFal7lU31JSgVylk0JhVxd2Cz8zYUXyp82ll54LgjLGdFyM3kz8dFMmFZuV9P8VSu4QAVLGxYF8xFGDRto/s410/die%20strasse.png" style="font-family: georgia; font-weight: 700; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="298" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGiLYKU37NZtXTMFnGRhEBfKqNTl-Da2knXclSsTXxFBJw6TSPJd5Hp7LJ5CEY1n7KFu7Jfq5JxzebZuz89jAgVn5Jnhaxcm8XQkunMM25AQFal7lU31JSgVylk0JhVxd2Cz8zYUXyp82ll54LgjLGdFyM3kz8dFMmFZuV9P8VSu4QAVLGxYF8xFGDRto/w291-h400/die%20strasse.png" width="291" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Embora “Die Straẞe” gire em torno de uma porção de personagens, sua protagonista absoluta é, como aponta o título, a rua. A cidade é, no filme, o espaço do perigo, destaca Jay Weissberg na apresentação da obra, tanto que o filme constrói a cidade em estúdio numa perspectiva menor, de modo que os personagens se percam nela. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid23bgwLT_zxFIxiQpcyDWHHkbx6McP5dzcMqGTQJIBt9AmZGnr4QGXquXFANa7oWWyGjleNi0RXsVxq4gb95FWTkSUMSjO98-CkQDZpeQ4Wc388Fmip-hsw0NpKzUXHkCTc7TRyMxFVyFugrt3MQ7-xhOYht_XmDgRFWYmzebFltcuTIcJ7CjKURdAOg/s634/strase.png" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="532" data-original-width="634" height="336" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid23bgwLT_zxFIxiQpcyDWHHkbx6McP5dzcMqGTQJIBt9AmZGnr4QGXquXFANa7oWWyGjleNi0RXsVxq4gb95FWTkSUMSjO98-CkQDZpeQ4Wc388Fmip-hsw0NpKzUXHkCTc7TRyMxFVyFugrt3MQ7-xhOYht_XmDgRFWYmzebFltcuTIcJ7CjKURdAOg/w400-h336/strase.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Digno de nota também neste filme é o fato de ele flertar com as reflexões sobre o cinema como obra de arte <i>per se</i>, que prescinde os intertítulos – portanto, a literatura –, visando a contar as histórias unicamente a partir das imagens. Algumas obras desta seara resistiram ao tempo, a exemplo de “The last laugh” (F. W. Murnau, 1924), cuja drama gira em torno do drama psicológico do atendente de hotel que perde o emprego – e, consequentemente, o lugar social que vinha com a posição, embora modesta. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A exemplo da obra de Murnau, “Die Straẞe” concentra-se na visualidade, lançando mão de boas estratégias para conceber e potencializar o burburinho urbano, a exemplo da dupla-exposição, que concentra num mesmo plano um conjunto de signos da metrópole. Lembra as sinfonias metropolitanas que seriam rodadas no final desta mesma década, em que o âmbito visual ganhava primazia ao verbo, o que era um respiro nos estertores deste cinema de que nos ocupamos aqui, que de mudo não tinha nada. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3NusmIOZ4oS3Od9OJPAdfvrnbsL502vTE70Yr_cb_ROibapWmhcTftHoFBNn6DipIhA9kUbnZaDzA-sevKGdxSVADsDJ9czCA80fAG8If9i0vOOP0h1lVcjEPPjsdQeT5OtAfdjHjD1gJo-t3Ao1Qe1qGOskoJ8YmYp52Q0GSL55pHfN1XDOIyk3bwN4/s480/strase%202.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3NusmIOZ4oS3Od9OJPAdfvrnbsL502vTE70Yr_cb_ROibapWmhcTftHoFBNn6DipIhA9kUbnZaDzA-sevKGdxSVADsDJ9czCA80fAG8If9i0vOOP0h1lVcjEPPjsdQeT5OtAfdjHjD1gJo-t3Ao1Qe1qGOskoJ8YmYp52Q0GSL55pHfN1XDOIyk3bwN4/w400-h300/strase%202.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">O filme acompanha um dia da vida de um conjunto de indivíduos de classes populares: um par de escroques, uma prostituta, um velho cego e seu pequeno neto, um casal de meia-idade. O marido de meia-idade deixa a esposa para viver uma aventura extraconjugal, acabando na cadeia, enredado pelos escroques e pela prostituta, e quase comete suicídio – todavia, tão logo volta para casa vê a esposa repetir o gesto automático de servi-lo, sem emitir qualquer questionamento; um quiproquó faz o menininho denunciar o crime cometido pelo pai, salvando o inocente da prisão. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A obra segue o enquadramento do gênero melodramático, tipificando os personagens para facilitar a sua legibilidade pelo público tão letrado neste gênero – estratégia seguida por Murnau em “The last laugh”, aliás, e na qual ele atingiria a excelência no absolutamente maravilhoso “Aurora” (1927). Como nessas obras, “Die Straẞe” procura fazer emergir a psicologia dessas personagens típicas, atingindo interpretações filigranadas. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8U6N1qXttQfpZYnFpH4_x1xv1d4eLAjb6bUQzuwfH8TXro9N4G3nPcLqPygM_DuB40nXz31jqmnduWcEHISGBxQTLk9gSm9Lb_SwMgRKdRRVunf03E-d-0e7nHJ0a0SV1sK-hu165g-vjQOGCaSMrzKbXcpuHVtuNNoZ1qbmjGJNpE9NjYHzD3_dCqec/s638/Conrad%202.png" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="496" data-original-width="638" height="311" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8U6N1qXttQfpZYnFpH4_x1xv1d4eLAjb6bUQzuwfH8TXro9N4G3nPcLqPygM_DuB40nXz31jqmnduWcEHISGBxQTLk9gSm9Lb_SwMgRKdRRVunf03E-d-0e7nHJ0a0SV1sK-hu165g-vjQOGCaSMrzKbXcpuHVtuNNoZ1qbmjGJNpE9NjYHzD3_dCqec/w400-h311/Conrad%202.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">De cepa bem diferente, embora também beba da fonte do melodrama, é o ótimo “Conrad in Quest of his Youth”, dirigido pelo irmão do poderosíssimo Cecil B. de Mille. O Conrad do título é Thomas Meighan, que desempenha o papel do homem de cerca de quarenta anos que, voltando melancólico da guerra, vai em busca, como aponta o título da obra, da juventude perdida. O filme equilibra doses ideais de melancolia e humor. Encontrando no mausoléu em que habita o seu fiel mordomo, Conrad pergunta-se porque sobreviveu ao conflito, enquanto tantos amigos dele que tinham a quem voltar pereceram. Olhando-se numa fotografia da infância, em meio a um grupo de amigos, escreve-lhes nostalgicamente. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A carta vai dar nas mãos de um leitor assíduo de romances “alegres” e de duas matronas, uma delas riquíssima. Não obstante, todos topam a aventura de reviver <i>ipsis litteris </i>a infância despreocupada, o que se revelará, como o leitor bem pode imaginar, um tiro no pé – nossos verdes anos são deleitosos porque a gente os olha pelas lentes cor de rosa da memória: “Ser adulto é chato, mas ser criança é horrível.”, dirá o aficionado em romances alegres pouco antes de fugir da experiência de Conrad, o qual, ato contínuo, embarcará atrás de alguns romances da juventude, com resultados negativos análogos. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcpQLaN4mi8hRzjbH1FMC6kaAyVwXIUi4rgl-37B3n3DBM2rndwkkk-Tr9f3BvODy90ejG39ZbF5dXFRJWnBQGEDgaZ7zKLxT-u_6rGD4N1XuhIEa8l-WfGh1L93Asla8lPIVnSlhq2ZDd1ATBfIgoZYXX9Aut7AAG4A0oJbOShJwSwJTBCuRoiw4skIU/s1281/CONRAD1280x1080.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1281" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcpQLaN4mi8hRzjbH1FMC6kaAyVwXIUi4rgl-37B3n3DBM2rndwkkk-Tr9f3BvODy90ejG39ZbF5dXFRJWnBQGEDgaZ7zKLxT-u_6rGD4N1XuhIEa8l-WfGh1L93Asla8lPIVnSlhq2ZDd1ATBfIgoZYXX9Aut7AAG4A0oJbOShJwSwJTBCuRoiw4skIU/w400-h338/CONRAD1280x1080.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">A obra revelará que fórmula da juventude não se encontra na ressureição do passado, mas na fruição do presente. Conrad curiosamente descobrirá isso ao conhecer a mocinha da história, uma jovem que empreendia uma viagem parecida com a dele – atriz que se casara dentro da nobreza e, recém-viúva, engaja-se novamente na trupe em que ela atuava, por não suportar a melancolia. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Em meio aos longos intertítulos, “Conrad in Quest of his Youth” defenderá uma obviedade romanesca – independentemente da idade, o amor é o caminho para a juventude. A edição virtual da Giornate termina nesta visada agridoce ao passado, que permeia de nostalgia mesmo as sequências mais pragmáticas. É a nostalgia que me toma ao ouvir o acompanhamento musical da obra, que tão bem enlaça o drama ao riso. A música é de autoria de Neil Brand, o qual eu ouvi pela primeira vez na longuíssima e inolvidável exibição de “Les Misérables” (Henri Fescourt, 1925), na primeira vez em que estive em Pordenone, em 2015.</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-42098162051407754132023-10-17T10:00:00.001-03:002023-10-17T10:00:00.144-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 – Dia 7<div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVpJ2HMYGC3uUXOC05mU4WKA9mO0-WUpPJ1EFlKc6x59jVyrRdq_Y31av9PPdbRJKRD73KX_WKrCSh-6IoECKE8SNy-cDohmR3ILbC3YS3JQfi6XWDc3VcU0x8No3TIugl3mv9JrdceFLRsqfZG9hDJfy09zH1pPTeGtsw5FicmPGt98rCJGzjD9F67qg/s1080/Circe_the_Enchantress_poster.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="759" height="531" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVpJ2HMYGC3uUXOC05mU4WKA9mO0-WUpPJ1EFlKc6x59jVyrRdq_Y31av9PPdbRJKRD73KX_WKrCSh-6IoECKE8SNy-cDohmR3ILbC3YS3JQfi6XWDc3VcU0x8No3TIugl3mv9JrdceFLRsqfZG9hDJfy09zH1pPTeGtsw5FicmPGt98rCJGzjD9F67qg/w374-h531/Circe_the_Enchantress_poster.jpg" width="374" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div>Dia 7, sexta-feira, 13 de outubro </span></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O programa do sétimo dia da Giornate foi duplo, a exemplo do que ocorre aos finais de semana. A primeira obra exibida denomina-se “9 ½ (Film In 9.5mm, 1923-1960s)” e se trata de um compilado de filmes rodados com a câmera Pathé Baby ao redor do mundo, ao longo do escopo temporal anunciado no título. Já a segunda obra é “Circe the Enchantress” (Robert Z. Leonard, EUA, 1924), veículo da MGM à estrela Mae Murray. O acompanhamento musical de cada uma das obras ficou a cargo, respectivamente, do sexteto Ensemble Conservatorio G. B. Martini Bologna e de Donald Sosin. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUHguMpz8x1H2oWRbhgHNu0ngJOjvaHOwO1b1auoO1Aez8E2RLZsXXQMlXAVW9h6xVHDczAHFBfcWP9gi7w5DivADIVNUctoSYhKJRuMvI31wbKHiloufXlzhcPforoy6oIwChjDdub7kxFN4UInDAJRGsr0OAVENK48Qa04r06VD6iKVNlwssUGOV5Pc/s559/9%2012.png" imageanchor="1" style="font-family: georgia; font-weight: 700; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="557" data-original-width="559" height="399" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUHguMpz8x1H2oWRbhgHNu0ngJOjvaHOwO1b1auoO1Aez8E2RLZsXXQMlXAVW9h6xVHDczAHFBfcWP9gi7w5DivADIVNUctoSYhKJRuMvI31wbKHiloufXlzhcPforoy6oIwChjDdub7kxFN4UInDAJRGsr0OAVENK48Qa04r06VD6iKVNlwssUGOV5Pc/w400-h399/9%2012.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“9 ½...” continua os festejos em homenagem ao centenário da Pathé Baby, iniciados pela edição presencial da Giornate em 2022. O dispositivo de filmagem e projeção foi produzido pela Pathé a partir de 1922 tendo como objetivo os registros caseiros. Embora ainda fosse custosa, penetrava um público consumidor bastante mais amplo que os dispositivos anteriores – o escritor paulista António de Alcântara Machado denomina “Pathé Baby: Panoramas internacionais” a série de artigos que ele faz publicar, em 1925, no paulistano <i>Jornal do Comércio</i>, atinente à viagem que ele faz ao velho mundo. A pena do cronista torna-se uma câmera de cinema amador, a flagrar ágil os recortes de realidade que ele escolhe tomar. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8YMMbkFxylVv7OmA31pEhp8Fw06KKkmwKjuFrCKV0yetlFVTiXst2_NQlC6YsJWhNuHwMO6ziDFB_RILRJQc-XLwWgcGUJtwOrTnCDVQL0Xh5SaX77VwHuWBqLpkvZ7A4E_6WxQLSk84AaUdhoftCvc6D8TV7i-Jqov4xF8qqjxZZp9-JSLVrIN6VQmM/s1280/9-1-2_1280x1080.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8YMMbkFxylVv7OmA31pEhp8Fw06KKkmwKjuFrCKV0yetlFVTiXst2_NQlC6YsJWhNuHwMO6ziDFB_RILRJQc-XLwWgcGUJtwOrTnCDVQL0Xh5SaX77VwHuWBqLpkvZ7A4E_6WxQLSk84AaUdhoftCvc6D8TV7i-Jqov4xF8qqjxZZp9-JSLVrIN6VQmM/s320/9-1-2_1280x1080.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">A curadoria do programa fica a cargo de Anna Briggs, Michele Manzolini e Mirco Santi. É importante nomeá-los porque, ao optarem por recortar o filme segundo temas específicos e organizá-los de modo a dar relevo a alguns elementos em detrimento de outros, elaboram um novo filme, cujo valor artístico supera os filmetes muitas vezes familiares donde tais recortes saíram. A Pathé Baby forjou uma porção de sucedâneos dos irmãos Lumière, além de flagrar os primeiros passos de um conjunto de cineastas experimentais. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Se a cena colorida das duas jovens mães anônimas, com os bebês nos braços, a comerem cerejas na atmosfera primaveril, já encanta por si só, ela adquire transcendência ao dialogar com uma série de imagens familiares rodadas do Japão ao Canadá, ao Chile e ao Brasil (há mesmo um par de filmes familiares saídos da UFF-RJ). O filme é composto de três partes, conforme detalha o programa da Giornate – o qual, aliás, oferece informações detalhadas de cada uma das obras: <i>travelogues</i>, interações com seres amados e experimentos. O sexteto a quem coube o acompanhamento musical da obra compôs uma peça amorosa e idílica, provocando no público o mergulho sentimental ocorrido quando mergulhamos no baú de fotos de família. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqKImePYgfFQ_Hm5gxdoKbG_k2sxcv_SF5qt33qZkVptNF8knQ2QQ24efb2740QCrdN2BjCe9FSs4hmllGJCv5oSA9SGdIVji7vovVfy2a6IVD0Fjmt7xzeXR-DbaeSm-K1VnxY5xvCaRu63f1BetZ1V_mLE4MB7UA_zQVonwsjyNzZq8UG3ZdVHxCea0/s1280/CIRCE1280x1080.jpg" imageanchor="1" style="font-family: georgia; font-weight: 700; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqKImePYgfFQ_Hm5gxdoKbG_k2sxcv_SF5qt33qZkVptNF8knQ2QQ24efb2740QCrdN2BjCe9FSs4hmllGJCv5oSA9SGdIVji7vovVfy2a6IVD0Fjmt7xzeXR-DbaeSm-K1VnxY5xvCaRu63f1BetZ1V_mLE4MB7UA_zQVonwsjyNzZq8UG3ZdVHxCea0/w400-h338/CIRCE1280x1080.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Já a segunda obra do programa é, como sublinha Jay Weissberg, um achado. Julgada perdida, “Circe the Enchantress” (1924) foi encontrada num arquivo de Praga (numa versão que, embora incompleta, é bastante compreensível). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A obra é um veículo típico do estrelismo norte-americano, dando espaço para que a estrela desdobrasse ad nauseam o seu tipo artístico. Mae Murray, dançarina profissional além de atriz – ela fora estrela, entre outros, do Ziegfeld Follies –, é nele uma cria da idade do <i>jazz-band</i>, nada devendo à “Mademoiselle Cinema” talhada pela literatura do escritor brasileiro Benjamin Costallat um ano antes. A trama a associa a Circe, que na “Odisseia” é a filha do Sol, feiticeira que habita a ilha de Eana, transforma homens em porcos e enreda Ulisses na viagem de volta do herói depois da guerra de Troia. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Surpreende a remissão clássica que a obra constrói logo em seu prelúdio, no qual Murray torna-se a Circe da fábula, que com uma etérea túnica helenística transforma os homens em feras, depois de saciar-se deles – a produção literária e teatral desta época mostra que o público de então estava muito mais escolado na mitologia grega que o de hoje. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_IdokGpqUycdE6k8VuSLFB_9Ym3quiuE7T7Ce_lzlfxz2AXSmp3KwFW_3wv5KxU55H_A-9qP6uTKw4N4iQwI2UK1TAzez-Lrkjy8hsL03lXXF6evHDzgtRiz4Z5sIYRThL6W5zKlXcOawaZ4Ri9U-EmfvVYl_RgQAs7bU_JYAaV6g-XztlZVGFnnMIb0/s730/circe.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="562" data-original-width="730" height="308" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_IdokGpqUycdE6k8VuSLFB_9Ym3quiuE7T7Ce_lzlfxz2AXSmp3KwFW_3wv5KxU55H_A-9qP6uTKw4N4iQwI2UK1TAzez-Lrkjy8hsL03lXXF6evHDzgtRiz4Z5sIYRThL6W5zKlXcOawaZ4Ri9U-EmfvVYl_RgQAs7bU_JYAaV6g-XztlZVGFnnMIb0/w400-h308/circe.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Mae Murray, Sally Milgrim no filme, é uma descendente à altura de Circe. Loura platinada, de cabelos curtos, boca vermelha, joias caras e vestido colante, ela entretém um séquito de homens que, no geral, valem menos que os porcos de sua legendária ascendente – malgrados eles se vistam segundo a última moda das altas rodas norte-americanas. Um tipo destoa do conjunto, o Dr. Wesley Van Martun (o rígido e pouco encantador James Kirkwood), homem que encara com sobranceria os desatinos da jovem, desviando-se de seus encantos. É obviamente por ele que ela se apaixonará. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ao ser repudiada pelo médico, o público descobrirá o outro lado dela: a jovem tresloucada habitara quando menina um convento, para o qual retorna, depois de sumir das vistas de seus antigos convivas sem deixar rastos. Ali, sofre um atropelamento ao tentar salvar uma orfãzinha, sendo internada com o risco de tornar-se paraplégica. Sally refaz o périplo que cabe a todas as personagens transviadas que pleiteiam a salvação. A essas alturas, o Dr. Wesley encontrara o diário da moça e descobre o seu paradeiro. Ao vê-lo, ela caminha em sua direção – cambaleante, porém a caminho da cura. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHWBn7F_o-ZNs1EIBqtRb8BK6a_dGw_RMPhTlhCKt7bhwuqmXDNYxVwdXocFJAGeF6yOg5t89w74G8RO4tXY0f3HuT8xOXFXSrM5QliampghVX_iW2DLDCpFAIuuG6MiK8WUXH378IkY4C8sEvJqnKBT0iEdrra7CNoHat55eb09vcBC1ebteX8YxG6Wo/s486/circe%202.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="388" data-original-width="486" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHWBn7F_o-ZNs1EIBqtRb8BK6a_dGw_RMPhTlhCKt7bhwuqmXDNYxVwdXocFJAGeF6yOg5t89w74G8RO4tXY0f3HuT8xOXFXSrM5QliampghVX_iW2DLDCpFAIuuG6MiK8WUXH378IkY4C8sEvJqnKBT0iEdrra7CNoHat55eb09vcBC1ebteX8YxG6Wo/w400-h319/circe%202.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Se o entrecho é mesquinho, como o leitor se deu conta, a realização é digna de nota. A montagem do filme alterna um ritmo sincopado bastante tributário do <i>jazz</i>, usado em sua primeira parte, com uma lassidão melancólica, nas cenas em que a jovem deixa o frenesi e ruma ao reencontro com a infância. A música de Donald Sosin mimetiza com inteligência esta ambivalência: é a princípio jazzística, entregando-se, na metade final da obra, ao idílio. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">No que concerne à temática, é igualmente digna de nota a fauna humana que circunda Sally, que faz emergir de modo modelar a loucura dos roaring twenties – a qual o cinema ajudou a construir. Destaque-se a banda de <i>jazz </i>(nessas alturas o piano de Sosin dá lugar à composição de um ensemble, que recupera o frenesi das <i>jazz-bands </i>da época) e o homem que, em <i>travesti</i>, anuncia-se como “a fada madrinha que vai realizar todos os desejos” da protagonista – ele não consegue; a salvação da mocinha estava na volta a um (aborrecido) passado livre de tentações.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-51648566630440528262023-10-16T09:35:00.002-03:002023-10-21T09:54:14.350-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 – Dia 6<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdEk7NucYLqBBFkgrJSxrg4o97mFuUeLqIj-a8wn54rkYRLNDl4nYHkofpXSruRJZeMaAJ6yb5TRX6UaP4o-xLgYahYwv2myL2E964Z812vkNV6vjji5M6QYpc4JwghQbab45VZEjgkI1y4glFCuvExZdAVlVXwOaEEFbeDZ0W_PkGWX-ccTOe-lUGGdc/s550/Eine%20Frau%201.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="550" data-original-width="363" height="530" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdEk7NucYLqBBFkgrJSxrg4o97mFuUeLqIj-a8wn54rkYRLNDl4nYHkofpXSruRJZeMaAJ6yb5TRX6UaP4o-xLgYahYwv2myL2E964Z812vkNV6vjji5M6QYpc4JwghQbab45VZEjgkI1y4glFCuvExZdAVlVXwOaEEFbeDZ0W_PkGWX-ccTOe-lUGGdc/w349-h530/Eine%20Frau%201.png" width="349" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b style="text-align: justify;">Dia 6, quinta-feira, 12 de outubro </b></div></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Nos últimos anos a Giornate vem homenageando a “Ruritania”, referência ao reino fictício da Europa central que foi palco do romance “O Prisioneiro de Zenda”. Esta fábula pariu outros tantos reinados igualmente fantasiosos dali por diante (curiosos, busquem pela palavra-chave neste blog para acessarem os demais textos a respeito dos filmes exibidos na Mostra com esta temática), a exemplo do principado de Silistria, onde se passa a história do longa alemão “Eine Frau Von Format” (“A Lady of Quality”, Fritz Wendhausen, 1928). Antes do longa foi exibido o curta francês “Ankunft Des Fürsten Wilhelm I. Zu Wied In Durazzo (Albanien) März” (1914), tematizando a família real dos Balcãs, espaço geográfico no qual se situam os filmes da “Ruritania” – daí o caminho de mão-dupla entre a ficção e a história que esses programas da Giornate procura estabelecer. A música ficou a cargo de Elaine Loebenstein. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“Ankunft Des Fürsten Wilhelm I…” é composto por algumas tomadas da chegada do príncipe Wilhelm I na Albânia que não surpreendem pela criatividade, quando consideramos os filmes do tipo rodados então: a câmera toma verticalmente uma fileira de oficiais que esperam o príncipe para cumprimentá-lo, reverenciando-o quando ele se aproxima, etc. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggys0HEjrLDjYPWzdJi2HPaMZk8qT5R3iqKM35986ypQz4iQ8zdm2MDSzKH45Ha64-FFyZ-geOOAaIu0f3-PM2aqtIlX3Ed0GStcBlNu5QLXBs2uQxUuEhWsuXxgytW3Vpi1UT782supPzIZE1fpxIZsDJQfKHw3k2F9i-qu2KO5v1Oy_M-RTt2oqLL6o/s478/eine%20frau%203.png" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="339" data-original-width="478" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggys0HEjrLDjYPWzdJi2HPaMZk8qT5R3iqKM35986ypQz4iQ8zdm2MDSzKH45Ha64-FFyZ-geOOAaIu0f3-PM2aqtIlX3Ed0GStcBlNu5QLXBs2uQxUuEhWsuXxgytW3Vpi1UT782supPzIZE1fpxIZsDJQfKHw3k2F9i-qu2KO5v1Oy_M-RTt2oqLL6o/w400-h284/eine%20frau%203.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">A ele seguiu-se a obra principal do programa, “Eine Frau Von Format”, que apresenta outro desses raros exemplos de sororidade no cinema dos anos de 1920, a respeito do que falei ao resenhar “Rivalen”, dois dias atrás. A trama é oriunda da opereta homônima de Michael Krasznay-Krausz, que estreou em Berlim em fins de 1927. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"> A dama do título é Dschillu Zileh Beu (uma encantadora Mady Christians), embaixatriz da Turquísia, a qual disputará uma ilha nas imediações de Silistria – que a princesa Petra (Diana Karenne) venderá para que possa renovar o seu guarda-roupa (“Você quer que eu ande nua”, ela questiona candidamente o seu ajudante de ordens quando anuncia-lhe a venda) – com o Conde Gézza von Tököly, o embaixador de Illyria. Malgrado o filme tenha início com a panorâmica de um mapa detalhando a localização de todos esses países, todos eles são ficcionais. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuieG8ac_gb7qpAdAr6MP0Zc_txKMLfz9Ppo7wiRFR7jUlEWhrOgA1YjC6zNH9S-DwmTmTwcYCs80-z9HOPUhyphenhyphen9dm_WsL8Li0L6ZLkgJBNSm7Lw_WC7Mw0-nRuCTKFtLjqJn6ZJiX8FGK7pmO9cuoVX_Rhi9DMIUcS61zYyHrSt7u3pQJgHFzRCpMjl1o/s475/eine%20frau%204.png" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="475" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuieG8ac_gb7qpAdAr6MP0Zc_txKMLfz9Ppo7wiRFR7jUlEWhrOgA1YjC6zNH9S-DwmTmTwcYCs80-z9HOPUhyphenhyphen9dm_WsL8Li0L6ZLkgJBNSm7Lw_WC7Mw0-nRuCTKFtLjqJn6ZJiX8FGK7pmO9cuoVX_Rhi9DMIUcS61zYyHrSt7u3pQJgHFzRCpMjl1o/w400-h283/eine%20frau%204.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">A trama é repleta de quiproquós. Chega primeiro a Silistria o conde Gézza, de peito estufado, testa larga e bastos bigodes – o clássico tipo galanteador. Sua diplomacia se baseará em seus atributos físicos, o público logo verá. Ao descobrir que a princesa é uma jovem espevitada da idade do <i>jazz-band</i>, procurará conquistá-la a todo custo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Todavia, o conde não conta com a chegada à cidade de uma oponente à altura – aliás, superior a ele –, Dschillu Zileh Beu. Mulher moderna, que chega ao reinado sozinha e de carro, hospedando-se sem-cerimônia num pardieiro local. “<u>Eu</u> sou a diplomata”, ela diz ao ajudante de ordens da rainha quando ele lhe pergunta pelo marido dela. O filme flerta com a onda feminista que então chegava às costas da Europa e das Américas – flerta mas lamentavelmente não a desposa, já que a jovem terminará apaixonada pelo conde galante e decidida a largar o ofício, ensinando-o, todavia, a se transformar num diplomata tão aparatado quanto ela. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJk4Ab8mfbEnT4AAuxJUQck_kmY2ZQszLJlzojF2C891VunNYXuZSil2LQG76cBu65uZILBNn1GvdzYD5yYk-DtNYaHiHTAbZGK4jtnW7q_ca-xm86qrihKK0ws5ztOkpsTcP5fYIAam8bgkLx416aTHXRNZ-Iwml7qJWrrLTWpK9ZIpH51bqOlhhix-4/s300/Eine%20Frau%202.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="157" data-original-width="300" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJk4Ab8mfbEnT4AAuxJUQck_kmY2ZQszLJlzojF2C891VunNYXuZSil2LQG76cBu65uZILBNn1GvdzYD5yYk-DtNYaHiHTAbZGK4jtnW7q_ca-xm86qrihKK0ws5ztOkpsTcP5fYIAam8bgkLx416aTHXRNZ-Iwml7qJWrrLTWpK9ZIpH51bqOlhhix-4/w400-h209/Eine%20Frau%202.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">No entanto, antes do desfecho temos a chance de observar o mais bem-humorado toma-lá-dá-cá entre os dois diplomatas, em que há mesmo uma notável cena em travesti, colocando em primeiro plano a fluidez entre os gêneros sociais, coisa que os figurinos e os cortes de cabelo da época já principiavam a fazer: procurando atrapalhar o conde na conquista da princesa, Dschillu, que já tem os cabelos cortados <i>à la garçon</i>, finge-se de camareiro do conde durante um jantar que ele oferece à jovem. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Antes de Dschillu trocar a carreira pelo casamento, caberá a ela conquistar a ilha em disputa, não sem antes salvar Petra, fingindo aos presentes que a echarpe que a princesa incautamente esquecera na residência do Casanova de Illyria não pertencia mais a ela, mas sim fora um presente dela a Dschillu, a futura esposa do rapaz. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Para além do entrecho interessante, o filme encanta pelas externas tomadas em Dubrovnik, na deslumbrante costa da Dalmácia.</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-37951075840491523892023-10-15T10:19:00.001-03:002023-10-15T10:20:28.074-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 – Dia 5<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiruqAmclasPQb_VltRNcYlrZAzz6K84m9RQ9Scfx015oYQErHysl9mu8D1MGeH4yHZG53Ku7jH9W4LQEFhiwFT-5Wkt2td4UQBCw_CaiKBmSoCG4mVjodkOnqlTdR2ko9G5-Nid-6PTUB2hUiJDzTbjONy2jnaDW6v4tPOcV-buPCxEoTGpfhOm02Fh98/s1280/CATALUNYA1280x1080.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="407" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiruqAmclasPQb_VltRNcYlrZAzz6K84m9RQ9Scfx015oYQErHysl9mu8D1MGeH4yHZG53Ku7jH9W4LQEFhiwFT-5Wkt2td4UQBCw_CaiKBmSoCG4mVjodkOnqlTdR2ko9G5-Nid-6PTUB2hUiJDzTbjONy2jnaDW6v4tPOcV-buPCxEoTGpfhOm02Fh98/w482-h407/CATALUNYA1280x1080.jpg" width="482" /></a></b></span></div><span style="font-family: georgia;"><b><br />Dia 5, quarta-feira, 11 de outubro </b></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Chegamos na metade da Giornate. O programa do dia (com cerca de 50’ de duração) é composto pela exibição de um conjunto de filmes britânicos preservados pela Filmoteca da Catalunha nos primeiros quinze anos da cinematografia: “Early British films from the Filmoteca di Catalunya, 1897-1909”. O acompanhamento musical é de John Sweeney. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Estamos aqui diante de um <i>medium </i>que se descobria e explorava todas as suas inúmeras potencialidades; na égide do “cinema de atrações”, que tanto fascínio despertou desde o público frequentador dos entretenimentos disponíveis nos maiores ou menores centros urbanos, até uma variada sorte de literatos do redor do mundo. Num diapasão dramático, em 1896, o escritor soviético Maxim Gorky refere-se a este cinema como o reino das sombras, lugar sem som e sem cor, habitado por espectros silenciosos e moventes (trecho mais longo desta bela crônica encontra-se <a href="https://books.google.com.br/books?id=Tf8-rAOSI8QC&pg=PA72&lpg=PA72&dq=%22Last+night+I+was+in+the+kingdom+of+the+shadows%22&source=bl&ots=b7XxWmJW3l&sig=ACfU3U0z3Tr80qk0lz7IdKU-v4SJtFrb1g&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwi_spPM3_aBAxVvrZUCHUgjDG0Q6AF6BAgWEAM#v=onepage&q=%22Last%20night%20I%20was%20in%20the%20kingdom%20of%20the%20shadows%22&f=false">aqui</a>). </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Um ano mais tarde, o cronista carioca Figueiredo Coimbra apreende este mundo com mais deleite. </span><span style="font-family: georgia;">Encenando uma conversa de um jovem casal que assiste a uma sessão do “Animatógrafo Super Lumière”, no centro da cidade, ele procura destacar pelo viés do humor o que faltaria a este novo entretenimento: </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">— Viste bem essa rua de Londres? </span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">— Vi!... É uma fotografia. Mas notei pouca animação, apesar das carruagens. </span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">— Havia mais povo do outro lado. </span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">— Que lado? </span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">— O lado que se não via. </span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">— Eu tinha desejo de ir lá, quando de repente a rua acabou. </span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">— Foi um relâmpago, mas bastou, filhinha, para se poder calcular o que é Londres. Uma grande cidade, uma cidade enorme...*</span></p></blockquote></blockquote><p><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"></span></p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrWkjBFxd_nhs6Sq1w_na6-9znM_Q0SDUeM9YOX_4Xire7xokqXh83i5RM4wcELriw3s9pXZ22SI8B9NwO_h_zg1_A4Nqg8cAwF6h1bnNqluQWDM9PjBPKiHm7tXKaBev9TrSzYA0PgZKrYGqj0mw-f_yWjJXKZgQShJja75-FUikJy9yAAACeEeLB3bY/s483/Super%20lumiere.png" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="483" data-original-width="237" height="547" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrWkjBFxd_nhs6Sq1w_na6-9znM_Q0SDUeM9YOX_4Xire7xokqXh83i5RM4wcELriw3s9pXZ22SI8B9NwO_h_zg1_A4Nqg8cAwF6h1bnNqluQWDM9PjBPKiHm7tXKaBev9TrSzYA0PgZKrYGqj0mw-f_yWjJXKZgQShJja75-FUikJy9yAAACeEeLB3bY/w268-h547/Super%20lumiere.png" width="268" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #b45f06; font-size: x-small;"><b>Animatógrafo Super-Lumière, <br />A Notícia. Rio de Janeiro, <br />p. 4, 11-12 dez. 1897.<br /></b></span><br /></span></td></tr></tbody></table><span style="font-family: georgia;"><br /><div style="text-align: justify;">O casal comenta os filmes procurando dar um sentido para aquilo que lhes falta. Falamos aqui de filmes curtos, com cerca de um minuto de duração. Muitos deles tratam-se de cenas tomadas do natural, em que a câmera flagra um acontecimento que principia antes de o registro começar, e termina quando o registro já se findou. </div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ao meter-se no meio dos acontecimentos, o este cinema recupera uma premência que é aquela da modernidade. Mais que isso, mostra que, embora seja um espetáculo que se venda muitas vezes dentro dos recintos teatrais, supera o teatro, ao sinalizar ao público a existência de um fora de campo. O cinema apontava para a existência daquilo que não podia ser visto. O objeto que fugia das vistas do público denotava a dimensão do mundo de modo muito mais contundente do que o teatro fizera até então. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Os primeiros anos da década de 1890 viram o nascimento de experimentos voltados a dar moção à imagem fotográfica, dentre os quais se incluem o Kinetoscópio de Thomas Edison e o Cinematógrafo dos Irmãos Lumière. O inventor inglês Robert W. Paul é outro desses homens. Seu “Animatógrafo” percorreu o mundo – embora o dispositivo comentado por Figueiredo Coimbra em 1897 denomine-se “Animatógrafo Super-Lumière”, provavelmente tratava-se de um exemplar do aparelho concebido por Paul. </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz7PN8HJOjxfhbewx3PrcliIp91c7x_Z4ldC1AwMZLDli-1jIwgeVa-gXuVoEJ_Hzop-5x9JbK0KdmYSIJYm3ho0wM2x3ppyP2uHsgZnWk7zYDrefIQOKg5NPxlKrxcLnEcUNU-hJ_z8uvPDYLSqB_-JgazbT_GD5VmnELmZfyvPH7dq9F5oL7H1e0uVc/s728/catalunha%202.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="515" data-original-width="728" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz7PN8HJOjxfhbewx3PrcliIp91c7x_Z4ldC1AwMZLDli-1jIwgeVa-gXuVoEJ_Hzop-5x9JbK0KdmYSIJYm3ho0wM2x3ppyP2uHsgZnWk7zYDrefIQOKg5NPxlKrxcLnEcUNU-hJ_z8uvPDYLSqB_-JgazbT_GD5VmnELmZfyvPH7dq9F5oL7H1e0uVc/w400-h283/catalunha%202.png" width="400" /></span></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O escopo temático dos registros de Paul assemelhava-se bastante àqueles colhidos pelos irmãos Lumière, mais conhecidos do público, e sinalizavam, como apontei acima, para uma série de caminhos: <i>sketches </i>cômicas, trucagens, <i>phantom rides </i>– cenas tomadas da frente dos veículos, que furavam o burburinho urbano –, desfiles e demais acontecimentos do dia a dia, panorâmicas de sítios históricos (a exemplo de Veneza) ou, ainda, de longas travessias de trem, a tomarem o cinema como o veículo de uma viagem sem sair do lugar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">* </span><span style="font-family: georgia;">Fonte: F. C. (pseud. de Figueiredo Coimbra). Diálogos. <i>A Notícia</i>, Rio de Janeiro, p. 1, 11-12 dez. 1897.</span><span style="font-family: georgia;"> </span></p>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-43761006309414786252023-10-14T09:24:00.001-03:002023-10-21T09:53:41.562-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 – Dia 4<p style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;"></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYSlb7MF7DJVEXpsiGGQlfwRdj_I3Zp4RcMiQOJEvU6leQTl6jYoUJ5wo7q15JCeXsis6Mt3HJfHOW2R_aNezylWxdlJFvUyyDk_nPobKrn5wQ2elMGZ5RmiSqy_SmJG4b9M4_H82mBG7XNPSIDqDsCob86PM0kow-Ls2AHPoJ_xsF33XAVrrlqN1U23Q/s426/Rivalen%203.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="302" data-original-width="426" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYSlb7MF7DJVEXpsiGGQlfwRdj_I3Zp4RcMiQOJEvU6leQTl6jYoUJ5wo7q15JCeXsis6Mt3HJfHOW2R_aNezylWxdlJFvUyyDk_nPobKrn5wQ2elMGZ5RmiSqy_SmJG4b9M4_H82mBG7XNPSIDqDsCob86PM0kow-Ls2AHPoJ_xsF33XAVrrlqN1U23Q/w400-h284/Rivalen%203.png" width="400" /></a></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-family: georgia;"><br /></span></b></div><b><span style="font-family: georgia;">Dia 4, terça, 10 de outubro </span></b><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O programa do quarto dia da Giornate é exclusivamente por “Rivalen” (“The Miracle of Tomorrow”, Harry Piel, 1923), com acompanhamento musical de Gabriel Thibaudeau. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Segure-se, público, para conhecer Harry Piel agora de corpo e espírito, já que ele não apenas dirige, mas protagoniza o estonteante longa alemão “Rivalen”, segundo de uma trilogia. Aqui, as aventuras das duas primeiras obras apresentadas no primeiro programa voltado ao artista, dois dias atrás, multiplicam-se e ganham estofo simbólico. </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAhyphenhyphenZaqL0Fwq1wy_bMmb9V-lh-OaZokLg_iWHnvGO1oA91tds9ig94yEyl5r5FpTj-AUQyXSpNcr0EzVjbOiuwCMYUypoGdcniR035DHNjjO0QnclHbFswLQGz8ZLJFDdK7SdgNhNJ1QzPHKQce__jiu4aC8wr9G5YFFMEngeqBXnWe8AW-aURA_TOCP0/s428/Rivalen%202.png" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="301" data-original-width="428" height="281" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAhyphenhyphenZaqL0Fwq1wy_bMmb9V-lh-OaZokLg_iWHnvGO1oA91tds9ig94yEyl5r5FpTj-AUQyXSpNcr0EzVjbOiuwCMYUypoGdcniR035DHNjjO0QnclHbFswLQGz8ZLJFDdK7SdgNhNJ1QzPHKQce__jiu4aC8wr9G5YFFMEngeqBXnWe8AW-aURA_TOCP0/w400-h281/Rivalen%202.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Os contornos da trama são enformados pelo gênero filme de aventura. Aqui, no entanto, o entrecho romântico ganha urgência. Piel mal esconde a associação entre a sua persona cinematográfica e o personagem que desempenha: ele faz o papel de si mesmo, do homem belo, forte e esbelto por quem a arfante jovenzinha Evelyn Evans (Inge Helgard) apaixona-se perdidamente. O pai dela é contra o relacionamento, considerá-lo (vejam-se as semelhanças com “The adventure of a journalist”) um desocupado. Ela, no entanto, o faz entrar furtivamente num baile à fantasia que organizava na residência da família. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O baile, no qual o filme se centra, é antológico. Um grande salão tem esculpida em seu fundo uma criatura das trevas cujos olhos são duas janelas, e cujas pálpebras são toldos que se abrem e fecham à medida que seus frequentadores querem privacidade. Pelo salão desfilarão convivas vestidos de diabos e demais seres sombrios. Um frenesi preside a filmagem do baile, desde a chegada dos convidados até a entrada de Piel e do </span><span style="font-family: georgia;">“</span><span style="font-family: georgia;">Rival</span><span style="font-family: georgia;">”</span><span style="font-family: georgia;"> do título: cientista inescrupuloso que tenta de tudo para se casar com Evelyn. Um </span><i style="font-family: georgia;">crescendo </i><span style="font-family: georgia;">dramático sucede-se ao deboche inicial, quando o lugar se assemelhava a uma sucursal da Babilônia. </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEFgK4OJt1Cb-GgTsLtJ5sHtlTESoAODZdKGUrM1jrqbSjSZdIq0uq5eV95Z821begccT1tkkv9nef6TDuLQC3GnqDwy06-kZU6QzVvqyV-j-yoUpr1qC5065DwNoc5o9xlqZPI5BsPCj4ATh28KrLYH1MTEMJeOOJWSAPsAeLCo3qNSwm7mWu4c8mSZE/s4000/Rivalen%201.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3000" data-original-width="4000" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEFgK4OJt1Cb-GgTsLtJ5sHtlTESoAODZdKGUrM1jrqbSjSZdIq0uq5eV95Z821begccT1tkkv9nef6TDuLQC3GnqDwy06-kZU6QzVvqyV-j-yoUpr1qC5065DwNoc5o9xlqZPI5BsPCj4ATh28KrLYH1MTEMJeOOJWSAPsAeLCo3qNSwm7mWu4c8mSZE/w400-h300/Rivalen%201.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">A ânsia recupera o epíteto de “anos loucos” atribuídos aos anos de 1920. Pouco depois de Piel exibir seus dotes acrobáticos e pedir a mocinha em casamento, um robô – o primeiro jamais presente num longa-metragem, segundo Jay Weissberg, diretor da Giornate – adentrará pela bocarra da criatura esculpida nos fundos do salão de festas e submeterá o pai da mocinha. Neste meio tempo, um dos pouquíssimos exemplos de sororidade que jamais vi no cinema desta época aparece na pele de Julieta Carnera (Maria Wefers), amante do “Rival”, que principia adentrando a festa para persegui-lo e acaba ajudando Evelyn a se safar. O nome e o tipo hispânico da jovem são mimetizados, pelo compositor Gabriel Thibaudeau, por um tango, no primeiro momento em que ela surge em cena, num trem, no princípio da obra – esse contorno meio étnico, meio cômico presidirá as suas entradas, que tanto darão leveza à história quanto sublinharão o caráter assertivo da jovem. </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwjRhoMEIwE3MnsiUKfyg5jki0hnsRfSnktrsxoEYWKXd2gxQJ-0nnDVnlko6dk9XvPyD5iwN5RS3pbUQK1jHga9sFimJYu-cond2VNRVx-JyMyOjW10SJ7WrilbSpE8_fTi86UmunAd8SOq4PU70eAY2dLzXeYnfuf4hf-JP6aNdN80lBIIa_E3C-Uz8/s1000/Rivalen%204.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="647" data-original-width="1000" height="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwjRhoMEIwE3MnsiUKfyg5jki0hnsRfSnktrsxoEYWKXd2gxQJ-0nnDVnlko6dk9XvPyD5iwN5RS3pbUQK1jHga9sFimJYu-cond2VNRVx-JyMyOjW10SJ7WrilbSpE8_fTi86UmunAd8SOq4PU70eAY2dLzXeYnfuf4hf-JP6aNdN80lBIIa_E3C-Uz8/w400-h259/Rivalen%204.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Julieta troca de lugar com Evelyn, e é sequestrada pelo próprio amante. Sem se dar conta da troca, Piel segue-os. Os signos da técnica, que visitaram os filmes rodados por ele uma década antes, multiplicam-se aqui, dentre os quais a cápsula de vidro onde ele ficará preso pelos criminosos, a qual será mergulhada no mar (a cena em que os comparsas do vilão param de bombear oxigênio para dentro da cápsula, e o ar vai rareando, são efetivamente agônicas). </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"> Nessas alturas, Evelyn já viera de descobrir o destino do amado, e já aceitara casar-se com o “Rival” para salvá-lo. Uma montagem paralela ilustra, de um lado, o esforço de Piel para resgatá-la, depois de se desvencilhar da arapuca, e do outro, o sofrimento dela pelo destino que a esperava. Há um equilíbrio muito bom, aqui, entre a ânsia e o sofrimento, os fortes e os pianos, que se alternam para um final surpreendentemente infeliz, considerando-se a cinematografia da época e especialmente este gênero de filmes: Piel chega a salvar a jovem, mas não impede o casamento – o desfecho da história o público, já então cativado pelas personagens, não conhecerá, já que ele se desenrolará apenas na terceira e última obra da trilogia.</span></p>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-74970979047298014512023-10-13T09:25:00.003-03:002023-10-13T18:30:52.478-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 – Dia 3<p style="text-align: justify;"><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRRSOgCGnFXSdhyvpHUm0MJ3RJWrjOKuUAYUJB43cSOkA1JKDN8DmKFeXd8sOW9gNTWrwYGoBJXbH4Dl4Dc7FrCtg01EsFGFyTOqjo-GScqBDiTzqslTV55t51FIlijQIgH6zzavw5bF1SEWk-nfmkJ20UI1cJnXGvxAD83SzVfcLK2W9loxG2Z8u5vQw/s710/leda%20gys.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="710" data-original-width="600" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRRSOgCGnFXSdhyvpHUm0MJ3RJWrjOKuUAYUJB43cSOkA1JKDN8DmKFeXd8sOW9gNTWrwYGoBJXbH4Dl4Dc7FrCtg01EsFGFyTOqjo-GScqBDiTzqslTV55t51FIlijQIgH6zzavw5bF1SEWk-nfmkJ20UI1cJnXGvxAD83SzVfcLK2W9loxG2Z8u5vQw/w338-h400/leda%20gys.jpg" width="338" /></a></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></b></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Dia 3, segunda, 9 de outubro </span></b></b></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Os programas nos dias de semana, na versão online da Giornate, são únicos. O exibido neste terceiro dia do evento é composto por “La Madre” (Giuseppe Sterni, IT, 1917), com pouco menos de uma hora de duração. Precedem-no uma joia rara, o trecho de “La vita e la morte” (Mario Caserini, IT, 1917), protagonizado pela diva italiana Leda Gys, e pelo curta promocional “Italia Vitaliani visita il regista Giuseppe Sterni per discutere del suo ruolo in la madre” (IT, 1917). O acompanhamento musical é de Stephen Horne. </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwcJX-Rfyz4UpIgEAxGkoHTOPtG0bzzeT_SlahcI1b9Qfx5G7_7ZHDbpX2dKB_xMpic5TyfcJoHuCew5-_83DS5HfsqQTB6ouAEDG9D7zNP3_IWArIzaA9DZBfiIS92Nqb36X7xh9FmC4lIOo6bhlWfAqinjvS71dfKW60dRxSBFM-rz-rsjzWFhyphenhyphenrzBQ/s529/la%20vita%20e%20la%20morte.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="398" data-original-width="529" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwcJX-Rfyz4UpIgEAxGkoHTOPtG0bzzeT_SlahcI1b9Qfx5G7_7ZHDbpX2dKB_xMpic5TyfcJoHuCew5-_83DS5HfsqQTB6ouAEDG9D7zNP3_IWArIzaA9DZBfiIS92Nqb36X7xh9FmC4lIOo6bhlWfAqinjvS71dfKW60dRxSBFM-rz-rsjzWFhyphenhyphenrzBQ/s320/la%20vita%20e%20la%20morte.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">A primeira obra do programa é o que sobrou de “La vita e la morte”. Sempre que flagro esses pedaços de passado que se salvaram da ruína vem-me à boca um gosto agridoce. Este é um clássico filme de diva daquela época. Gys é a etérea Leda de Belleville, dama que, casada com um magistrado, vive um <i>affair </i>com outro homem. Ao ir encontrá-lo, durante uma viagem de barco, ela acidenta-se. É colhida por um casal de pescadores inescrupulosos, que se aproveitam do fato de ela ter ficado desmemoriada. Nessas alturas, o piano plangente de Stephen Horne é substituído pela gaita e pela flauta, que dão sabor popular e bucólico às cenas no reduto dos pescadores. </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK1QR5p2zc5y_yBTH3C2q3tbVPUOBYl-ITFw82TcwgWToCEIF9g-DMUOSzS2y0qwNBCNvKzwD2W6vGM6o_BhAKlzc9Jwk-QylWxZ4vggS6X73w12vRVDMWizz8PgDkuRu6hYG5nUF_kKkoeZYjvsqR9dvkn3KPD-hajQCu4VXQqufiertdsenzt-axDJI/s761/la%20vita%20e%20la%20morte%202.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="574" data-original-width="761" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK1QR5p2zc5y_yBTH3C2q3tbVPUOBYl-ITFw82TcwgWToCEIF9g-DMUOSzS2y0qwNBCNvKzwD2W6vGM6o_BhAKlzc9Jwk-QylWxZ4vggS6X73w12vRVDMWizz8PgDkuRu6hYG5nUF_kKkoeZYjvsqR9dvkn3KPD-hajQCu4VXQqufiertdsenzt-axDJI/w320-h241/la%20vita%20e%20la%20morte%202.png" width="320" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Neste meio tempo, o marido, que sofre, descobre a traição. A mulher deixa uma filha pequenina, que dolorosamente vai deitar flores no túmulo da mãe, o oceano. O programa da Giornate narra o que se perdeu da obra: a dama envolve-se nas atividades criminosas do casal que a resgata, fato que o marido descobre ao presidir o júri no julgamento do grupo – literalmente morrendo de susto ao se dar conta de que a mulher que ele julgava morta ainda vivia. Um enredo escalafobético que, como tantos daqueles tempos, vale menos pelo que conta do que pela forma como constrói essas personas que são maiores que a vida. A obra está preservada pelo Eye Filmmuseum, onde também se encontram as demais do programa. </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrhKKZP61j97TxbG4oOIoNlGyzn4iBGoLXrlx3JNwa47caTQydEbm9BJS8bp8ABikua31dPcRMXSgwqByx5gq5yo7G-kqTUi8qx3P2-EfTRTlVdPcQipyuA8o86WXzBW2JPlMqXGBebCTwFhyjFQNH5DIcND11IyWEkjaFYv_4Sf3lnf7tOy8qa-6cOTg/s319/la%20madre%202.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="254" data-original-width="319" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrhKKZP61j97TxbG4oOIoNlGyzn4iBGoLXrlx3JNwa47caTQydEbm9BJS8bp8ABikua31dPcRMXSgwqByx5gq5yo7G-kqTUi8qx3P2-EfTRTlVdPcQipyuA8o86WXzBW2JPlMqXGBebCTwFhyjFQNH5DIcND11IyWEkjaFYv_4Sf3lnf7tOy8qa-6cOTg/s1600/la%20madre%202.png" width="319" /></a><span style="font-family: georgia;">O próximo filme, cuja tradução literal livre é “Italia Vitaliani visita o diretor Giuseppe Sterni para discutir seu papel em La Madre, faz jus ao título; é uma peça de divulgação do filme. Apesar de procurar se vender como um filme de atualidade, não engana que é posado – Vitaliani, a protagonista de “La Madre”, abre a cortina teatral que vai dar na sala do diretor, cuja cadeira está colocada num conveniente enquadramento frontal. Ela faz volteios e senta-se dramaticamente enquanto Sterni supostamente lhe apresenta o papel que ela desempenhará. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A canastrice do conjunto mal nos prepara para “La Madre”, em que Vitaliani deixa clara a sua estirpe: ela era prima de Eleonora Duse, atriz teatral idolatrada por um dramaturgo exigente como George Bernard Shaw pela naturalidade que imprimia ao repertório (sobretudo realista) que representava.
Como Duse (que para o cinema lamentavelmente apenas fez um filme, “Cenere”, de 1916), Vitaliani é adepta dessa aproximação despida e moderna aos papéis que representa. Nesta obra, ela, que então contava com cerca de 50 anos, não se incomoda de se parecer 20 anos mais velha para representar o papel-título. Ela é a mãe do pintor Emanuele (Giuseppe Sterne, também o diretor da obra). </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhokRQjDSJfmIlP9t2Wzf3evE2wuq6-I2OLOEpq6tkp-Ch0sic6j2ubAYUgjCTDKCcrIcMYe2F_Go4rxSkFEBOM6yH98YM8M0xJLQEphCF1ItER-eT2ZWuVhA6neRBTud3ojG5LFBZ1Iww9Dx3MMXYXHyjS5si1gEK5-RZvNLL8qCTQoOumh_hH3dIT9TI/s389/la%20madre%201917.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="291" data-original-width="389" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhokRQjDSJfmIlP9t2Wzf3evE2wuq6-I2OLOEpq6tkp-Ch0sic6j2ubAYUgjCTDKCcrIcMYe2F_Go4rxSkFEBOM6yH98YM8M0xJLQEphCF1ItER-eT2ZWuVhA6neRBTud3ojG5LFBZ1Iww9Dx3MMXYXHyjS5si1gEK5-RZvNLL8qCTQoOumh_hH3dIT9TI/s320/la%20madre%201917.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">O rapaz é construído como um meninão. É um pintor com muito talento e pouco tutano. Caberá à mãe salvá-lo de uma <i>femme fatale </i>típica quando ele viaja do vilarejo onde moram até a capital, para aprimorar a sua técnica. A mãe torna-se a sua fonte primordial de inspiração, já que ele tem o seu talento descoberto por meio de um quadro que a tematiza. É nos braços dela que ele se joga depois que a cidade que o viu partir como um anônimo recebe-o como herói. Ela, que esconde uma doença grave, morrerá pouco depois. A cena que fecha a obra flagra o jovem ajoelhado diante do anjo, encomendando a alma da progenitora. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A mãe não tem nome, funciona como símbolo. Esta obra recupera um cânone do gênero melodramático: a associação da personagem materna com a virgem Maria, a <i>Mater Dolorosa</i>, ao mesmo tempo em que a jovem que procura desencaminhar o jovem é uma espécie de Dalila. O cinema atrelava, então, a mítica do estrelismo aos mitos ocidentais. Se a narrativa é convencional, vale sobretudo pelo trabalho sólido desempenhado por Italia Vitaliani, uma bela atriz que eu acabo de conhecer. </span></p>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-89292736894171649112023-10-12T09:18:00.003-03:002023-10-21T09:52:55.961-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 – Dia 2<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b></b></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAz_2BkaLXsHri298xvZfoyEXyGfImFbm3Nq7V1eeNHO64ldj2tROwAb90NBis6f7oX_z3Gv6Awu73iDI2GAK_dMkZD7g2GgxVjxSemy6VtcRQTXJIdu_yH6DOjtQnQC1pVAQAEr-WEuRgj_2vbooqe-QOsTDP9Eh0EOqXWNqxNVeqFFmXL5SgivxZTyw/s1000/Berg_des_Schicksals_4_920_692_94c9732016.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="1000" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAz_2BkaLXsHri298xvZfoyEXyGfImFbm3Nq7V1eeNHO64ldj2tROwAb90NBis6f7oX_z3Gv6Awu73iDI2GAK_dMkZD7g2GgxVjxSemy6VtcRQTXJIdu_yH6DOjtQnQC1pVAQAEr-WEuRgj_2vbooqe-QOsTDP9Eh0EOqXWNqxNVeqFFmXL5SgivxZTyw/w400-h300/Berg_des_Schicksals_4_920_692_94c9732016.jpg" width="400" /></a></b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><b><b style="text-align: justify;"><br /></b></b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: georgia;"><b><b style="text-align: justify;">Dia 2, domingo, 8 de outubro</b><span style="text-align: justify;"> </span></b></span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Domingo foi dia de outro programa duplo, composto por obras alemãs: o primeiro dedicado ao diretor e astro Harry Piel, centrado nos filmes “Das abenteuer eines journalisten” (“The adventure of a journalist”, 1914) e “Das Rollende hotel” (algo como “O hotel sobre rodas”, 1918), ambos dirigidos por ele, com acompanhamento musical de José María Serralde Ruiz. Já o segundo programa centrou-se no longa-metragem “Der Berg des Schicksals” (“Mountain of Destiny”, Arnold Fanck, 1924), com acompanhamento musical de Mauro Colombis. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Piel é para mim uma das descobertas desta Giornate. Embora Jay Weissberg comente que certo jornal recifense apontou o artista como um dos preferidos do público, eu não me lembro de ter passado por ele em minhas pesquisas. Atualização em 15/10 graças à pesquisa de Luciana Araújo: a 16 de abril de 1922, o <i>Jornal do Recife </i>publica uma pesquisa sobre as preferências dos espectadores, segundo a qual Piel constava na lista dos mais </span><i style="font-family: georgia;">simpáticos</i><span style="font-family: georgia; font-style: italic;">:</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVz5HSrcV7UEAdNqrqcKDmpyPNJNseKnAusm7v2pDUMtXDtwAVu7LV7-xtNhmFvx-z01nGBgzyb728z79iwnN6C_YJd_2W3dH_w3BdJTV7dTfD_0atBz0MFsyA_L32Ppnd3xpnwMjUNbQPv-ePcXSZi26uRv7Z6jejMEjgGOA4bLIPPNSGOtfVHSWB0sE/s311/piel%20simpatico.jpg" style="font-family: georgia; font-style: italic; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="295" data-original-width="311" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVz5HSrcV7UEAdNqrqcKDmpyPNJNseKnAusm7v2pDUMtXDtwAVu7LV7-xtNhmFvx-z01nGBgzyb728z79iwnN6C_YJd_2W3dH_w3BdJTV7dTfD_0atBz0MFsyA_L32Ppnd3xpnwMjUNbQPv-ePcXSZi26uRv7Z6jejMEjgGOA4bLIPPNSGOtfVHSWB0sE/s1600/piel%20simpatico.jpg" width="311" /></a></div><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Este é o primeiro de dois programas centrados no artista, a serem exibidos na versão <i>online </i>da Giornate. Nesses filmes, embora ele desempenhe o papel exclusivo de diretor, observam-se características semelhantes àquelas presentes nas obras que ele protagoniza. São filmes de aventura, no estilo dos seriados protagonizados por Pearl White, apesar de mais longos (cada um tem cerca de 50’ de duração). </span></p><div style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhah6PYuy1eZzpezbIHEgQHUR1lOuOqi_pjN2DjpiUUzu5gVcnw4rFQOSHnscmtudAP_7ywhz4t4bqxhrwCUoVxomWHYt5Dyx7rLGvsqcH8cWOo4ZDKz3Yvb8d-_YYk6jD-MWOQd10Pza9iXNjvLR2oGtKxKbYbtiAUL418kZJ99QWY8tkweC0ukDPbCO4/s552/Das%20abenteuer.png" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="552" data-original-width="406" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhah6PYuy1eZzpezbIHEgQHUR1lOuOqi_pjN2DjpiUUzu5gVcnw4rFQOSHnscmtudAP_7ywhz4t4bqxhrwCUoVxomWHYt5Dyx7rLGvsqcH8cWOo4ZDKz3Yvb8d-_YYk6jD-MWOQd10Pza9iXNjvLR2oGtKxKbYbtiAUL418kZJ99QWY8tkweC0ukDPbCO4/w294-h400/Das%20abenteuer.png" width="294" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O primeiro deles foi lançado, segundo o programa da Giornate, pouco mais de uma semana antes do assassinato do arquiduque Franz Ferdinand em Sarajevo, fato que desencadeou a Primeira Grande Guerra. Foi, ademais, vendido como uma obra que tematizava o desenvolvimento técnico, sejam os carros velozes, seja a explosão remota de minas submarinas – pouco depois, a violência vendida como produto da indústria do entretenimento desdobrar-se-ia real naqueles mesmos sítios. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O contexto aqui não é de reflexão sobre os abismos em que nos lança a técnica. Em voga está o deleite do público que acompanha a história do jornalista Harrison (Ludwig Trautmann), e sua impossibilidade de viver a paixão que nutre pela filha de um importante cientista, pois o homem julga-o um ocioso, impossibilitado, portanto, de sustentá-la. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O entrecho amoroso serve de desculpa para o desenvolvimento da trama. O pai da mocinha tinha um rival, também cientista, o qual, para ter tempo hábil de apresentar ao governo o seu dispositivo remoto de explosão, sequestra-o. Para salvar o sogro e, enfim, provar-se merecedor da mão da mocinha, Harrison protagoniza uma perseguição ferrenha dos comparsas do cientista, e enfrentará mil perigos (como, por exemplo, um salto de paraquedas). </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Há frenesi no cinema de Piel. Veja-se, neste sentido, a cena de perseguição no (impressionante) metrô suspenso de Schwebebahn: os cortes rápidos e os primeiros planos angustiantes imprimem uma visada à modernidade que não é só de flerte, também é de temor. </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-TqoFxX6_lO_YswJFi90BK6aJ5spYFqnGLfJbbf29VUhxPGuh0lB25t5KQ78aqW3ZvlbDfD0qT_-0xjUfcXFM5LCABxpDkBQYN5ykRjWpR6tdKQsboYFb51i2yZhhUc1ETIDLtMBYqP7qiNY70AmEThzNjnft3PS2lOfd1V00NP8iS4wWNj_1sD_ApaQ/s416/rolender%20hotel.png" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="312" data-original-width="416" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-TqoFxX6_lO_YswJFi90BK6aJ5spYFqnGLfJbbf29VUhxPGuh0lB25t5KQ78aqW3ZvlbDfD0qT_-0xjUfcXFM5LCABxpDkBQYN5ykRjWpR6tdKQsboYFb51i2yZhhUc1ETIDLtMBYqP7qiNY70AmEThzNjnft3PS2lOfd1V00NP8iS4wWNj_1sD_ApaQ/w400-h300/rolender%20hotel.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Já “Das Rollende hotel” é um <i>road movie </i>centrado na impossibilidade de a jovenzinha casadoira Addy (a adorável Kâthe Haack) se unir com o rapaz que ela ama, pois seu tutor deseja casá-la com um velhote a quem ele deve dinheiro tão logo ela complete a maioridade. Malgrado seja o provocador da trama, o rapaz é um mero coadjuvante dela. No centro da história estão, além de Addy, o amigo dele, Joe Deebs (o elegantíssimo Heinrich Schroth) – o responsável por salvar a jovem do destino sombrio que a esperava, abrigando-a, nos dias derradeiros antes de sua maioridade, no tal hotel sobre rodas do título. Há ainda o impagável Alfred Delbosq, no papel do detetive Sharf, que a todo custo tenta recuperar a jovem para devolvê-la ao tutor. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O enredo rocambolesco serve de desculpa para um passeio turístico pelos sítios os mais diversos, dos Alpes bávaros – onde o galante cicerone de Addy mostrará sua destreza, salvando-a ao carregá-la temerariamente por sobre os fios do teleférico que ainda estava para ser instalado – aos hotéis frequentados pela alta goma europeia. O cinema é, neste filme, uma viagem sem sair do lugar, em que o espectador é passageiro que viaja em primeira classe. E para estender tal viagem, à medida que seguem, Deebs vai deixando pistas ao detetive, até que o homem vai finalmente flagrar o casal no vagão de um trem, enquanto os pombinhos se casam. </span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyU0w5Wsv7e_T9AKO_t-6Q-8Vt-GVf0OYQlgmlSeCeefwDV1w4UnJfjP2fpgTkkskP7FHFS2TaCQ1Pp1I7JVd8MloQYQ8V4zLA_GY-rkb13_6gEGAKfo4AKeAcwA44xF3rCw-0xu_Fzmw3BsT4xXBg3BeG_5S3CcLG1bSGGfa3yLORrOMkT1bfMC1Sc2o/s700/Berg-des-Schicksals-nw-overzicht-700x700.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="700" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyU0w5Wsv7e_T9AKO_t-6Q-8Vt-GVf0OYQlgmlSeCeefwDV1w4UnJfjP2fpgTkkskP7FHFS2TaCQ1Pp1I7JVd8MloQYQ8V4zLA_GY-rkb13_6gEGAKfo4AKeAcwA44xF3rCw-0xu_Fzmw3BsT4xXBg3BeG_5S3CcLG1bSGGfa3yLORrOMkT1bfMC1Sc2o/s320/Berg-des-Schicksals-nw-overzicht-700x700.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">“Mountain of Destiny”, o longa apresentado no segundo programa do dia, também persegue esta faceta histórica do cinema, de exploração dos cantos mais recônditos do mundo. A obra impressiona pela ousadia com que o seu diretor (também o fotógrafo, roteiriza, editor e produtor, segundo o programa da Giornate), desincumbe-se da tarefa de filmar as Dolomitas, cadeia montanhosa nos Alpes orientais, no norte da Itália. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O espaço exerce presença preponderante na obra baseada na história de Carlo Garbari, que pereceu ao tentar escalar a Guglia di Brenta, uma dessas montanhas. Um conjunto de imagens do espaço portentoso abre o filme, e elas serão repisadas como leitmotiv, denotando a pequenez humana frente à majestade da natureza. </span></p><div style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhINcs78aCsFA-VsHUoERVe92bRQyIjMkhI5zl13uwyWA1uVQ2FHGKl59GVagamWpwhas8TU0WZiUktFzD6aMWthRdDQk4Fg3XioTXvt9qpn_xpEntuV4t2t-YWzklg4mVH8Wy1q73NjJJGUrtmdyh0LQgDYG82ugtZ7e2mPaonc4Qq2iY_Au8ZasWguNE/s530/berg-des-schicksals-02ff.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="380" data-original-width="530" height="286" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhINcs78aCsFA-VsHUoERVe92bRQyIjMkhI5zl13uwyWA1uVQ2FHGKl59GVagamWpwhas8TU0WZiUktFzD6aMWthRdDQk4Fg3XioTXvt9qpn_xpEntuV4t2t-YWzklg4mVH8Wy1q73NjJJGUrtmdyh0LQgDYG82ugtZ7e2mPaonc4Qq2iY_Au8ZasWguNE/w400-h286/berg-des-schicksals-02ff.jpg" width="400" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A fotografia é um dos pontos altos de “Mountain of Destiny”. A obra divide-se entre mostrar (longamente, mas com um firme pulso dramático) os esforços de “Carbarie” para vencer a “Guglia”, em vão, e a recusa do filho dele de encarar a montanha que ceifara a vida do pai. O contraponto do pai e do filho aventureiros são a esposa dele (e mãe do menino), a excelente e contida Erna Morena, e a mãe dele, Frida Richard. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Uma palpitante montagem paralela toma o filho pequeno escalando a chaminé da casa enquanto o pai tenta, em vão, vencer a montanha. É a mulher dele que, trêmula, terá a sensação de sua morte. Décadas mais tarde, caberá ao filho dobrar a até então inexpugnável Guglia, casualmente, já que a escala para salvar a namorada, que tenta escalá-la depois de acusá-lo de covardia (passemos ao largo da portentosa cena final, da jovem ajoelhada humildemente aos pés do moço, num plano geral tendo ao fundo a imensidão branca, pois ela é fruto de seu tempo...).</span></p>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-75793333442716473862023-10-11T09:15:00.007-03:002023-10-11T09:16:54.458-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2023 - Dia 1<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3PJ88FS2pBgS8ZaOqc4oSj6JdOygSGQyBOBsmD8XRsenkMakNWtS9omtVI55Z0xTDn6ErKvpkqlfA1g9fHzahuv9dKjdrxkO1Ej60Gc7O1T24BERVrQhNnfu0Iv5jYvCLZEOjgeIZG6Pnnunu1Z9kutKRAmaGFUFfW8LOOOY2fphyphenhyphenomZbeC9H8-blPOI/s1280/from%20hand%202.jpg"><img border="0" data-original-height="1025" data-original-width="1280" height="371" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3PJ88FS2pBgS8ZaOqc4oSj6JdOygSGQyBOBsmD8XRsenkMakNWtS9omtVI55Z0xTDn6ErKvpkqlfA1g9fHzahuv9dKjdrxkO1Ej60Gc7O1T24BERVrQhNnfu0Iv5jYvCLZEOjgeIZG6Pnnunu1Z9kutKRAmaGFUFfW8LOOOY2fphyphenhyphenomZbeC9H8-blPOI/w464-h371/from%20hand%202.jpg" width="464" /></a></div></span><b style="font-family: georgia;">Dia 1, sábado, 7 de outubro</b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ao menos uma vez por ano ressuscito este blog para comentar a Giornate del Cinema Muto, amor maior desde que nela estive em 2015 (o leitor de primeira viagem pode encontrar por aqui textos sobre várias de suas edições). Em 2020, com a pandemia, o evento tornou-se <i>online</i>. Desde 2021, tornou-se novamente presencial, exibindo, no entanto, uma seleta de filmes em sua edição <i>online</i>, ao longo dos mesmos oito dias em que se ocorre a sua versão oficial – os deuses do cinema não abandonam os seus duros e atribulados amantes. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Meus sentimentos quando acompanho o evento são sempre agridoces. Pessoalmente, repiso a cidade lembrando-me de quando a descobri pela primeira vez. Em casa e diante do computador, fecho os olhos e viajo sentimentalmente por ela; sinto os cheiros da feira, o gosto do inesquecível chocolate quente da Peratoner, com o qual me encontrava entre uma sessão e outra... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mas vamos aos filmes. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Sábado foi dia de uma sessão dupla: seis curtas que compõem o programa “Slapstick Shorts: Transatlantic Echoes”, rodados entre os Estados Unidos e a Europa de 1909 a 1920, e o western “The Fox”, de Robert Thornby (EUA, 1921). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Jay Weissberg, diretor da Giornate, destaca, no vídeo de apresentação da seleta de curtas, as influências conjuntas estabelecidas entre filmes europeus e norte-americanos, no que diz respeito à linguagem e ao tema. Tomando o recorte temporal – que atravessa, <i>grosso modo</i>, do primeiro cinema ao cinema clássico –, é interessante observarmos o burilamento desses elementos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“Le torchon brûle ou une querelle de ménage” (Roméo Bosetti, FR, 1911), é um desses filmes do primeiro cinema que daria trabalho à “máquina de fazer barulho” vendida pelos Ferrez no Brasil na primeira década de 1900, tal a necessidade de sons incidentais que ele demanda (o admirável acompanhamento musical deste programa foi de Daan Van Den Hurk). Encena a briga de um casal, que se inicia no apartamento onde moram e se estende pelas suas escadarias e pelas ruas da cidade – por onde eles rolam enquanto se destroçam, desafiando até mesmo as leis da gravidade, já que chegam a rolar pelo chão mesmo escada acima... Esse <i>looping </i>nada deve aos brinquedos exibidos e comercializados no pré-cinema, como o zootrópio e o praxinoscópio – memento do primeiro cinema aos aparatos que o sonharam. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPHWb3_Ska9AFhrJhJ-zbEPIAl-XJXXUDq5Suy6_oMQ3Edzci7jy_qmJ_2fP9ZQI7kHhS1wc-Bps7vJfbABTVLae_f5Bkoep01mRkXy9wRYd_06qaSkgOBmp6elfk83DWEQT9nRMwJcxKevTkmYKbR6eUVEmoOXRWwUvAZofLTPwmEO_Pq_H4Gz5GNR20/s1372/at%20coney%20island.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="946" data-original-width="1372" height="276" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPHWb3_Ska9AFhrJhJ-zbEPIAl-XJXXUDq5Suy6_oMQ3Edzci7jy_qmJ_2fP9ZQI7kHhS1wc-Bps7vJfbABTVLae_f5Bkoep01mRkXy9wRYd_06qaSkgOBmp6elfk83DWEQT9nRMwJcxKevTkmYKbR6eUVEmoOXRWwUvAZofLTPwmEO_Pq_H4Gz5GNR20/w400-h276/at%20coney%20island.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">“At Coney Island” (US, Mack Sennett, 1912) traz como entrecho a traição. Uma jovenzinha disputada por dois homens acaba por escolher um pai de família, que, para segui-la, abandona ao deus dará, no parque, a esposa e os filhos pequenos. A tópica é cara ao cinema e ao teatro da época: os parques de diversão são espaços abertos ao mascaramento, à fuga da realidade. É ali que o burguês rotundo (ele e todos os demais são personagens-tipo) encontrará escape do casamento insosso e dos filhos aborrecidos. No desfecho da história, a partida é sinalizada com o abandono da máscara – a jovem volta à dupla de rapazes que a disputa e o marido, à família. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvP5CtK0ySX5VAmXId8AyNJWnZA_2OwVbV2vVcAX6Ror9zCtu8umYtE5EyVTB9WEldw5Ewm9lwA-X7cb4M76xc2G9ktDw3SylqJ-AkEwepgXRKKToJk9unbgkohbDDIk6jTDsjF6Zoj8x0ZBr2EkZ7F-eS2NynbMgv2E4ENGELLs19q0V4BvbUE3HmvaA/s418/cretinetti.png" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="308" data-original-width="418" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvP5CtK0ySX5VAmXId8AyNJWnZA_2OwVbV2vVcAX6Ror9zCtu8umYtE5EyVTB9WEldw5Ewm9lwA-X7cb4M76xc2G9ktDw3SylqJ-AkEwepgXRKKToJk9unbgkohbDDIk6jTDsjF6Zoj8x0ZBr2EkZ7F-eS2NynbMgv2E4ENGELLs19q0V4BvbUE3HmvaA/w400-h295/cretinetti.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">“Cretinetti che bello!” (algo como “Bonito, hein!”, IT, 1909) é protagonizado por uma estrela de cinema na primeira década de 1900, André Deed, personagem de uma série de filmes da Itala que fariam invulgar sucesso pelo mundo – no Brasil, “Cretinetti” tem um apelido mais carinhoso que na Itália, é “Did”. A disrupção, presente em porção considerável do cinema de atrações, e que é tópica também no destrutivo “Le torchon brûle ou une querelle de ménage”, preside esta história. “Cretinetti” – fraque e sapatos pontudos, um pré-Chaplin, não fosse pela cara de tolo – recebe um convite de casamento. Ele se traja, maquia-se com laudas quantidades de pó-de-arroz e, ato contínuo, vemo-lo pelas ruas da cidade, perseguido por todas as mulheres com quem cruza, as quais acabam por literalmente destroçá-lo. Graças a uma trucagem cinematográfica, no entanto, o seu corpo lacerado ganha novamente vida. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“Rudi Sportman” (Emil Artur Longen, Império Austro-Húngaro, 1911) tem como protagonista um <i>Peeping Tom</i>, ou um futriqueiro, criatura que visita o cinema desde os seus primórdios – já que o cinema é, ele mesmo, um olhar pelo buraco da fechadura, um espreitar da intimidade alheia. A gramática do filme de perseguição preside esta história. Rudi segue no encalço da jovem por quem ele se enamora até que a encontrará numa piscina pública, disfarçando-se de mulher para se aproximar dela. Será descoberto, pagando pela curiosidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgenNypdtosl80yILLtDtrT9ao6stUnKFQV8WqXHCl5Aj4LUdzsDhzGldGDwv83eYhRk4Iqt-fjN28H1zPwLfeFMlgYQz_rkfiJBadLMQjv-9wcjaPOz3OTOTWC0dkQZfki3zX92hGXi-t7YbbEc2YukyEXyUa1YM7UTvwybwBWXr1iyCUtW5QL-vNlpfo/s800/EN%20S%C3%98LVBRYLLUPSDAG.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgenNypdtosl80yILLtDtrT9ao6stUnKFQV8WqXHCl5Aj4LUdzsDhzGldGDwv83eYhRk4Iqt-fjN28H1zPwLfeFMlgYQz_rkfiJBadLMQjv-9wcjaPOz3OTOTWC0dkQZfki3zX92hGXi-t7YbbEc2YukyEXyUa1YM7UTvwybwBWXr1iyCUtW5QL-vNlpfo/w400-h300/EN%20S%C3%98LVBRYLLUPSDAG.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">“En Sølvbryllupsdag” (Lau Lauritzen, “The Silver Weeding”, DK, 1920) flagra um casal cujo idílio amoroso de comemoração dos 25 anos de casamento dura apenas até o primeiro beijo matutino. As reprimendas começam a ser cuspidas na cama. Ela parte pouco antes da chegada do advogado que dará ao casal uma grossa soma de dinheiro, contanto que ambos demonstrassem ser uma família verdadeiramente feliz. Ele a segue por toda a cidade, deixando o advogado com uma garrafa de bebida que o homem, a princípio resistente, terminará por secar – e se transformará em outro tipo ao fazê-lo. O casal acaba por se reencontrar no pé da escada, reconciliando-se em detrimento de qualquer herança – como devem ter feito incontáveis vezes, para que resistissem 25 anos casados. Para além da boa concepção de tipos, a comédia é preciosa – para mim ao menos – porque flagra o uso de duas camas contíguas de solteiro no quarto do casal, que se transformaria em praxe no cinema norte-americano a partir dos anos de 1930, por outro motivo (como comentei num dos primeiros artigos deste blog, quase 15 anos atrás). </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhextOBYjeE370-50yIzhDS_Sa8uFXbKZBzbiCf5P1uH1fvoOb4r55o4rMyNmrwX2f-djn_qhxUAnGnaVHZMiToJ2A_ojkKzKUN9LFkt1ggYH5uCGOtA8U_EHQMKykqcocKY2LiABtHOfDmmcQOKHHbDoSriUBp2Chk7YBQhfqmuUnYypFERi-u4rXmOig/s357/from%20hand.png" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="357" data-original-width="325" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhextOBYjeE370-50yIzhDS_Sa8uFXbKZBzbiCf5P1uH1fvoOb4r55o4rMyNmrwX2f-djn_qhxUAnGnaVHZMiToJ2A_ojkKzKUN9LFkt1ggYH5uCGOtA8U_EHQMKykqcocKY2LiABtHOfDmmcQOKHHbDoSriUBp2Chk7YBQhfqmuUnYypFERi-u4rXmOig/w364-h400/from%20hand.png" width="364" /></a><span style="font-family: georgia;">Por fim, uma obra-prima: “From hand to mouth” (Alfred Goulding, EUA 1919), protagonizada por Harold Lloyd, Mildren Davis e pela adorável atriz-mirim Peggy Cartwright. A história é singela: o “moço” sem nome tem fome, assim como a garotinha; a “moça” também sem nome está prestes a perder uma herança para um advogado corrupto. São dois tipos sociais cujos destinos se cruzarão. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Antes disso, no entanto, algumas das cenas mais graciosas jamais compostas pela arte do silêncio se desenrolarão. Ele para diante de um restaurante, dependura um guardanapo no colarinho e chupa com fineza o osso que tira do bolso do paletó. Pouco depois, junta-se a ele a pequena Peggy Cartwright e seu cachorro manco, que mimetiza cada passo e gesto dela. O filme abre-se tanto aos sorrisos de canto de boca quanto às gargalhadas, já que casualmente o rapaz torna-se membro da gangue que sequestrará a jovem. Perseguindo-os, ajuntará a polícia por meio do expediente o mais amalucado que se pode imaginar – a história é uma <i>screwball comedy avant la lettre</i>, imperdível, que aconselho os leitores a procurar (lamentavelmente a programação da Giornate fica disponível por apenas 48 horas depois de lançada).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"> </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjswlhDUzgDwBgp6KosXujCWX16NhukC8Tnf18o7RwdvAEmgtQnrLpb794GHwM7SZpEfXKlqyLoE1cWbi9kHKWnGrfqa2IsIVnMmuHMLSJ0AbPreoOn6jCYaSJfLNGtprNTQThqHCfK6aSd-H9sM1plvuasqYpgNnHvH6k0dQZntBg3W5QD6cJwUblc1VM/s587/the%20fox%201.jpg" style="font-family: georgia; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="587" height="359" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjswlhDUzgDwBgp6KosXujCWX16NhukC8Tnf18o7RwdvAEmgtQnrLpb794GHwM7SZpEfXKlqyLoE1cWbi9kHKWnGrfqa2IsIVnMmuHMLSJ0AbPreoOn6jCYaSJfLNGtprNTQThqHCfK6aSd-H9sM1plvuasqYpgNnHvH6k0dQZntBg3W5QD6cJwUblc1VM/w400-h359/the%20fox%201.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O segundo programa de sábado é “The Fox” (1921), western da Universal dirigido por Robert Thornby e protagonizado por Harry Carey, com acompanhamento musical de Philip Carli. Carey é Santa Fe, “homem misterioso”, como diz o letreiro, que chega maltrapilho numa cidadezinha perdida no Oeste norte-americano. Na cidade a lei claudica, pouco podendo o velho xerife George Nichols contra a gangue dos “Painted Cliffs”, que a aterroriza. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Santa Fe, homem de meia-idade, passa desapercebido ao chegar. Preso em meio a uma briga, confunde certo menininho espoliado por um comerciante local com a sua trouxa de roupas, carregando-o dali. O garoto – George Cooper – é uma versão masculina da adorável garotinha de “From hand to mouth”, também abandonado e maltrapilho. Santa Fe o adota, carregando-o consigo mesmo para a cadeia, onde acaba preso envolvido casualmente noutro litígio. Uma das filhas do xerife cai de amores por ele. Por obra do homem, Santa Fe acaba indo trabalhar no banco do povoado, contratado como funcionário. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuzAVnhcwKa65O52t4VRg71QRC_9OMWv2vcBP0cFDZ13LQN6WXcY4mwLOLate5RamK5cOk-NKxGSezkcMctC5o3BBYVcdBZ4UTvMbWKoeZbTOoCAbAR2ShKk6oVGLLH2ILnDZtwLTP2J-hg8hzK64Dus6Q89nViOOOa9XzZKBKZ3swQtaoYVcPBpvMXyo/s731/the%20fox%202.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="519" data-original-width="731" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuzAVnhcwKa65O52t4VRg71QRC_9OMWv2vcBP0cFDZ13LQN6WXcY4mwLOLate5RamK5cOk-NKxGSezkcMctC5o3BBYVcdBZ4UTvMbWKoeZbTOoCAbAR2ShKk6oVGLLH2ILnDZtwLTP2J-hg8hzK64Dus6Q89nViOOOa9XzZKBKZ3swQtaoYVcPBpvMXyo/w400-h284/the%20fox%202.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Pego bisbilhotando, é expulso do local. A essas alturas, o público já se deu conta de que o maltrapilho misterioso não era quem aparentava ser. Efetivamente, ele trabalhava no Tesouro Nacional, ofício sem poesia, não fosse ele também um <i>cowboy </i>proverbial, à la John Wayne, que se embrenha na aridez montanhosa no meio de um vendaval para salvar o xerife, o filho de uma viúva desprovida e, enfim, para encontrar o esconderijo da gangue dos “Painted Cliffs” e desmascarar o seu chefe – que era não outro senão o dono do banco (como corresponde...). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Tiros, correrias, poeira. Todos os elementos que dão textura ao western daqueles tempos estão aí dispostos, com direito até a um idílio romântico entre o <i>cowboy </i>nem-tão-durão-assim e a filha do xerife – aliás, o primeiro encontro de ambos, com o gesto tímido de Santa Fe de limpar a mão na roupa antes de tocar a mão da jovem, é de uma contenção plenamente sustentada ainda hoje, passado mais de 100 anos da rodagem da película.</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-63452728554788631812023-07-05T14:39:00.002-03:002023-07-05T14:48:35.359-03:00O talento de Isabel Leonard passou por São Paulo<p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;"></span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0CC79vuEUMOY-fv3KEFYzZq2_NVbQkOfsKROFEJ7m7b4VO5yi3qGKqMOrAAwqtV0cywJPqdWqY6fQmO32B-yYDgKRC_q92SewinmIc5T95GNc5OvHEn-UIE_HIzPUDOmtBwA1XYRb9p-zzTnlqsxl8rlMSqwWfeFZrCcKN7GPBRoUltOhPxoNgCbXGM4/s1600/1688421838065.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="475" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0CC79vuEUMOY-fv3KEFYzZq2_NVbQkOfsKROFEJ7m7b4VO5yi3qGKqMOrAAwqtV0cywJPqdWqY6fQmO32B-yYDgKRC_q92SewinmIc5T95GNc5OvHEn-UIE_HIzPUDOmtBwA1XYRb9p-zzTnlqsxl8rlMSqwWfeFZrCcKN7GPBRoUltOhPxoNgCbXGM4/w356-h475/1688421838065.jpg" width="356" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O cancelamento da letã Elīna Garanča, programada como o primeiro espetáculo vocal da temporada do Mozarteum deste ano, nos ofereceu a oportunidade de conhecer o trabalho da mezzo-soprano norte-americana Isabel Leonard, que em março deste ano apresentou-se pela primeira vez no Brasil em Curitiba, num espetáculo em comemoração ao aniversário da cidade. </span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">Menos conhecida das plateias brasileiras que a colega, Leonard tem uma carreira respeitável nos palcos da América do Norte e da Europa, nos quais ela interpretou papéis notórios do repertório de mezzo-soprano sobretudo <i>leggero</i>, que tão bem se encaixam à sua voz e ao seu físico lépido, a exemplo da Rosina, de “Il Barbieri di Siviglia” (de Gioachino Rossini), e de Cherubino, de “Le Nozze di Figaro” (de Wolfgang Amadeus Mozart). Trata-se, no entanto, de uma artista versátil, já que coube a ela dar corpo, no MET, à perturbada Marnie, na estreia mundial da ópera homônima com música de Nico Muhly e libreto de Nicholas Wright, baseada no romance de Winston Graham (o mesmo que originou o clássico de Hitchcock, de 1964) – e ela o fez otimamente bem, tanto do ponto de vista vocal quanto cênico. Trata-se, portanto, de uma artista que merecia ser conhecida pelo público paulistano. </span></span></p><p style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKXlK8cIpKnxw0ojpAvUyv56BtXH7_bVcmq4CzOrJgj8kBSgfN7-lSrQ2NIHAZH9YiJC85Cy6mrx0PR1I9c0vW8iP41YtRgCrRivKei5V2jKSsRPhr5OGIZgIBhavQU5qYgw4IlhNTnW7o-EnypVKE3PuJ8SHLbu6QPm8A6mga7VnKj0lj_T5L3Zl_RwA/s2048/leonard%201.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1366" data-original-width="2048" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKXlK8cIpKnxw0ojpAvUyv56BtXH7_bVcmq4CzOrJgj8kBSgfN7-lSrQ2NIHAZH9YiJC85Cy6mrx0PR1I9c0vW8iP41YtRgCrRivKei5V2jKSsRPhr5OGIZgIBhavQU5qYgw4IlhNTnW7o-EnypVKE3PuJ8SHLbu6QPm8A6mga7VnKj0lj_T5L3Zl_RwA/w400-h266/leonard%201.jpg" width="400" /></a><span style="text-align: left;"></span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Para o concerto programado na Sala São Paulo em 27 de junho, Isabel Leonard escolheu um repertório que passeou pela sua carreira: de Rossini e Mozart a Bizet (“Carmen”) e Massenet (a Charlotte de “Werther”). Passou também pelo espanhol Manuel de Falla (“Sete canções populares espanholas”) e pelo mexicano (“Granada”). </span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">Acompanhando-a estava a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileira, conduzida com um misto de energia e finesse pelo maestro norte-americano Constantine Orbelian. A orquestra teve a sua melhor performance dos últimos anos, julgo eu – sublinhamos, trata-se de uma orquestra acadêmica, composta por uma parcela de estudantes, além dos cachezistas profissionais, daí a ser destacável que ela tenha conseguido verdadeiramente protagonizar nalguns momentos puramente orquestrais, como o “Bacchanale” de Camille Saint-Saëns e “La Boda de Luis Alonso”, de Gerónimo Giménez. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">Os temas orquestrais foram escolhidos considerando-se o repertório que seria apresentado por Garanča, daí o descompasso existente nalguns momentos entre ele e os números cantados. O próprio “Bacchanale”, por exemplo, introduziria as árias de “Sansom et Dalila” que seriam cantadas pela mezzo letã. Mantido neste concerto, provavelmente devido às dificuldades da orquestra de ensaiar outro tema, serviram de introdução estranha da dramática “Air des lettres”, <i>tour de force</i> da ópera “Werther” cantado deslumbrantemente bem por Leonard, num dos pontos altos da noite. ´</span></span></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNq-hqaQ7V-548VgMva81HawKLOl9U0EXCHTz084a6LyW69vWbYwB6UEPSCxeDvdTottNcM46Ta1KXZ7jBBljO1i0qUAR2UrcigqXSsa9kAwufmYiinOWEFiGFimFiba7JZPT9s6364g5eOcT1qwSbVsBLpFcvvu84M2jMyRGe8dsNN4Pa8_F7G5gAZ-8/s2048/leonard%202.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="2048" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNq-hqaQ7V-548VgMva81HawKLOl9U0EXCHTz084a6LyW69vWbYwB6UEPSCxeDvdTottNcM46Ta1KXZ7jBBljO1i0qUAR2UrcigqXSsa9kAwufmYiinOWEFiGFimFiba7JZPT9s6364g5eOcT1qwSbVsBLpFcvvu84M2jMyRGe8dsNN4Pa8_F7G5gAZ-8/s320/leonard%202.jpg" width="320" /></a><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">O espetáculo ocorreu em curva ascendente. Leonard começou a se adonar do público da Sala São Paulo ao longo das árias de Mozart, dominando-o ao abordar, com penetração, graça e dicção perfeita (o que foi, aliás, uma constante nos números em espanhol, francês e italiano que cantou), as “Sete canções populares espanholas” de Falla. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">A segunda parte do programa foi especialmente interessante. Além da já mencionada ária de Charlotte, desta obra-prima de Massenet que é “Werther”, a mezzo abordou dois temas de “Carmen”, repertório <i>par excellence</i> de mezzo-sopranos: a “Habanera” e a “Seguidilla”. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">Como “Sansão e Dalila”, “Carmen” é uma ópera complicada: escritas ambas num período em que o tipo da <i>femme fatale </i>estava consolidado, apresentam duas mulheres astutas, que manipulam os homens que as amam – culpa da moral machista da época. “Carmen”, além de tudo, é sexualmente livre, o que era motivo de terror por parte dos homens pregressos – ainda hoje o é. Embora o texto dessas óperas flerte com o contexto histórico em que nasceram, a sua música maravilhosa o transcende. Portanto, como interpretar esses papéis hoje? Isabel Leonard escolheu uma forma comedida, procurando escoimar a interpretação vocal e cênica dos lastros vampirescos – e, portanto, dos laivos machistas – que deram origem ao papel. Fez um trabalho bastante bonito, sobretudo com a “Seguidilla”, ária que traz um tanto da lepidez que já é própria da cantora. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">O concerto foi fechado por dois bises, “Somewhere”, de “West Side Story” (de Leonard Bernstein) e “Tu n’est pas beau”, a ária da bêbada da ópera bufa de Jacques Offenbach “La Perichole”, que ela fez com uma graça ímpar. Foi um belo concerto. Que venham outros, para que possamos conhecer melhor esta artista tão talentosa.</span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8VwAL7vIhMRTQu4DV8U9ZwwgOpwmvUTRnoP5kZyoQGSzAMuJu79T4XQBrcd-BB0TtKj5mBVtRQSirUhJ83l6H52DTkF6XNLnFBjX5CpDTrMRY314dw-Ma0rNyKer9eSG8hDJvskSj45ikElIHPbThgddReb3P5BBR2_gPl2_DRwOkoTuMMUV88J6viQM/s2048/leonard%203.jpg" imageanchor="1" style="font-family: georgia; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="2048" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8VwAL7vIhMRTQu4DV8U9ZwwgOpwmvUTRnoP5kZyoQGSzAMuJu79T4XQBrcd-BB0TtKj5mBVtRQSirUhJ83l6H52DTkF6XNLnFBjX5CpDTrMRY314dw-Ma0rNyKer9eSG8hDJvskSj45ikElIHPbThgddReb3P5BBR2_gPl2_DRwOkoTuMMUV88J6viQM/s320/leonard%203.jpg" width="320" /></a></div><p style="text-align: justify;"></p>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-47610997157525577032023-03-21T15:05:00.005-03:002023-04-08T11:20:04.927-03:00A ensimesmada Hollywood: pitacos sobre o Oscar 2023<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXYqBsWPAfIUrwl8VnaLXGMUvXa4mZgRSpVGMrJdcV2q7wIZclYNvDHejr5jnXRp6j2q3PxzCwL7dOQoey3J6VMZMEsxsS9I2ZILAQQ5q-C2mCIz76H2hNBp6c27-RxZSkY3AEN1tZdve-UBAOKyEvGDbucsqjcpuMv9hAdrGvYIGmp2L6FuXgGk9q/s1748/OSCAR-2023.png" style="font-family: "Times New Roman"; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1240" data-original-width="1748" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXYqBsWPAfIUrwl8VnaLXGMUvXa4mZgRSpVGMrJdcV2q7wIZclYNvDHejr5jnXRp6j2q3PxzCwL7dOQoey3J6VMZMEsxsS9I2ZILAQQ5q-C2mCIz76H2hNBp6c27-RxZSkY3AEN1tZdve-UBAOKyEvGDbucsqjcpuMv9hAdrGvYIGmp2L6FuXgGk9q/w400-h284/OSCAR-2023.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><br /></div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span>Assumo aqui a tarefa ousada de inaugurar, este ano, este blog que já se tornou bissexto, falando sobre algo que não seja cinema silencioso, coisa que há anos me assombra. Falando, mais especificamente, sobre os filmes indicados ao Oscar 2023, e sobre os vitoriosos; assunto que já gerou muito choro e ranger de dentes dentre meus amigos, colegas e conhecidos.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span>Revisitei <i>en passant </i>meus (vários) textos sobre o Oscar, escritos de forma passional desde que inaugurei o <i>Filmes, filmes, filmes</i>, em 2010. Textos longos e ponderados, o oposto do que me proponho a fazer aqui, nessas notas que não passarão de pitacos – como aponta o título – sobre a solenidade deste ano, e as obras e deidades que ela colocou em seu panteão. Concentro-me aqui nos filmes concorrentes ao prêmio de Melhor Filme.</span></span></div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO6jp8qA4dlladDNVghiGdI19O0Tvtf2gCNLKnqyZRRitKaCE-tNZPDNIJh7hOpB4qnMpClhT5sfTad54Rx1oJtX1ceWQbI9QO8W07z3vtVXUelpdJBqE0ifjCzVoq0obbTUx1I6L008E-ZbhkqXAMPv8T_cEpdiZCwviGtyrOpEk4aBS6pk2jf2wL/s1280/fabelmans%201.webp" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO6jp8qA4dlladDNVghiGdI19O0Tvtf2gCNLKnqyZRRitKaCE-tNZPDNIJh7hOpB4qnMpClhT5sfTad54Rx1oJtX1ceWQbI9QO8W07z3vtVXUelpdJBqE0ifjCzVoq0obbTUx1I6L008E-ZbhkqXAMPv8T_cEpdiZCwviGtyrOpEk4aBS6pk2jf2wL/w369-h208/fabelmans%201.webp" width="369" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><b><span style="color: #bf9000; font-family: georgia; font-size: x-small;">Os Fabelmans</span></b></i></td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span>Vi-me em fevereiro assistindo, numa sanha louca, a praticamente todos os indicados do ano. </span></span><span style="font-family: georgia;">Se não completei o álbum de figurinhas, estive muito perto: </span><i style="font-family: georgia;">Nada de Novo no Front </i><span style="font-family: georgia;">eu não vi anunciado nos cinemas; outras obras, como </span><i style="font-family: georgia;">Elvis </i><span style="font-family: georgia;">e</span><i style="font-family: georgia;"> Top Gun</i><span style="font-family: georgia;">, já não estavam em cartaz; outras, como </span><i style="font-family: georgia;">Avatar</i><span style="font-family: georgia;">, preferi fingir que não estivessem – enquanto o primeiro filme da franquia surpreendeu pelo uso de tirar o fôlego da tecnologia em 3D (a trama, malgrado a sua visada socioambiental, era pífia), não consegui ver, no trailer ou no poster do segundo, elemento que transcendesse o primeiro do ponto de vista técnico ou narrativo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A relativa facilidade em passar pelas obras indicadas revela uma característica nefasta do Oscar – ou da Academia de Artes Cinematográficas, que o atribui: o fato de apenas uma dúzia de obras intercambiarem-se em nos quesitos de premiação. Fiz uma checagem rápida e encontrei, num artigo publicado pela <i><a href="https://claudia.abril.com.br/cultura/quem-vota-no-oscar/">Cláudia </a></i>em 2019, a referência aos cerca de oito mil membros pertencentes aos quadros da Academia, que podem decidir quem devem indicar e, a partir daí, quem se sagrará vencedor (os meandros disso podem ser conferidos aqui). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHL4pLFozZQ88EuUk2Elpp5IfizsQ-pLiITO_anILvlw9OJx7rSgT9_JnQ4imIp0GFYFa24-0uweC_H9BQnGRHIlI6mJzBT_PNOT4gfRhWMM4AAjy-ofUlV_w6F5aFZX1EvtLdbkHtMOmZzAQrRZUx5cEAqq2Wk3rWqbLQVSC5mLF5ZYK9ajFye41h/s1920/tar%202.jpeg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHL4pLFozZQ88EuUk2Elpp5IfizsQ-pLiITO_anILvlw9OJx7rSgT9_JnQ4imIp0GFYFa24-0uweC_H9BQnGRHIlI6mJzBT_PNOT4gfRhWMM4AAjy-ofUlV_w6F5aFZX1EvtLdbkHtMOmZzAQrRZUx5cEAqq2Wk3rWqbLQVSC5mLF5ZYK9ajFye41h/w400-h225/tar%202.jpeg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i style="font-family: "Times New Roman";"><b><span style="color: #bf9000; font-family: georgia; font-size: x-small;">Tár</span></b></i></td></tr></tbody></table>O fato de tantas cabeças ao redor do mundo poderem tomar esta decisão acenaria a uma teórica pluralidade, não fosse o ensimesmamento da indústria do cinema, centrada em Hollywood e nas obras dali saídas. O volume considerável de dinheiro gasto com marketing, por filmes que, às vezes, têm como principal qualidade isso mesmo, serem boas peças de marketing, cria essas unanimidades nocivas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Daí, por exemplo a raridade que é vermos a indicação a Melhor Filme de uma obra que não tenha o inglês como idioma principal. Uma das honrosas exceções, o leitor se lembrará, é o sul-coreano <i>Parasita </i>(2019), cujo feito inédito foi conquistar os prêmios de Melhor Filme e de Melhor Filme Estrangeiro em 2020 – mas, neste caso, a exceção vem marcada pelo exagero, já que, embora a obra tenha boa cinematografia, bloca de forma escolar os opostos, descambando, no âmbito do roteiro, para o artificioso/inverossímil. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguGDUEJQwlzfnEtLH9LSFqPp1J2XYQNpXGMh9Dd-K_1viQ1jTi_ZW0iS5riwVW_w0ofTqljdqgHMDnQIbQYebs02uUnOYV8P79UKkQydc5YH2dkvn9Hjm0OxV-Ce_sCljt-kqXmhWsAxIYOmIcXlj_xHClQt0pZ68aGywF4A6Dxy7qRFXZl9AAGRel/s402/fabelmans%202.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="402" data-original-width="279" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguGDUEJQwlzfnEtLH9LSFqPp1J2XYQNpXGMh9Dd-K_1viQ1jTi_ZW0iS5riwVW_w0ofTqljdqgHMDnQIbQYebs02uUnOYV8P79UKkQydc5YH2dkvn9Hjm0OxV-Ce_sCljt-kqXmhWsAxIYOmIcXlj_xHClQt0pZ68aGywF4A6Dxy7qRFXZl9AAGRel/w278-h400/fabelmans%202.jpg" width="278" /></a><span style="font-family: georgia;">Este ano, aliás, discutiu-se sobre o sufocamento gerado pelo marketing de Hollywood, ao se colocar em pauta a indicação de Andrea Riseborough por <i>To Leslie</i> – alçada a este posto por um grupo independente e aguerrido. Nada mais digo a este respeito, já que não assisti à obra. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Discutir o Oscar não é propriamente discutir cinema, mas sim os arranjos tramados na principal indústria de cinema do mundo, estabelecida numa das principais potências mundiais. A partir deste lugar, surpreende que alguns trabalhos dignos de nota sejam galardoados com a indicação ao prêmio. Vamos a eles – ou a alguns deles, a partir do lugar desta que vos fala. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Comecemos pela obra mais premiada. <i>Tudo em todos os lugares ao mesmo tempo</i>, codirigida por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, arrebatou, além dos prêmios de melhor atriz e de atriz e ator coadjuvantes, as láureas de roteiro original, montagem, diretor e filme. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Sou, como cristã não praticante e comunista de coração, a favor de dividirem-se as benesses. Não sou do time cujos dentes rangeram com esta vitória – ao contrário, este, junto do </span><i style="font-family: georgia;">Triângulo da Tristeza</i><span style="font-family: georgia;">, foram os meus favoritos desta edição da premiação. Se roteiro e sobretudo montagem são os grandes trunfos desta obra, não seria de mau alvitre premiar-se o diretor Ruben Östlund, pela visada ácida – e tão verossímil – que lança às relações humanas em </span><i style="font-family: georgia;">Triângulo da tristeza</i><span style="font-family: georgia;">, ou mesmo Martin McDonagh, pelo pulso com que conduz esta obra quase que teatral que é </span><i style="font-family: georgia;">Os Banshees de Inisherin</i><span style="font-family: georgia;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj9ohJUWIU_8kbrfweVuI1E3KGOS6eYwN8o0GlX8oDbzneI0T8Jawy73H9Ypt0byLpIHXuX75vjrOk2OmqNv5N451xdpAdPSEuXc0DI6Q1Lxsupt8Wpvvf56Aa1QeQkU4RkJetaK8hlTrC7uTUJW490eEZzcCNqOp8hPck47wDGYeqf3JKmPX8GHqi/s1200/Tudo-em-Todo-o-Lugar-ao-Mesmo-Tempo.webp" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj9ohJUWIU_8kbrfweVuI1E3KGOS6eYwN8o0GlX8oDbzneI0T8Jawy73H9Ypt0byLpIHXuX75vjrOk2OmqNv5N451xdpAdPSEuXc0DI6Q1Lxsupt8Wpvvf56Aa1QeQkU4RkJetaK8hlTrC7uTUJW490eEZzcCNqOp8hPck47wDGYeqf3JKmPX8GHqi/w400-h266/Tudo-em-Todo-o-Lugar-ao-Mesmo-Tempo.webp" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Os intérpretes vitoriosos foram muito bem escolhidos. <b><span style="color: #bf9000;">Michelle Yeoh</span></b> e Jamie Lee Curtis merecem os prêmios por cooperarem na sustentação da continuidade narrativa no ultra clipado <i>Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo</i>. Para além disso, ambas mergulham de cabeça na atmosfera de teatro do absurdo que emana da obra, que se centra na luta que Evelyn – imigrante chinesa de classe média-baixa – leva a cabo no multiverso para salvar o mundo; luta deflagrada, vejamos a identificação, no justo momento em que ela se digladia para concluir a sua declaração de imposto de renda... </span><span style="font-family: georgia;">O mesmo trabalho impecável realiza Ke Huy Quan, que na obra desempenha o papel do marido da personagem de Michelle Yeoh, e de um sem-número de personagens afins, variados </span><i style="font-family: georgia;">ad eternum</i><span style="font-family: georgia;">, nas mais recônditas partes do multiverso. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Criticou-se a pieguice de fundo da obra – já que, ao fim e ao cabo, a mãe viaja pelos universos paralelos para salvar a filha desgarrada transformada em arquivilã. Eu prefiro lê-la pelo viés do humor que tudo destrói: as tramas melodramáticas, a narrativa linear, as pretensiosas sagas que tematizam os meta/multiversos, etc. Os prêmios inéditos aos dois artistas orientais que participaram da produção é outro elemento que depõe a favor das escolhas – do rol de intérpretes vencedores, não saiu dos quadros de <i>Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo </i>apenas Brendan Fraser, deslumbrante em<i> A Baleia</i>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU8I5UFfgiU5W2Ehd5SjuS4A_6SNfz0inkptFOUC7OuMFV7T5hliYteLhMm3VerfQtA4AjI0IoIqwCaOU3EGEUFsM2DOirKWaUEDADex_051c8-ApBc_A6RS76UKOVLcwsFwRL0wPSPOq7BluynJOGIolU7ZpwTZOoHSzpFGFRH3VOeTkc5puCQJy_/s512/tudo%20em%20todos%20os%20lugares.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="356" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU8I5UFfgiU5W2Ehd5SjuS4A_6SNfz0inkptFOUC7OuMFV7T5hliYteLhMm3VerfQtA4AjI0IoIqwCaOU3EGEUFsM2DOirKWaUEDADex_051c8-ApBc_A6RS76UKOVLcwsFwRL0wPSPOq7BluynJOGIolU7ZpwTZOoHSzpFGFRH3VOeTkc5puCQJy_/w279-h400/tudo%20em%20todos%20os%20lugares.png" width="279" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Algumas palavras, agora, sobre as demais obras indicadas – saliento, que eu vi: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgws2KvLaDcu9dASv4Y-RHSY0T1eM6Vcbv-YsumI-RlfeBdqvqBBB7MgFcirJgbzkMDNjWx3ai7Q9SD9VAFvhb9X-ABdNmqav1ct0HuHI_lT-58YjDqal5qcWRtLK-mVM9uMFVUT2TkNgoC-r_78O7J4awrLePZv_KHDuLqd69P1y-c-heQWUHZsk1M/s1024/os-banshees-de-inisherin1.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="682" data-original-width="1024" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgws2KvLaDcu9dASv4Y-RHSY0T1eM6Vcbv-YsumI-RlfeBdqvqBBB7MgFcirJgbzkMDNjWx3ai7Q9SD9VAFvhb9X-ABdNmqav1ct0HuHI_lT-58YjDqal5qcWRtLK-mVM9uMFVUT2TkNgoC-r_78O7J4awrLePZv_KHDuLqd69P1y-c-heQWUHZsk1M/w400-h266/os-banshees-de-inisherin1.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">O irlandês <i>Os Banshees de Inisherin </i>(Martin McDonagh) passa-se numa ilha na costa oeste da Irlanda. Centra-se na história dos amigos Padraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson), mais especificamente na ruptura ocorrida entre ambos depois que o segundo se recusa a continuar amigo do primeiro. Para além da visada metafórica do filme – que, conforme acenou a crítica, metaforiza a ruptura traumática entre as duas Irlandas –, ele seduz pela construção matizada das personagens de Padraic e de sua irmã. Farrell, excelente, faz emergir com contenção e profundidade o espantoso da ruptura. A beleza do cenário recôndito e da trilha sonora emolduram a trama teatral, em que a dialética é colocada em primeiro plano. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Os <i>Fabelmans </i>(Steven Spielberg) é uma exegese bela, mas algo longa e arrastada, das memórias de seu diretor, desde que pela primeira vez ele coloca as mãos numa câmera cinematográfica, nos Estados Unidos dos anos de 1960. Michelle Williams, indicada ao Oscar de melhor atriz, é a mãe do menino – mulher típica da época, presa aos liames da maternidade e do casamento. Os amantes de cinema se identificarão com o menino que sonha em ser cineasta: sua primeira fascinação pela sala de exibição, sua formação como cinéfilo e realizador, a primeira vez que vê o seu ídolo diretor. No entanto, atravessa a obra um tom grandiloquente que me incomodou. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcFCJc4parogCzH5aDHgxpKx7frj01Bjbm5jFM2cMhupl4zlUFg5SeBilgDde-xH8wtKvCINXwHnr6uJwuqI1fSNlzphmQWFyJ6XYcugfhcUAxgW_pRXWsvFTag7OhqFxGWXg8L4olwGYiPevhwRkm7VghXkG-F7EVopgzshmv_-q0Kg8b0nVRX8eg/s1200/triangulo_da_tristeza_2_.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="1200" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcFCJc4parogCzH5aDHgxpKx7frj01Bjbm5jFM2cMhupl4zlUFg5SeBilgDde-xH8wtKvCINXwHnr6uJwuqI1fSNlzphmQWFyJ6XYcugfhcUAxgW_pRXWsvFTag7OhqFxGWXg8L4olwGYiPevhwRkm7VghXkG-F7EVopgzshmv_-q0Kg8b0nVRX8eg/w400-h210/triangulo_da_tristeza_2_.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Em <i>Triângulo da Tristeza</i>, Ruben Östlund centra-se nos personagens de um casal de top models internacionais. A narrativa principia esmiuçando com assertividade ímpar os meandros da indústria da moda: a coisificação dos corpos, a indústria da propaganda, a mercantilização das relações sociais. Tal e qual cobaias de laboratório, o jovem casal que principia a história travando uma disputa para decidir quem pagará a conta do restaurante de grife acaba solto num luxuoso cruzeiro e, enfim, numa ilha deserta, depois que o navio afunda. Östlund estabelece e redefine com maestria os lugares sociais do grupo com quem os jovens cruzam, nesta que é a mais disruptiva obra do Oscar. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPiXez_ELiHBMtpV3PdiyHIFBzPdod3AyTyVw_wW3u7H7w6ncpZpDALewqpzyOn17bSyDW6gbGwqtwpgF06N-fDl7WS75BfZlaRAwrQ0F7I7sVh6PVQraPh44vgmMnn6DsrNsuH24fgp9RW6cBbgNAqOgXIzNF2eM76qjXYoPz_sBwv-6OmaETiIC4/s512/entre%20mulheres.webp" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="288" data-original-width="512" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPiXez_ELiHBMtpV3PdiyHIFBzPdod3AyTyVw_wW3u7H7w6ncpZpDALewqpzyOn17bSyDW6gbGwqtwpgF06N-fDl7WS75BfZlaRAwrQ0F7I7sVh6PVQraPh44vgmMnn6DsrNsuH24fgp9RW6cBbgNAqOgXIzNF2eM76qjXYoPz_sBwv-6OmaETiIC4/w400-h225/entre%20mulheres.webp" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Por fim, dois filmes centrados em personagens femininas: <i>Entre mulheres </i>(Sarah Polley) e <i>Tár </i>(Tod Field). O primeiro, premiado com o Oscar de melhor roteiro adaptado, ficcionaliza em cima da história real de certa comunidade carola cujos homens isolavam as mulheres, impedindo-as de estudar e as intoxicando para submetê-las a violações sexuais que eles atribuíam ao sobrenatural. A premissa é dolorosa e precisa, as atuações densas, e a intenção – de se dar a voz exclusivamente aos dramas e lutas femininas, de forma dialética, num jogo teatral – é das melhores. No entanto, há falta candente de verossimilhança neste quadro: a densidade dos argumentos relativos à submissão feminina lançados à roda por essas mulheres não condiz com o seu lugar social. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimD7EVbOFWCMFBX9aImOQcmG9OSlEMp0Umnq9Je0cpsEx5_UEaD6Hr0PvNJih8oZMkpKLu4E4AkonXr2beZ8zzCpbIEewqqoNIeBE9-mIM2EF0tdT0Yt5F1GJxDLVqd6ayyCYkACkcxie0ELNYh4vu8_iAT4tAAfsoeOD8n50M9svH7yS2WShj2pUY/s550/TAR-scaled-367x550.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="550" data-original-width="367" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimD7EVbOFWCMFBX9aImOQcmG9OSlEMp0Umnq9Je0cpsEx5_UEaD6Hr0PvNJih8oZMkpKLu4E4AkonXr2beZ8zzCpbIEewqqoNIeBE9-mIM2EF0tdT0Yt5F1GJxDLVqd6ayyCYkACkcxie0ELNYh4vu8_iAT4tAAfsoeOD8n50M9svH7yS2WShj2pUY/w268-h400/TAR-scaled-367x550.jpg" width="268" /></a><span style="font-family: georgia;">Já <i>Tár </i>toma como objeto uma sorte oposta de personagem feminina, ficcionalizando sobre os esforços da regente da reputadíssima Filarmônica de Berlim (escolha irônica, dado o notório preconceito de gênero daquele grupo) para se alçar e se manter neste posto. Alguma tinta foi gasta, especialmente por mulheres do ramo, criticando a vilania da personagem. No entanto, a câmera oscila entre objetivas diretas e subjetivas indiretas, mergulhando um bocado nos fantasmas interiores da mulher, daí à impossibilidade de cravarmos a sua vilania. A derrocada de Tár é tão altissonante quanto a sua ascensão: ela termina comandando uma orquestra de fundo de quintal asiática durante a projeção de um filme de super-herói. A inverossimilhança se sobrepõe à vilania, e a curva dramática forçada serve sobretudo à Cate Blanchett, maravilhosa como sempre.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;">Amado e odiado, o Oscar segue há quase 100 anos o prêmio mais relevante da indústria do cinema. Apesar das controvérsias que gera, que ele siga fomentando a frequentação das salas de exibição – que decai a olhos vistos frente ao <i>streaming </i>–, e retirando do ostracismo gente que o merece, a exemplo de <b><span style="color: #bf9000;">Brendan Fraser</span></b>.</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmhblO4DEZXJ8VWJeCnACKPVQamHLZzY3bOCq2t868h0U5YKqBzdgIlj1rewR-Y4-_T7DL1wfqgrTgTnSBsTkliDC4rdIk_80W8RpCASIwJB9_WCVUM4pHfUmoDSy_4CUNUHWMt3e2-Hu3_pjmypaKfFJQ9hLXuDcNM7jAWiwyORXRstUdEAcLqjno/s1280/A-BALEIA-002.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmhblO4DEZXJ8VWJeCnACKPVQamHLZzY3bOCq2t868h0U5YKqBzdgIlj1rewR-Y4-_T7DL1wfqgrTgTnSBsTkliDC4rdIk_80W8RpCASIwJB9_WCVUM4pHfUmoDSy_4CUNUHWMt3e2-Hu3_pjmypaKfFJQ9hLXuDcNM7jAWiwyORXRstUdEAcLqjno/w400-h225/A-BALEIA-002.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-10447921103175796492022-10-13T17:07:00.001-03:002022-10-13T17:07:53.815-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 - Dia 8, parte 2<p style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;"></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDWZzdxIlqcDT7Sic8Fs5dlx2p1aNKFFne4JbysCA16aT4bNnML4cLdKuif82Wmc4PwE3OOXpaNX1ZhagbmSJJkrVrQZxpkabvB9DnJBw4QV4voFDTGWBLext3DFrXY4vLlyZGa_Q1chWqNazqi6vIzIGTO--wguVocu8k4zfybKCxxLt4WEveD7v-/s3313/up%20in%20Mabel%203.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3313" data-original-width="2223" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDWZzdxIlqcDT7Sic8Fs5dlx2p1aNKFFne4JbysCA16aT4bNnML4cLdKuif82Wmc4PwE3OOXpaNX1ZhagbmSJJkrVrQZxpkabvB9DnJBw4QV4voFDTGWBLext3DFrXY4vLlyZGa_Q1chWqNazqi6vIzIGTO--wguVocu8k4zfybKCxxLt4WEveD7v-/w430-h640/up%20in%20Mabel%203.jpg" width="430" /></a></span></b></div><b><span style="font-family: georgia;"><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">Dia 8: sábado, 8 de outubro de 2021 </span></b></div></span></b><p></p><div style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuvo1VVsKbchRSgwKtd40DdV6J9J39MUETLkBb9Ti7UajQqv86VOtZSqgVmbcPwthNtLyMghAI049hiaTPJWdbinIKNAo2xaKIQ5f46iUiqg1OGjxfho7KJnUtyE4huvkoNgNdb_6-NI2BrEBHBjd86dA0QNoAAjT2exMaZOJwJBf4ScjeFHvujSRY/s716/up%20in%20Mabel%202.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="570" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuvo1VVsKbchRSgwKtd40DdV6J9J39MUETLkBb9Ti7UajQqv86VOtZSqgVmbcPwthNtLyMghAI049hiaTPJWdbinIKNAo2xaKIQ5f46iUiqg1OGjxfho7KJnUtyE4huvkoNgNdb_6-NI2BrEBHBjd86dA0QNoAAjT2exMaZOJwJBf4ScjeFHvujSRY/w319-h400/up%20in%20Mabel%202.png" width="319" /></a><span style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;">Último programa da <i>Giornate</i>. Como anunciado na resenha <a href="http://ofilmequeviontem.blogspot.com/2022/10/giornate-del-cinema-muto-2022-dia-8.html" target="_blank">anterior</a>, vimos a comédia norte-americana <i>Up in Mabel’s Room</i> (1926, Mason Hopper, 79 min.), preservada pela UCLA Film & Television Archive, de Los Angeles. Um grande fecho, que coroou escolhas no geral bem feitas – sei que prego no deserto sempre que ressalto a necessidade de filmes latino-americanos na Mostra, quase de todo ausentes nos eventos presenciais, em que o programa é mais extenso, e completamente ausentes na secção virtual da mostra. Mas vamos aos apontamentos sobre a obra de Hopper. </div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><i>Up in Mabel’s Room</i> é uma ótima comédia da Companhia de Al Christie cujos laivos farsescos são ressaltados pelo excelente trabalho realizado em colaboração entre o pianista e violinista/violista Günter A. Buchwald e a Zerorchestra – orquestra de pegada jazzística nascida em Pordenone no centenário do cinema, em 1895, e que presta a ele um tributo inquestionável, já que suas colaborações anuais na <i>Giornate </i>são sempre pontos altos do evento. Esse trabalho conjunto explicita o papel fundamental da música na “cena muda” – é claro que a condição ótima encontrada na <i>Giornate </i>não se observava usualmente, na época, nos cinemas do redor do mundo. Sobretudo neste caso, em que o <i>éthos </i>da Zerorchestra se casa tão bem com <i>Up in Mabel’s Room</i>, sublinhando o tom chistoso do filme. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A obra se trata de uma comédia de <i>boudoir </i>protagonizada por Mabel Ainsworth (Marie Prevost). Apanhamo-la a princípio a bordo do navio que a leva da França aos Estados Unidos, perseguida por um grupo de marmanjos que disputa a sua atenção. O intertítulo bem-humorado dá o tom do filme: “No passado, um navio era abalado por um rabo de baleia. Hoje, basta a presença de uma bela mulher para que isso aconteça”. </span></div><div style="text-align: right;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGCSMI2ooI56-BA9SIglw9HPa0KdA2rVadHzx8FTWmGjPvw7DTWyzCOT3pGJ5C3oNs7WRLWS_0ePyhP-ARLlfKuUWJ5zhWRLAG0DYbZsGswPX4psvF0xzYydC2CaZzwGXxHGZpcFLXCi0hz6Yl7kWsG_bSHNdUE0MWjbGZr-tR4942BWheGAhDS_DJ/s800/up%20in%20Mabel%205.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGCSMI2ooI56-BA9SIglw9HPa0KdA2rVadHzx8FTWmGjPvw7DTWyzCOT3pGJ5C3oNs7WRLWS_0ePyhP-ARLlfKuUWJ5zhWRLAG0DYbZsGswPX4psvF0xzYydC2CaZzwGXxHGZpcFLXCi0hz6Yl7kWsG_bSHNdUE0MWjbGZr-tR4942BWheGAhDS_DJ/w400-h225/up%20in%20Mabel%205.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;">Mais que bela, Marie Prevost é uma luz; uma ótima e carismática atriz cômica que, de saída, faz todos os olhos convergirem para si. Convence-nos plenamente quando coloca no bolso o galã Harrison Ford, que na obra desempenha o papel de Garry Ainsworth, um reservado arquiteto norte-americano o qual se casa com essa fresca mocinha num rompante em Paris – casamento e divórcio ocorrem de forma tão rápida e tumultuosa que o marido decide obliterá-los de sua vida, apresentando-se a todos como solteiro. </div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mabel, todavia, decide se reapresentar na vida do ex-marido – “Garry, eu te achava tão danadinho, mas descobri que você é tão bom”, ela confidencia para a foto do ex-marido depois da perseguição que sofre a bordo. O mote do divórcio, e também a mola propulsora dos quiproquós da comédia, é a sensualíssima (até para os nossos dias) <i>lingerie </i>com que Garry presenteia a esposa; presente que ela decide abrir apenas depois de concluído o processo de divórcio, só aí descobrindo o motivo pelo qual ele guardara tanto sigilo quando ela o encontrou adquirindo um apetrecho suspeito numa loja feminina. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ao gosto do gênero cômico, orbita este casal uma série de personagens tipificados que vão se encontrar na casa da matrona Henriqueta (Maud Truax), onde se situa o tal quarto de Mabel em que todos os reveses têm lugar: além de Garry, a jovem Sylvia (Phyllis Haver), mulher que o ama e da qual ele se torna noivo apenas para se ver livre de Mabel; o abnegado apaixonado Paul Nicholson, que malgrado ame Sylvia empresta a Garry o anel de noivado que daria à moça, pois sabe que ela ama o amigo e não ele; o jovem casal Jimmy Larchmont (Harry Myers) e Alicia (Sylvia Breamer), que deseja comemorar um <i>mesversário </i>de casamento por saber que muitos casais não duravam um ano (e que vê o seu casamento perigar devido à <i>vamp </i>farsesca Mabel); Hawkins (William Orlamond), o criado de Garry – que procura sem sucesso manter o porte de mordomo londrino frente às mais absurdas situações (os esconderijos debaixo da cama e dentro do baú, o entra e sai pela janela, o banho inopinado depois que um cano de água estoura, etc.). </span></div><div style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXRwRcZtJAw7KSUIcqNDO0i610DmpHo_05Pm6g0_qmNEhbLu3dx2wlv96ZvHE5ZGjTI5soaCfGtTNwQqTsA3z7Iuj-qq6IRrB6Ldb8nPdyumHdgUxQ3Yiaav41-f3Cy9LNoo7e3FLJFWnVfYz38vtlhC2SPZrE1ragv_s9wNCtSYYdD-xWmSZMFT6I/s796/up%20in%20Mabel%204.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="796" data-original-width="696" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXRwRcZtJAw7KSUIcqNDO0i610DmpHo_05Pm6g0_qmNEhbLu3dx2wlv96ZvHE5ZGjTI5soaCfGtTNwQqTsA3z7Iuj-qq6IRrB6Ldb8nPdyumHdgUxQ3Yiaav41-f3Cy9LNoo7e3FLJFWnVfYz38vtlhC2SPZrE1ragv_s9wNCtSYYdD-xWmSZMFT6I/w350-h400/up%20in%20Mabel%204.jpg" width="350" /></a><span style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;">Escrito por F. McGrew Willis a partir da peça cômica de Wilson Collison & Otto Harbach (de 1919), <i>Up in Mabel’s Room</i> parece ter sido engendrado por Nöel Coward, tão ágeis são seus cortes e sofisticado é o seu jogo de cena. O filme é ainda uma brisa de ar fresco no que diz respeito ao modo como encara as imposições sociais. O gênero cômico historicamente usa como arma a sátira para reformar os costumes. O sexo, visto nos dramas como vício, e que serve de mote para o descaminho dos indivíduos, é aqui lido com humor. O arquétipo da <i>vamp</i>, em voga ainda nas portas dos anos 30, é aqui lido de soslaio – a assertividade de Mabel para reconquistar o marido é vista com bom-humor pela câmera, visada repercutida pela música, uma vez que a Zerorchestra faz uso com precisão dos sopros para criar não apenas os sons incidentais, mas o comentário irônico da ação. Também os gêneros sociais são botados à bulha no filme – o personagem “frágil” aqui é indubitavelmente Garry, que chega mesmo a vestir um <i>sexy peignoir</i> em cena, satirizando, a partir da inversão, a sensualidade imposta então pelo cinema ao sexo feminino. </div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Momento luminoso dos estertores do cinema dito “silencioso”, com o consórcio de Günter A. Buchwald e da Zerorchestra <i>Up in Mabel’s Room</i> ressurge-nos, hoje, em todo o seu esplendor, mostrando que este cinema que prescindia da palavra não é um item de museu, mas sim é substância viva, que pode dialogar com força com a nossa sociedade contemporânea – que, malgrado tenha tido 100 anos de tempo para evoluir, conserva-se tão assustadoramente carola.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-13445561466578234142022-10-11T09:39:00.001-03:002022-10-13T16:19:14.721-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 – Dia 8, parte 1<p style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;"></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhJt9pmw3Ky5lbkP-zRpWpXhwQNbCUvIH6K5VZ0EfUE0_LiGE0-kCYijNnMum1uEkqSoECcrj4RzcNKNBKaMrmZHC1npGwfnxV2qb3f4r852csoHFZ1r0TNWmPFXHoVCQq5IVccVR7pt0eGZ6Z4XTm1owh1b7ggupySpF-PSzUnTtXIKfhHTfUUmPN/s800/The_Lady%204.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="530" data-original-width="800" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhJt9pmw3Ky5lbkP-zRpWpXhwQNbCUvIH6K5VZ0EfUE0_LiGE0-kCYijNnMum1uEkqSoECcrj4RzcNKNBKaMrmZHC1npGwfnxV2qb3f4r852csoHFZ1r0TNWmPFXHoVCQq5IVccVR7pt0eGZ6Z4XTm1owh1b7ggupySpF-PSzUnTtXIKfhHTfUUmPN/w400-h265/The_Lady%204.jpg" width="400" /></a></span></b></div><b><span style="font-family: georgia;"><br />Dia 8: sábado, 8 de outubro de 2021 </span></b><p></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Derradeiro dia da <i>Giornate</i>. Duas obras do período final da arte muda nos foram exibidas em dois programas diferentes, ambas norte-americanas, um drama e uma comédia: <i>The Lady </i>(de 1925, dirigido por Frank Borzage, 85 min.), acompanhada ao piano por Daan Van Der Hurk, e <i>Up in Mabel’s Room </i>(1926, Mason Hopper, 79 min.), que teve acompanhamento musical de Günter A. Buchwald e da Zerorchestra. Antes do drama de Borzage foi igualmente exibido o curta <i>Japan I Fest </i>(<i>Japan festivals</i>, <i>circa </i>1914-16). Cada programa será aqui apresentado numa resenha separada. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Como destaca Jay Weissberg, diretor do festival, o curta faz parte dos 4% da produção silente japonesa que resistiu ao tempo. Trata-se, portanto, de uma preciosidade, a qual foi localizada na Nasjonalbiblioteket, em Oslo/Mo i Rana – nem o título, nem a data de sua produção remanescem, tendo sido ambos atribuídos pela instituição que localizou a obra. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRLrd--O3Yjzm4OpQdzVrBcm_K_BmGllpZ7R-Z11lnPnc51pY-qDQB_K99jd1uzkHZsDXfW_L6T-xRrUSr1QuD-d1jYhq9BjvaRJjkUxvuNiUUiYKDH5errCbvlkbGGG5jX3zlZ594ZvPrmU0vZmpK4G1tuBEy3zHDNTSDTg3BtEf1WsxkpjqSgsov/s2362/Japan%20I%20fest.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1762" data-original-width="2362" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRLrd--O3Yjzm4OpQdzVrBcm_K_BmGllpZ7R-Z11lnPnc51pY-qDQB_K99jd1uzkHZsDXfW_L6T-xRrUSr1QuD-d1jYhq9BjvaRJjkUxvuNiUUiYKDH5errCbvlkbGGG5jX3zlZ594ZvPrmU0vZmpK4G1tuBEy3zHDNTSDTg3BtEf1WsxkpjqSgsov/s320/Japan%20I%20fest.jpg" width="320" /></a></div>Duas cerimônias nos são apresentadas, o ritual de encontro dos sacerdotes budista e Shintō e a procissão Tayū Dōchū. A segunda delas tem um destaque incontornável – foi a partir da data deste desfile, documentação que resistiu ao tempo, que se pôde datar o filme. Trata-se do desfile das Oirans, cortesãs de categoria mais elevada que as gueixas, que poderiam oferecer favores sexuais – com exceção da Tayū, a mais elevada categoria entre elas –, além de serem cultivadas nas artes tradicionais. Assim, moças e menininhas que mal se sustentam nas pernas sucedem-se umas às outras, desfilando maquiagens que as assemelham às bonecas de porcelana e belos e pesados trajes. Suas chinelas de altas plataformas e seus passos cruzados terminam por as destacar dos demais mortais que as observam aos milhares, muitas vezes maltrapilhos e encardidos. O Japão que se perdeu na poeira dos tempos surge aqui com todo o seu esplendor e o exotismo que tanto atraiu as plateias ocidentais à época. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJbf0KgEnQ9lRp8wFr1-KmzOWQDEyVooO1gtVxAz3w8I2kArvb34vxHk2sS7tWwS09t-kJJ3DwtB2jX0g6Q7rgq1rb3jJKrQ4giCjgyZiW6k8_NGR5ldsCYIVtJh64914krVpTKj0GvD2HnM9fEwqLg_xLpcqS4jYBBfoA2ZARbMfA1FMrqHhrmkIH/s716/the%20lady%201.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="565" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJbf0KgEnQ9lRp8wFr1-KmzOWQDEyVooO1gtVxAz3w8I2kArvb34vxHk2sS7tWwS09t-kJJ3DwtB2jX0g6Q7rgq1rb3jJKrQ4giCjgyZiW6k8_NGR5ldsCYIVtJh64914krVpTKj0GvD2HnM9fEwqLg_xLpcqS4jYBBfoA2ZARbMfA1FMrqHhrmkIH/w316-h400/the%20lady%201.png" width="316" /></a><span style="font-family: georgia;">Em seguida exibiu-se <i>The Lady</i>, a segunda obra protagonizada por Norma Talmadge (atriz homenageada pelo festival) apresentada na versão digital da Giornate. Dirige-a Frank Borzage, competente diretor do gênero dramático, a quem cabe a batuta, por exemplo, da obra-prima <i>Seventh Heaven </i>(1927). Na obra, Talmadge desempenha o papel de Polly Pearl, a jovem atriz de Teatro de Variedades na França dos estertores da <i>Belle Époque</i>. A obra se constrói a partir de <i>flashbacks</i>. O passado de desventuras ressurge dos lábios da já madura Polly, na mesa de seu bar, enquanto ela desfia a sua vida pregressa a um frequentador. Aqui conhecemos outras facetas da atriz que nos surpreendeu em <i>Yes or no</i>. Norma Talmadge não à toa era bem reputada – ela se tratava de uma das mais talentosas atrizes da Hollywood dos anos de 1920. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br />O catalisador da narrativa da senhora é a chacota que ela sofre de um frequentador do seu estabelecimento quanto diz a ele que é uma <i>lady</i>. A partir dos flashbacks, observamos que ela passou uma vida tentando atingir o <i>status </i>de dama, desde quando, ainda jovem, foi rechaçada pelo sujeito com o qual se casara (um típico almofadinha, formado nos rapapés da sociedade, mas raso como um pires e de moral claudicante) porque ela não compreendia o jogo social. Polly pare um filho deste relacionamento no reles boteco de beira de cais no qual ela passa a trabalhar. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt0lJB2Y_WdbI8rzCSZ7P4A--lwT1rqYgAzqspcQO9ZW-opOFDG6XnL4WOhS3fKIFUW-qGQLxmPQOxj1b7zOJNsDP-u5pDa0wwTlxgq6fobNnrYaHLGLBu2ce2v4agOwNucUU-PX-Nm8McoYzoiKpuiTT7JNhnjwmCWJKkGzbQdKlXEGrD7n8zvjR-/s716/the%20lady%202.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="571" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt0lJB2Y_WdbI8rzCSZ7P4A--lwT1rqYgAzqspcQO9ZW-opOFDG6XnL4WOhS3fKIFUW-qGQLxmPQOxj1b7zOJNsDP-u5pDa0wwTlxgq6fobNnrYaHLGLBu2ce2v4agOwNucUU-PX-Nm8McoYzoiKpuiTT7JNhnjwmCWJKkGzbQdKlXEGrD7n8zvjR-/w319-h400/the%20lady%202.png" width="319" /></a><span style="font-family: georgia;">O bebezinho comove a dona do estabelecimento – e a gente, e as pedras...–, que ajuda a malfadada jovem quando o avô da criança surge para reavê-la, e a mãe teme que o menino tenha o mesmo fim do pai no aspecto moral. Depois de entregá-lo a uma velha senhora inglesa pertencente à alta sociedade se afeiçoara a ele, Polly encetará durante anos um périplo pelas ruas da cidade, como uma gasta vendedora de flores nas ruas de Londres, procurando em todas as crianças o menino que se fora. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Todavia, quererá o destino, essa entidade tão querida ao melodrama, que a mulher o encontre quando termina de contar a história, em seu próprio bar, após um tiroteio ter lugar ali. O dispositivo de reconhecimento, outra tópica do gênero, é aqui bastante criativo: o rapaz jaz desmaiado nos braços da mãe incrédula, sendo reconhecido pela pulseira com o seu nome que ele traz no pulso, já que faz parte de um batalhão. Quando ele acorda, ela procura, sem se desvelar, assumir para si o tiro que, na confusão, ele dera no próprio amigo. É uma “perfeita <i>lady</i>”, afirma-lhe o seu interlocutor, atribuindo a si o epíteto que a vida toda lhe fora negado. Também o menino fora criado para ser um cavalheiro, ela constata, já que não aceita que ela purgue pelos seus erros. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwo3s2FeL1RkL2i8e95iytrjsHDHiuxeeKNspV3CwQq7VbK0yy59QNK14-oEpX7MgLF_D0adfSmvgPaUaXG0UPSPSzNNj3QPoyXZ1D5DHRQAkl6cWucUjgXp6UapVsMB3i6wA7tuUOv8FxDQra4YPCrvSY_sbO9prle3p3mLU41YRj4rQywx_Xl3bv/s383/the%20lady%204.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="245" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwo3s2FeL1RkL2i8e95iytrjsHDHiuxeeKNspV3CwQq7VbK0yy59QNK14-oEpX7MgLF_D0adfSmvgPaUaXG0UPSPSzNNj3QPoyXZ1D5DHRQAkl6cWucUjgXp6UapVsMB3i6wA7tuUOv8FxDQra4YPCrvSY_sbO9prle3p3mLU41YRj4rQywx_Xl3bv/w256-h400/the%20lady%204.jpg" width="256" /></a><span style="font-family: georgia;">O enredo da obra, adaptado por Frances Marion da peça de Martin Brown, é um bom exemplar do gênero melodramático, construindo caracteres e ação de modo verossímil – sempre lembrando-nos de que aqui se trata de verossimilhança de melodrama, em que invariavelmente se injeta uma dose de fantástico. Há ótima reconstituição de época, especialmente do fim da <i>Belle Époque</i>, período de barreiras sociais mais rígidas – para além de seus glamurosos espetáculos de <i>vaudeville</i>, os eventos sociais frequentados pela nata na Riviera francesa, que apenas aceitavam os iniciados. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O <i>páthos </i>melodramático é mobilizado com eficácia notadamente por Norma Talmadge, que, num desempenho contido, não só é a dama como é a mãe arquetípica. O talentoso pianista Daan Van Der Hurk mimetiza-a, desenhando a ação musicalmente com calidez despida de pieguice. Esses dois filmes protagonizados por Norma Talmadge foram um convite assertivo ao público da <i>Giornate </i>para que a obra desta ótima atriz da arte muda seja conhecida em sua extensão.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-50149171616017573112022-10-10T09:18:00.001-03:002022-10-10T09:19:47.689-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 - Dia 7<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3inLhg7k3fhbAK8SPA0JnmPqucphThjg2iSYbF8G6u8wL46KITwdUeLTsKK699NKfkbhU6UQbT0Fy6UcwSHDz8ytRcsCYY2FKh0vA9KQhgiEgLQSoE2kSdnyzTudHixwTEqMrSmhOaxKplyCQY6J6qU-aFFgQwfn0MIZnQqBQu3OT9ihZU_7q1GZS/s417/Manolescu%204.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="300" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3inLhg7k3fhbAK8SPA0JnmPqucphThjg2iSYbF8G6u8wL46KITwdUeLTsKK699NKfkbhU6UQbT0Fy6UcwSHDz8ytRcsCYY2FKh0vA9KQhgiEgLQSoE2kSdnyzTudHixwTEqMrSmhOaxKplyCQY6J6qU-aFFgQwfn0MIZnQqBQu3OT9ihZU_7q1GZS/w288-h400/Manolescu%204.jpg" width="288" /></a></div><b style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;"><b style="font-family: georgia;"><br /></b></div>Dia 7: sexta-feira, 7 de outubro de 2021</b><span style="font-family: georgia;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A Giornate abre espaço para a sua primeira <i>vamp</i>, neste seu penúltimo dia. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6SSJ9m94eGi6NS2jbkKEzv5dRSY069m-lZiquEnef75IHbmB0o-05eh0uKkc19EDmNyNjaaFAg0xNKamsns0yABFNZy7_y7RzSY3a8UPhZqH33SnGJhhRezxbipUqgO80DRkYJOwUOipeu4EutjuMy9yT433HfLUD9F4x277aihSHC8Ob9EuPXNb2/s1472/Manolescu%201.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1472" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6SSJ9m94eGi6NS2jbkKEzv5dRSY069m-lZiquEnef75IHbmB0o-05eh0uKkc19EDmNyNjaaFAg0xNKamsns0yABFNZy7_y7RzSY3a8UPhZqH33SnGJhhRezxbipUqgO80DRkYJOwUOipeu4EutjuMy9yT433HfLUD9F4x277aihSHC8Ob9EuPXNb2/s320/Manolescu%201.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Em cena, a divina Brigitte Helm dá corpo a Cleo na dinamarquesa <i>Manolescu </i>(Viktor Tourjansky, 1929). O personagem-título da obra (desempenhado por Ivan Mosjoukine) é um boêmio que desce a ladeira da criminalidade por amor à tentadora personagem de Helm. Estamos aqui no terreno pantanoso da mítica do cinema silencioso dos anos de 1920, que bebe daquela oriunda da literatura (que, por sua vez, espelha o cristianismo), a qual atribuía laivos nocivos à mulher que se desviava minimamente do <i>status quo</i>. Era exíguo, então, o espaço à fêmea sexualmente assertiva, personagem dominante da relação, a qual era invariavelmente fadada à perdição, à solidão ou à morte. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Na abertura da obra, flagramos o notívago Manolescu despertando à hora de ir ao cassino. Após receber do local uma carta de desconvite, uma vez que ele já devia muito à casa, vê, nos dizeres brilhantes do teatro mais próximo, a chave de seu destino: “Nova revista Adeus Paris: Rumo a Monte Carlo”. O personagem embarca na mesma noite, encontrando, no vagão-dormitório vizinho, Cleo (Brigitte Helm): loura, longilínea, nariz e lábios finos, todo o arquétipo da vampira impregnado num corpo de mulher. Ela escapa do companheiro, cuja violência teme. Escondendo-se no vagão de Manolescu para fugir à apresentação do passaporte, acaba enredada por ele, numa cena suficientemente elíptica para fugir à censura, mas que acena para um estupro clássico. Portanto, o fato de ambos encetarem um relacionamento romântico ato contínuo choca os nossos olhos contemporâneos. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkLYuYWaSwhhOcJVJQkwwCUkm7FSbCT9dSFRoSMvvhAoUtA1suucYQKGt8tl5VMpg9D7R7NDj4Ykx5AV0UNtBMmhbJziLEzFH_pnP13UE7Q61SjejW0plmaleyjUEkY4CE4XwaSBtUYNYRNiY530leiSPeNbA8agcWN44rasookJOG6rNS8peX3_b5/s1472/Manolescu%202.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1472" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkLYuYWaSwhhOcJVJQkwwCUkm7FSbCT9dSFRoSMvvhAoUtA1suucYQKGt8tl5VMpg9D7R7NDj4Ykx5AV0UNtBMmhbJziLEzFH_pnP13UE7Q61SjejW0plmaleyjUEkY4CE4XwaSBtUYNYRNiY530leiSPeNbA8agcWN44rasookJOG6rNS8peX3_b5/s320/Manolescu%202.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">À medida que o casal percorre a Riviera francesa, seus interlúdios românticos entremeiam-se aos crimes que passam a cometer para manterem o status social. Logo Manolescu já se torna conhecido da polícia como ladrão e falsificador. Na lógica construída nessa cinematografia, à exemplo da literatura da qual ela bebe, a culpa é sempre da mulher, da “Bela dama sem misericórdia” da balada de John Keats e de toda uma vertente literária que remonta aos tempos medievais: Cleo equilibra-se entre Manolescu, o amante do qual ela outrora fugira e todos os homens que podem lhe representar qualquer chance de retorno pecuniário. Embora contada em terceira pessoa, a história é simpática ao protagonista, cujo <i>turning point</i> se dá a partir do momento em que se vê entre a vida e a morte no hospital, depois de ter sido agredido pelo antigo amante de Cleo – o qual, por sinal, invadira o quarto dela para subjugá-la. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNHglv492DyHnKbxxYvgXjqjXewdSXIXu21wDHZltJVtoe6rtkyUZPovmGjm8Q2mUNeVqpk44WBh6PgVSMrM6jhv7-HBzfUT3Nyd00Ynbr_pLc3nBWAvb2ZcQz2lzNQhG4iQ214ySt-d-KBIZSyD31LLguksydBswCKsTuFiqaBu0H22s_zeXIgkyW/s1472/Manolescu%203.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1472" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNHglv492DyHnKbxxYvgXjqjXewdSXIXu21wDHZltJVtoe6rtkyUZPovmGjm8Q2mUNeVqpk44WBh6PgVSMrM6jhv7-HBzfUT3Nyd00Ynbr_pLc3nBWAvb2ZcQz2lzNQhG4iQ214ySt-d-KBIZSyD31LLguksydBswCKsTuFiqaBu0H22s_zeXIgkyW/s320/Manolescu%203.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Num pesadelo, Manolescu se vê pequenino sendo massacrado por um júri que lhe apresenta em alto e bom som os seus crimes. “Foi tudo sua culpa, Cleo”. Quem o acalma é Jeanette (Dita Parlo), em tudo o contraponto da <i>vamp</i>: morena, dóceis olhos amendoados, rosto corado – a enfermeira que o trata e que ele carrega para um refúgio nos Alpes para, por ordens médicas, terminar de se reestabelecer. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Repudiada por Manolescu quando o visita, Cleo apenas irá reencontrá-lo quando ele já pediu a outra em casamento, e o casalzinho enceta com a criada uma florida relação familiar em que esta torna-se a mãe substituta de ambos. A “família tradicional” desde sempre tão incensada exibe-se aqui em sua mais perfeita forma. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mesmo que (a deusa) Brigitte Helm despeje no antigo amante a sua ira – denunciando a Jeanette o passado dele –, o espectador ansioso apenas o verá atrás das grades após testemunhar, junto com os dois policiais que o vão prender, a mais pungente cena de harmonia familiar, em que este bandido moralmente reformado celebra a virada do ano com a jovem noiva. A Cleo cabe o retorno ao seu primeiro violento amante e, após a rejeição dele, o abandono. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg464wm5CAR81dJtEhrnjCLJUQR5g4sxwVIlL8OjhOhlXkMYFZMMuHgyOWp0thp8xSPfgwnjleXLbG559WiIesAjdUvjn1IfqXmEn-KFeUvEJXQbS_VQ-cJ_ZwfY4mMSaRHc6Xx-QvkKen8Fkq1pCYM1SlaoIBmuYIzccmvjtc0DAVafsXOvtvZOsOu/s630/Manolescu%205.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="404" data-original-width="630" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg464wm5CAR81dJtEhrnjCLJUQR5g4sxwVIlL8OjhOhlXkMYFZMMuHgyOWp0thp8xSPfgwnjleXLbG559WiIesAjdUvjn1IfqXmEn-KFeUvEJXQbS_VQ-cJ_ZwfY4mMSaRHc6Xx-QvkKen8Fkq1pCYM1SlaoIBmuYIzccmvjtc0DAVafsXOvtvZOsOu/w400-h256/Manolescu%205.png" width="400" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFMPY1CqeEs6mZsCdX1XW3QkyE0aSCEIe6n1nph6IEXbay4tVViytJRffaK27uST9n-eKq5GohO5G0_Ej83bEMvYHHXZYBV3RgTKpUYtqUjYvx1MWHaFutzy9Skcn2Uksjw2mNNQK0JzsD4QwnuCSzYICpQduP4Q5iSpN-mogPx4IQwK2lzoRH2q7Q/s1/manolescu%205.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1" data-original-width="1" height="1" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFMPY1CqeEs6mZsCdX1XW3QkyE0aSCEIe6n1nph6IEXbay4tVViytJRffaK27uST9n-eKq5GohO5G0_Ej83bEMvYHHXZYBV3RgTKpUYtqUjYvx1MWHaFutzy9Skcn2Uksjw2mNNQK0JzsD4QwnuCSzYICpQduP4Q5iSpN-mogPx4IQwK2lzoRH2q7Q/s1600/manolescu%205.gif" width="1" /></a></div></span><span style="font-family: georgia;">Trata-se, como se vê, de uma trama datada, rançosa, de caracteres delineados à flor da pele, de bem e mal claramente discerníveis... Enfim, de um espetáculo que usa o maquinário da possante indústria do cinema para nutrir a sanha da sociedade machista. No entanto, a performance de Brigitte Helm eleva-o desse preconceito rasteiro até a uma altura insuspeitada. Que excepcional atriz era esta mulher, que concebe com inteligência uma personagem esférica quando tudo o que se esperava do tipo que desempenhava era a planura: seu queixo altivo se projeta enquanto as suas pálpebras tremem, e vemos a fragilidade que precisa ser escamoteada frente à necessidade de se impor num mundo masculino. Helm porta os trajes da <i>vamp</i>, porém, subverte o tipo, construindo uma personagem que anuncia haver profundidade debaixo da aparência. Ela vale o filme.
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-78862740344017621422022-10-09T10:30:00.002-03:002022-10-09T11:50:53.747-03:00Giornate del Cinema Muto 2022 - Dia 6<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUtCyaYas_uponPatNxQdk0mVqaU0F387GZzEGpKrYREHMV7FlE6VK6DMC1YNhR_fydA1kPekqrEPCMgPRi-xPhXVAonSW-oslbevVFGzUYad5AZL9retd74GHoACTGwQTwK5ssZRGoQbkZd00Oqb5foIk6ZNPeu0TWBF9EaWhtzCBSyGsb8ij0DrQ/s421/The_Runaway_Princess%201.png" style="font-family: georgia; font-style: italic; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="236" data-original-width="421" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUtCyaYas_uponPatNxQdk0mVqaU0F387GZzEGpKrYREHMV7FlE6VK6DMC1YNhR_fydA1kPekqrEPCMgPRi-xPhXVAonSW-oslbevVFGzUYad5AZL9retd74GHoACTGwQTwK5ssZRGoQbkZd00Oqb5foIk6ZNPeu0TWBF9EaWhtzCBSyGsb8ij0DrQ/w400-h224/The_Runaway_Princess%201.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">Dia 6: quinta-feira, 6 de outubro de 2021 </span></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Derradeiros dias da <i>Giornate</i>. A obra exibida hoje foi a comédia </span><i style="font-family: georgia;">The Runaway Princess </i><span style="font-family: georgia; font-style: italic;">(</span><i style="font-family: georgia;">Priscillas Fahrt ins Glück</i><span style="font-family: georgia; font-style: italic;">, de Anthony Asquith), rodado, nos estertores da era silente (em 1929), em coprodução entre a Grã-Bretanha e a Dinamarca. Vimos uma cópia de bastante boa qualidade oriunda da londrina BFI National Archive, com acompanhamento musical de Phil Carli. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Trata-se, a exemplo de <i>His Majesty the Barber</i> – exibido dois dias antes –, de um excelente exemplar do gênero cômico, embora tenha um roteiro mais óbvio que aquele. Inspirada no romance <i>The Princess Priscilla’s Fortnight </i>(1905), de Elizabeth von Arnim, a obra narra a história de Priscilla (Mady Christians), a princesa de um reino fictício da Europa que se vê enredada num casamento arranjado com certo príncipe de um reinado vizinho. Ela o desconhece e tampouco deseja conhecê-lo. Procurando fugir da violência da imposição, foge do país no dia da apresentação oficial do noivo, acompanhada pelo velho mestre. Ambos vão dar na buliçosa Londres dos <i>roaring twenties</i>, de todo diferente do lugar bucólico donde saíram. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Outro filme, portanto, cujos cerne e caracteres são centrados nas tópicas da “Ruritania”. Outras características dessas obras presentes nesta é o travestimento. A princesa surge incógnita em Londres. Ali, procurará a todo custo viver uma vida comum, como o fazem tantas de sua estirpe espalhadas pela cinematografia antes e depois dela, a exemplo da (amada) Audrey Hepburn em <i>Roman Holiday </i>(<i>A Princesa e o Plebeu</i>, 1953). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Características originais dão frescor à tópica. São elas menos o galanteador (Paul Cavanagh) que Priscilla conhece ainda em sua terra – e por quem se apaixona reciprocamente –, o qual passa a persegui-la tão logo a encontra no trem, do que o trio de falsificadores de moeda que entrecruza os caminhos dos personagens. A moeda falsa que uma das moças da quadrilha desova nas mãos do mestre de Priscilla ainda no trem que os tira do reino de Priscilla pontuará a história, que é também costurada pela presença do “Detetive” atrapalhado (Claude H. Beerbohm), o qual erroneamente tomará Priscilla por uma das meliantes, colocando-se no encalço dela juntamente com o cortejador da jovem, que apenas a persegue com intuitos românticos. </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXlB4_XUhF3chDhClcnRGP8o4zd1zqZJenKIVGcQ_y3k70IZ9zYbKmlFG4FjCdr7nJva_G6QL_aecXoZM2D0rPFCrT0S6geHxZlgPPFXLILRwM-RtsM_ew8H3j_LE5wPGeFO0fBVnweHq7tBhOeLSURSYuQp7zMeA3ZxFBcmPVYeZWInKZVki_ycpJ/s1280/The%20Runaway%20Princess%202.jpg" style="font-family: georgia; font-style: italic; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXlB4_XUhF3chDhClcnRGP8o4zd1zqZJenKIVGcQ_y3k70IZ9zYbKmlFG4FjCdr7nJva_G6QL_aecXoZM2D0rPFCrT0S6geHxZlgPPFXLILRwM-RtsM_ew8H3j_LE5wPGeFO0fBVnweHq7tBhOeLSURSYuQp7zMeA3ZxFBcmPVYeZWInKZVki_ycpJ/w400-h338/The%20Runaway%20Princess%202.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><i>Gags </i>sucedem-se umas às outras, enquanto Priscilla procura (em vão) provar ao rapaz que pode ganhar a sua vida sozinha – recebendo como resposta dele (<i>hélas</i>) invariavelmente um paternalista riso de canto da boca. Num desses momentos – o mais hilário da <i>Giornate </i>até agora –, enquanto procura emprego numa loja de departamentos, a jovem acaba confundida com uma patinadora famosa, descobrindo o engano apenas quando é literalmente empurrada na pista onde ocorria certo desfile de moda, quase destruindo o lugar. Noutro, Priscilla termina contratada por uma das meliantes (atriz sensacional cujo nome me foge) depois de entregar ao trio de escroques um par de chapéus estropiados que vinham de ser “atropelados” no centro da cidade – já que a mocinha, embora princesa, era uma autêntica <i>caipira </i>no que concernia ao burburinho urbano. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O desfecho é, como já adiantei, óbvio: levada em juízo depois de ser tomada como membro da quadrilha, Priscilla é obrigada a desvelar a sua identidade; o seu par romântico – a quem a essa altura ela já se havia declarado – faz o mesmo e descobrimos (ohhh!) que ele não é outro senão o príncipe a quem ela fora prometida. Aqui, como em <i>The Roman Holiday</i>, não há espaço para o questionamento da tradição. Todavia, ao contrário do outro filme, não o há também para a melancolia, daí a semelhante arranjo da ação. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Em <i>The Runaway Princess</i>, no entanto, o percurso vale mais que o destino. Anthony Asquith é um grande artífice de gênero cômico, conduzindo a ação sempre com graça. Há aqui ainda uma excelente direção de atores, com destaque para o trio de escroques (sobretudo as moças, que atuam com uma ironia chistosa) e o par romântico (destaque incontornável para a deslumbrante Mady Christians). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">I</span><span style="font-family: georgia;">gualmente, se falta originalidade ao mote, o roteiro de Ian Campbell-Gray e Hermann Warm é repleto de cenas graciosas (a exemplo daquela em que a criada se finge gripada para que a condessa Distahl não suspeite de que Priscilla, que espirra, está escondida dentro do armário). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><i>The Runaway Princess </i>é também curioso porque, em suas tomadas documentais da Londres dos estertores dos anos 20, acena às tópicas das “Sinfonias Metropolitanas” rodadas contemporaneamente. E ao estabelecer como contraponto o bucolismo do reino fictício e a feérica cidade de Londres, joga luzes de forma acariciante à própria condição da Inglaterra, em que ambas as realidades poderiam coexistir.</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-77548570562578690632022-10-08T09:18:00.000-03:002022-10-08T09:18:59.442-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 - Dia 5<div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi72xnc1biIQL5DWuBM5qJoE2UYXvOY24PxvRLDKj22eJptGHhUcSNzlsV7bkvTItfJQrvPjl9_eMWW3aZb8kfy74NEATmZdZoInN7f8gWTG4tZL-3fCvM9iuIrLmMA6WRrdR5IlkdWwl0nu58rMvdcXAHG0qPrSvL-gYU1ZRb8b5S_u4OjYpnjQN03/s1280/po%20horach%203.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi72xnc1biIQL5DWuBM5qJoE2UYXvOY24PxvRLDKj22eJptGHhUcSNzlsV7bkvTItfJQrvPjl9_eMWW3aZb8kfy74NEATmZdZoInN7f8gWTG4tZL-3fCvM9iuIrLmMA6WRrdR5IlkdWwl0nu58rMvdcXAHG0qPrSvL-gYU1ZRb8b5S_u4OjYpnjQN03/w400-h338/po%20horach%203.png" width="400" /></a></div><br />Dia 5: terça, 5 de outubro de 2021 </span></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A <i>Mostra del Cinema di Venezia </i>faz 90 anos. Para celebrá-los, a <i>Giornate </i>exibe, em seus programas presencial e online, <i>Po Horách, Po Dolách</i> (1930), ou, <i>Over Mountains, Over Valleys </i>(<i>Para além dos montes, para além dos vales</i>, em livre tradução), documentário eslovaco rodado por Karel Plicka cuja cópia em nitrato foi gloriosamente restaurada pela pela Slovenský filmový ústav; obra que foi exibida durante a primeira Mostra, em 1932. Antes dela vimos o curta esloveno <i>Kralj Aleksander Na Bledu</i> (<i>King Aleksander’s Visit to Bled</i>, de Veličan Bešter, 1922). </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmOFbwqqtcTLwADo-VEkJqAL86DVJ8OCKdUgJQ6LOdifMW3XJHNmJYhhM9u1XYLZUhZq1insBM34LVribu4Z3P15SW8k9VvnI06LTCVKVL5mzefmKa5ZAaLnWBRNrGf0tuQd_18LJtImwH0btj99GulqEUNfgtDKJZWJdn6k4zqxYlgJ1f_mkL16lh/s344/krajl%201.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="274" data-original-width="344" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmOFbwqqtcTLwADo-VEkJqAL86DVJ8OCKdUgJQ6LOdifMW3XJHNmJYhhM9u1XYLZUhZq1insBM34LVribu4Z3P15SW8k9VvnI06LTCVKVL5mzefmKa5ZAaLnWBRNrGf0tuQd_18LJtImwH0btj99GulqEUNfgtDKJZWJdn6k4zqxYlgJ1f_mkL16lh/w320-h254/krajl%201.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">A Eslovênia situa-se na porção da Europa donde brotou a “Ruritania”. Daí o interesse que ela desperta não apenas na ficção, mas no documentário. Este curto filme se debruça sobre a passagem dos jovens noivos rei Aleksandar I Karađorđević e rainha Maria, por ocasião de sua lua de mel. Palacetes e o paradisíaco lago de Bled são objetos de longas panorâmicas banhadas em viragens coloridas que ressaltam a mítica do lugar. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O filme principal da noite é uma preciosidade, por conservar os folguedos e costumes de um conjunto de vilazinhas eslovacas, preservando-as à posteridade, tal qual a “múmia da mutação” referida por André Bazin. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Vasculho a história da Eslováquia, país cuja colonização remonta aos celtas, quase 25 séculos atrás. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcb30k-FeMA3Db0nFpdmFc9N9uoClMRmOqb1Sjr7cqrOUZfMhaCn1t0FRALT4YOm3cf9GIK41XbwtpVx2ms2kmvUJBAMcfAqcZcnaOBjrfjYmr5L2HEF3cPI1l_ir-tVX9UoMnJJ8WYAwIiNP_7Wq9iPrfS26vK5IWXp7FNwjFn5YTJniB30BipmzK/s1920/po%20horach%202.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1570" data-original-width="1920" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcb30k-FeMA3Db0nFpdmFc9N9uoClMRmOqb1Sjr7cqrOUZfMhaCn1t0FRALT4YOm3cf9GIK41XbwtpVx2ms2kmvUJBAMcfAqcZcnaOBjrfjYmr5L2HEF3cPI1l_ir-tVX9UoMnJJ8WYAwIiNP_7Wq9iPrfS26vK5IWXp7FNwjFn5YTJniB30BipmzK/s320/po%20horach%202.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Em 1918, ela formava com a Boêmia e a Morávia a Checoslováquia, Estado próspero que principiaria a se esboroar em fins dos anos 30, quando o Sul da Eslováquia cai nas mãos da Hungria. Chefiada por um líder fascista, em 1939 a Primeira República Eslovaca torna-se independente da Checoslováquia, dobrando-se aos nazistas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Karel Plicka flagra, no ano de 1930, este período de calmaria. Ou melhor, a constrói cinematograficamente, já que os inúmeros camponeses tomados nas dezenas de vilas situadas entre as montanhas do país invariavelmente surgem com seus trajes de domingo, prontos para ilustrar ao cinematografista cada brincadeira tradicional, cada técnica de bordado e de tecelagem, bem como o cuidado com a criação de ovelhas, o passo a passo de sua ordenha e a produção de queijo (destaquem-se as mais variadas e adoráveis formas esculpidas para a acomodação do laticínio – a exemplo daquela em forma de pato), e os rituais em torno do casamento. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6gAnjtr8EesJ_a-EUEQwYF_oCeyp5b7SZfs-eP4jAp4N1v71rEP_YiJHwLS7QhdVZPwzTW2Ca-buxPJuQ_nypXcacexfKoaPufycJWJR5JlZ6qBKs2P4eAoiFV3INQBvX8WXNG9yd7iCD3v-WMDTsIq3sJcyw2fkQnHsNPAkaht5JXPc-BIwyEOp2/s1024/Po%20Hor%C3%A1ch%20Po%20Dol%C3%A1ch%204.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="838" data-original-width="1024" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6gAnjtr8EesJ_a-EUEQwYF_oCeyp5b7SZfs-eP4jAp4N1v71rEP_YiJHwLS7QhdVZPwzTW2Ca-buxPJuQ_nypXcacexfKoaPufycJWJR5JlZ6qBKs2P4eAoiFV3INQBvX8WXNG9yd7iCD3v-WMDTsIq3sJcyw2fkQnHsNPAkaht5JXPc-BIwyEOp2/s320/Po%20Hor%C3%A1ch%20Po%20Dol%C3%A1ch%204.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Nesse afã de sistematizar os usos e costumes daquela gente, todos os personagens recebem destaque análogo. Como num compêndio, surgem as brincadeiras das garotinhas e dos garotinhos às jovens e aos jovens; as danças e os trajes típicos de cada região. A reiteração algo insistente das brincadeiras masculinas em que se ressalta o âmbito físico denota a força dos rapazes, ao mesmo tempo em que se destaca a delicadeza, a timidez e os dotes manuais das moças, que desde jovem aprendem a bordar com as matriarcas da família. Não há aqui espaço para o questionamento de valores tradicionais, mas sim o desejo de ressaltá-los, aparando quaisquer arestas. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ydQ0J0Hx3eDuofL3hdHd4mlNS51at3kB2eA7DnzCvUhk7XxxrkiMCuh-vy6Bqe5zqoxxE1X6L7mAe_1EPIjgP2OCbdNc_4_bA5TmaCh229YHfh3Tbqq8WbfTpycPYdOleZeCwtZSwvyh2uKn9cHv6bZ7R7WYIj8EnXhOeR5ZkTb-B1MSj0snrCrV/s668/po%20horach%201.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="422" data-original-width="668" height="202" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ydQ0J0Hx3eDuofL3hdHd4mlNS51at3kB2eA7DnzCvUhk7XxxrkiMCuh-vy6Bqe5zqoxxE1X6L7mAe_1EPIjgP2OCbdNc_4_bA5TmaCh229YHfh3Tbqq8WbfTpycPYdOleZeCwtZSwvyh2uKn9cHv6bZ7R7WYIj8EnXhOeR5ZkTb-B1MSj0snrCrV/s320/po%20horach%201.png" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Os vilarejos situados <i>Para além dos montes, para além dos vales</i> transformam-se no <i>locus amoenus </i>da tradição, lugares onde a paz é perene. E seus habitantes, tomados em incessantes <i>contra-plongées</i>, são monumentalizados para caberem na forma que o cinema de Karel Plicka constrói para eles. O filme convida-nos à contemplação, preferindo, à estruturação de um roteiro que delineie pontos altos, a flanerie. Dedica-se a desvelar as características de cada ponto de chegada, soando, por isso, ocasionalmente repetitivo. Este é, quem sabe, o objetivo principal de Plicka, que era folclorista e etnógrafo. O pianista Andrej Goricar tem trabalho em organizar este material no plano musical, dando-lhe ritmo, e o faz com desenvoltura.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-56651021597456744012022-10-07T11:31:00.002-03:002022-10-07T11:36:08.686-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 - Dia 4<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAQRPbi3VzBpeUSDAxaKLG8QIP3hGXa6ioElKMIZQwBvNU7eN-j9i5p9JStKHV5kItewmn7gHuF9cNrqEx1bdC6Uy7K8HqL0E4J2SrTCmiGm7L4K1lsfDlO_2XiyxtOgrxgW5rN7W-Kf3j5xzSvKx36oqwEJLW5z8Qg1AMGuTT-P7BjoyY0UkRSZnR/s2684/Hupert%201.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2101" data-original-width="2684" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAQRPbi3VzBpeUSDAxaKLG8QIP3hGXa6ioElKMIZQwBvNU7eN-j9i5p9JStKHV5kItewmn7gHuF9cNrqEx1bdC6Uy7K8HqL0E4J2SrTCmiGm7L4K1lsfDlO_2XiyxtOgrxgW5rN7W-Kf3j5xzSvKx36oqwEJLW5z8Qg1AMGuTT-P7BjoyY0UkRSZnR/w400-h313/Hupert%201.jpg" width="400" /></a></div><b style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;"><b style="font-family: georgia;"><br /></b></div>Dia 4: terça, 4 de outubro de 2021</b><span style="font-family: georgia;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Em seu quarto dia, a <i>Giornate </i>virtual nos preparou duas comédias, o curta norte-americano <i>Rupert Of Hee Haw </i>(dirigido por Percy Pembroke, da Hal E. Roach Studios, 1924) e o longa sueco <i>Hans Kungl. Höghet Shinglar/Majestät Schneidet Bubiköpfe</i>, ou <i>His Majesty the Barber/Sua majestade, o barbeiro </i>(Ragnar Hyltén-Cavallius, Oscar Hemberg, AB Isepa, National-Film, 1928). Ambos foram acompanhados com artesania ao piano por Donald Sosin. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O curta é protagonizado por uma estrela cômica da época, Stan Laurel, na pele do rei do reinado fictício que se duplica no pelintra Rudolph Razz – à exemplo do que aconteceu com outra realeza esta semana, Wladimir, em <i>Sui gradini del trono</i>. Aqui, no entanto, o viés é cômico – tanto que, a partir do expediente da inversão cômica, a cópia é melhor que o original, que vive bêbado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Também um romance erige a história. Todavia, a mocinha – a Princesa Minnie (Mae Laurel) – é desprezada pelo questionável monarca, o que dá ensejo a uma série de quiproquós que sustentam um humor de pastelão por 20 minutos, muito bem aproveitados por Sosin, o qual tira do piano impagáveis sons incidentais que ressaltam as síncopes do filme. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A parte principal do programa da noite foi esta obra-prima de comédia sueca, His Majesty the Barber. Como o filme anterior e porção das películas exibidas no programa presencial da <i>Giornate</i>, centra parte importante de sua ação numa cidade fantasiosa, curiosamente denominada </span><span style="font-family: Georgia, serif; font-size: 11pt; text-align: left;">“</span><span style="font-family: georgia;">Tirania</span><span style="font-family: Georgia, serif; font-size: 11pt; text-align: left;">”</span><span style="font-family: georgia;"> – não por acaso, ali se dá um golpe de Estado que liquida a família real, mote que dá origem à história. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mas não nos adiantemos. Principiemos por contemplar esses adoráveis personagens no verão sueco, tão esperado, já que o inverno é ali tão duro: os seus passeios de barco, as suas danças e cantorias à beira-mar. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="clear: left; float: left; font-size: medium; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="252" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1GERG65I7MULfJd0UkWrLSuvRZwlHSRPW5-icE8otMKojVNvOJ92MA08oP6z_MpS0YbKUn6cJDlEKzWJxNK7f7VPgBPlo8tZe8P4XalPFN8TftA0-oXHZqpfCB9WA65prFXNiOcadqQQHDhU36vXsdjpBnHqPHZj1jQz94OmqrI7dsSVIlqWvSTHX/w320-h254/his%20majesty%20the%20barber%201.jpg" width="320" /></span><span style="font-family: georgia;">A obra começa com fotogramas estáticos que delineiam a ação, deixando-nos na boca o gosto agridoce do passado irrecuperável – como tantos filmes, parte deste não resistiu à passagem do tempo. É o dia do retorno à cidade de Nickolo (Enrique Rivero, chileno que se torna galã na Suécia), que fora estudar fora. Espera-o o avô barbeiro André Gregory (Hans Junkermann), que nutre expectativas curiosamente excepcionais a respeito do neto. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ele chega e, a contragosto do velho, decide assumir o negócio deste. Torna-se o chamariz da barbearia, que dali por diante passará a ser frequentada por todas as garotas do lugar, sobretudo por duas figuras contrapontísticas: a espevitada Karin (Maria Paudler) e a sua amiga Astrid Svensson (Brita Appelgren) – perfeitamente talhadas, uma e outra, para <i>soubrette </i>e estrela. Malgrado Sophie visite o salão diariamente, Nickolo se apaixonará por Astrid. Paixão recíproca, o espectador verá, embora a jovem lhe resista, pois está prometida para um nobre sensaborão e duas vezes mais velho que ela. A avó dela, a impagável Sophie Svensson (Karin Swanström), dona de uma fortuna imensa – construída às custas do sucesso de seu tônico capilar –, e de uma cabeleira idem, apenas deixa de ver com maus olhos a união quando André Gregory lhe confidencia que Nickolo é descendente da realeza. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Já a essa altura aporta na cidade um navio oriundo de Tirania, no qual o casal de velhos procurará embarcar os jovens para que Nickolo receba o título e, de quebra, faça com que a família de Karin ascenda à nobreza. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqKOxPj_W_FiIhTV3yxXqm08sAXWmRyw_pzX2OOjOgux5MARHJXI_A_SGw6NjKvl5tW3CsQCYunoHR48yp9zEc8CWaF86vF5oPJq5vf9QMVzsNqzbtuTgmwPxPbSJ7OmwfAFDnJY-D-zvn3Mdb_AdhxsNdbr0v7U_7jZZTY2esB17_uG-yD1rRWI3M/s2178/his%20majesty%20the%20barber%202.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1579" data-original-width="2178" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqKOxPj_W_FiIhTV3yxXqm08sAXWmRyw_pzX2OOjOgux5MARHJXI_A_SGw6NjKvl5tW3CsQCYunoHR48yp9zEc8CWaF86vF5oPJq5vf9QMVzsNqzbtuTgmwPxPbSJ7OmwfAFDnJY-D-zvn3Mdb_AdhxsNdbr0v7U_7jZZTY2esB17_uG-yD1rRWI3M/s320/his%20majesty%20the%20barber%202.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Esta reviravolta daria à obra laivos de conto de fada, não fosse ela falsa. A indústria do cinema, tão apegada a fórmulas de sucesso, também podia ser criativa à época. No navio, a senhora Svensson e o velho barbeiro descobrem, além Nickolo, quatro outros supostos herdeiros ao trono de Tirania. A luz para o mistério surge tão logo os supostos súditos do país são rendidos por Astrid e Nickolo – os quais inopinadamente os encontram enquanto se preparam para fugir, abdicando do trono. Ao fim e ao cabo, ele e os demais rapazes tratavam-se de crianças abandonadas que, durante o golpe que se abate sobre o reinado, são entregues por um dos comparsas, administrador do orfanado, a cinco homens crédulos, que dali por diante seriam coagidos a colaborar financeiramente nos esforços de retomada do poder. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Um termo caro à <i>Giornate </i>deste ano é “Ruritania”, denominação de um conjunto de reinos inventados pela cinematografia clássica, esse mundo de fantasia. O termo originalmente cunhava o país fictício situado na Europa central em que se desenrolaram romances como <i>O Prisioneiro de Zenda </i>(1894), estendendo-se, hoje, a todos os países do tipo. <i>His Majesty the Barber </i>é interessante porque toma a tópica para satirizá-la. No entanto, degradados, os personagens ganham em humanidade. Donald Sosin deixa aqui de lado os sons incidentais e mergulha nos principais gêneros musicais do período, os quais entremeia aos temas das personagens, conduzindo-os, ao mesmo tempo em que nos faz vislumbrar a ambiência sonora dos anos 20, sua delicadeza e seus faustos. A mais cálida obra da <i>Giornate </i>até agora.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-34995178494368021482022-10-06T13:58:00.005-03:002022-10-06T14:00:02.182-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 - Dia 3<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB09cUET3L5hyrjfmKEqYSU-ig7eE8NHhDopdLff-KMWVLAuJbSn-SKbeTpvWF9oqXMF3w34Ha3UqfxXj4onhiLc0oxUUPkSemoVg2G8ZRjS0PeNffQz1JFRv0_MZc4_a4nMjXWXqy0WIU647Gn1o0S5iMBllebo3O3I2s6jWCqhoMoQPBS3HKXTTV/s400/Profanazione%20-1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="305" data-original-width="400" height="305" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB09cUET3L5hyrjfmKEqYSU-ig7eE8NHhDopdLff-KMWVLAuJbSn-SKbeTpvWF9oqXMF3w34Ha3UqfxXj4onhiLc0oxUUPkSemoVg2G8ZRjS0PeNffQz1JFRv0_MZc4_a4nMjXWXqy0WIU647Gn1o0S5iMBllebo3O3I2s6jWCqhoMoQPBS3HKXTTV/w400-h305/Profanazione%20-1.JPG" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="text-align: justify;"><br /></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b style="text-align: justify;">Dia 3: segunda-feira, 3 de outubro de 2021</b><span style="text-align: justify;"> </span></div></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O filme programado no terceiro dia da versão virtual da <i>Giornate </i>foi o italiano <i>Profanazione </i>(1924-1926, 63 min.), dirigido por Eugenio Perego, numa versão digitalizada pela Cineteca del Friuli da cópia disponível na coleção <i>La Cappella Underground de Trieste</i>, depositada no arquivo de Gemona. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O catálogo do evento contextualiza a obra: trata-se de uma produção que remonta a 1921, quando foi censurada, tendo sido reeditada até 1926, data de seu lançamento. Seu entrecho já nos permite entrever o motivo da censura. <i>Profanazione </i>traz como cerne a luta de Giulia Quaranta (Leda Gys) para pagar certa dívida com o dinheiro que o marido lhe confiara, o qual fora subtraído pelo irmão dela. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O rapaz é mais tolo que mau: tendo a irmã e a pequena sobrinha sido confiadas a si quando o marido de Giulia precisa viajar, ele se aproveita da oportunidade para se apoderar de uma quantia em dinheiro a qual tinha por intuito devolver. A soma é, no entanto, cobrada antes que ele possa fazê-lo, o que faz os irmãos encetarem um périplo para reaverem o montante. A derradeira estação da via crucis de Giulia é a casa de um apaixonado seu. Ele lhe empresta o dinheiro e acaba por subjugá-la. O irmão dela chega ato contínuo ao estupro, e é dali retirado pela mulher que teme um escândalo. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5PYfdt6hTRcARnLD7k6DFQ0x29ihSn7aLRDb55lNlJdYuCVXsYBtFqgfvOr2nITatzapb3DRLv2WqJJeeao-YdkPtc7QikazesS29A7CzjtXa10ltdWhwHRTtjOZzW6i8Bbw-6TohSJq0NgwtmwTEjMMQVY96n341e4d0TQ5pZe3bnp9hM0yZ98qb/s400/Profanazione%20-2.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="306" data-original-width="400" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5PYfdt6hTRcARnLD7k6DFQ0x29ihSn7aLRDb55lNlJdYuCVXsYBtFqgfvOr2nITatzapb3DRLv2WqJJeeao-YdkPtc7QikazesS29A7CzjtXa10ltdWhwHRTtjOZzW6i8Bbw-6TohSJq0NgwtmwTEjMMQVY96n341e4d0TQ5pZe3bnp9hM0yZ98qb/s320/Profanazione%20-2.JPG" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Ela termina grávida e, confessando-se a um sacerdote, segue a sua sugestão de esconder a verdade do marido. Uma elipse temporal, e o espectador se dá conta de que Giulia era atormentada pelo estuprador, que desejava conhecer a filha. Ela procura sustar-lhe o passo, temendo a reação do marido; o qual virá a descobrir tudo quando a esposa e o seu algoz envolvem-se num acidente de automóvel. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Aparentemente era demais para a moralidade carola italiana aceitar que o fruto de um estupro fosse criado por outrem. Desconheço o teor das versões anteriores para saber o que foi modificado, permitindo a liberação do filme. De todo modo, o desfecho da história é muito mais luminoso do que o seu desenrolar nos permite supor. O marido (Luciano Quaranta/Alberto A. Capozzi), depois de supostamente arrancar do estuprador o nome da filha deste (temeroso do que poderia ocorrer à sua filha, o homem mente-lhe, dando-lhe o nome da outra criança), repudia a pequena numa cena que comove as pedras. Giulia, desmemoriada desde o acidente, recobra a consciência quando vê a agressão. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A criança repudiada amarga uma febre mortal, e pede em vão pelo pai, que apenas deixa de repudiá-la quando se lembra de um ensinamento que ele próprio dera às filhas quando elas recuperam não apenas o seu passarinho perdido, mas dois: que amando as duas aves elas acabariam por amar aquela que originalmente lhes pertencia. Também a pobre mulher é perdoada – ela que não tivera culpa alguma –, apenas depois que o irmão dela, agora um engenheiro de sucesso, volta e confirma ao marido a verdade que ele não aceitara dos lábios da esposa. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Trata-se de um filme maduro. Em primeiro lugar, por colocar em debate o estupro e os seus frutos, tema candente naquele princípio de anos 20, recém-saídos da Grande Guerra, em que o estupro foi uma sombria realidade. Mas também por atribuir protagonismo absoluto à figura feminina, fato que foi favorecido pela escalação da estrela Leda Gys – referida como a “Madonna do cinema” pela companhia que roda a obra, ainda segundo o catálogo do festival. Neste sentido, não é um acaso o título da obra, “Profanação”. Metonímia de Nossa Senhora, seu corpo é um sacrário. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVTCH0UeeJ_Owr6dntq1EO14fmPhVkba4ViMW9-tp-Q8Sp_L3bdnrIKkzWCVlTvdtykvMqqt2Y7H6Gpb1vrH_KkO5H8WAB3OFHVQEHUFfcpybBvHDqt49wuBD6gCd9WrnfJvFwtGn5wVRBwpQ1RvbF2zKltG-7LHeSNUs_d0AHCtiiIx6pM7GDd9BK/s400/Profanazione%20-3.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="303" data-original-width="400" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVTCH0UeeJ_Owr6dntq1EO14fmPhVkba4ViMW9-tp-Q8Sp_L3bdnrIKkzWCVlTvdtykvMqqt2Y7H6Gpb1vrH_KkO5H8WAB3OFHVQEHUFfcpybBvHDqt49wuBD6gCd9WrnfJvFwtGn5wVRBwpQ1RvbF2zKltG-7LHeSNUs_d0AHCtiiIx6pM7GDd9BK/s320/Profanazione%20-3.JPG" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">Santa e diva: os dois termos intercambiam-se, na transmutação própria do cinema daqueles tempos. Cinematograficamente, Leda Gys surge linda e etérea; seus olhos grandes e seu rosto, semivelados por véus negros, são imperscrutáveis. A câmera toma-lhe uma distância respeitosa que ressalta a sua sacralidade e, portanto, o ato vil ao qual ela é submetida. Ela apenas se transmuta ao fim da obra, quando, ao ver a filha sendo agredida, levanta-se altiva para protegê-la. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"> Neste contexto, cumpre destacar também a qualidade do trabalho de Eugenio Perego, um grande diretor. A cena do estupro, por exemplo, é feita com contenção: o público desvela o que aconteceu – e a violência empregada – devido à desordem do espaço, que a câmera investiga, enquanto toma a mulher envergonhada que procura se arrumar. A encenação dá de ombros à estética melodramática e, ao economizar nos ímpetos, dá a <i>Profanazione </i>um ressaltado tom de crítica social. Um belíssimo filme, que na versão virtual da <i>Giornate </i>recebeu um acompanhamento musical preciso de Mauro Colombis.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-44480589447399067672022-10-05T10:43:00.006-03:002022-10-05T10:45:08.298-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 - Dia 2<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_UOwOEDaWVY92kVts5_wrc4Szxb6CuZjnw1PgubjTriSFY_g4n0WqyY08Wofubs62ZqdMYktjBYYoskH6vAc2LpIsq5uHkbMCra0otOOMgWGy1HQvaLmrcCkfzkUft5utdF77P0oua9KJAV_-WfvPawfB-2kaG7tyxGuDwjA73d5l7Yl0Di3YhcNn/s1484/Yes%20or%20no%205.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="1484" data-original-width="1000" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_UOwOEDaWVY92kVts5_wrc4Szxb6CuZjnw1PgubjTriSFY_g4n0WqyY08Wofubs62ZqdMYktjBYYoskH6vAc2LpIsq5uHkbMCra0otOOMgWGy1HQvaLmrcCkfzkUft5utdF77P0oua9KJAV_-WfvPawfB-2kaG7tyxGuDwjA73d5l7Yl0Di3YhcNn/w432-h640/Yes%20or%20no%205.jpg" width="432" /></span></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b style="text-align: left;">Dia 2: domingo, 2 de outubro de 2021</b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b style="text-align: left;"><br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O segundo dia da versão online da <i>Giornate </i>traz uma das rainhas da Era de ouro do cinema mudo hollywoodiano – e do evento deste ano –, Norma Talmadge. A obra, <i>Yes or no</i> (1920, 83 min.), dirigida por William Neill, é um veículo cinematográfico perfeito. Como Mary Pickford já fizera, aqui Talmadge interpreta duas personagens contrapontísticas, Margaret Vane e Minnie Berry, a sofisticada e fútil mulher da sociedade e a mãe da classe trabalhadora que se esfalfava para cuidar da casa e dos filhos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A história tem um viés moralista claro, resultado de anos de burilamento da máquina de Hollywood. É impossível não o compararmos com o filme visto ontem, rodado apenas oito anos antes. Tal moralismo resvala-se para os longuíssimos intertítulos, que procuram cercear a interpretação do espectador das imagens que ele vê. Em síntese, afirma-se que todos (sobretudo as mulheres – o enquadramento da moral ao gênero é claro, já se vê), uma vez na vida, precisam responder a esta fatídica pergunta, “Sim” ou “Não”, quando o momento azado aparece. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLCBw6YHvOqam7yOb6KnKqwAR_ZYZST-lcgb47nWj47nDI_3gYhcbgG8zlP9ylS7vzCvsCC4EPDluRFFPA8l8ECrLu5Jq1tJPEO9kaDxN3W1AMJCRuAr-Nwzy7NO-yDjo9xHmCeyGXf9IfLcuX1_7PLnLwIjA0Ce2-1FWBOSbYDJMWRh98fHgQqV-a/s960/Yes%20or%20no%202.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLCBw6YHvOqam7yOb6KnKqwAR_ZYZST-lcgb47nWj47nDI_3gYhcbgG8zlP9ylS7vzCvsCC4EPDluRFFPA8l8ECrLu5Jq1tJPEO9kaDxN3W1AMJCRuAr-Nwzy7NO-yDjo9xHmCeyGXf9IfLcuX1_7PLnLwIjA0Ce2-1FWBOSbYDJMWRh98fHgQqV-a/w320-h240/Yes%20or%20no%202.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: georgia;">No enquadramento melodramático do filme este momento é, claro, a relação amorosa, mais especificamente a extraconjugal. Margaret era a jovem esposa de um já maduro figurão da Wall Street. Minnie, esposa de um operário. Ambos os maridos negligenciam as esposas em prol do trabalho – enquanto o rico geria o seu patrimônio, o pobre lutava pela ascensão social. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Acompanhamos as duas histórias concomitantemente, costuradas pela personagem de Emma Martin (outra Talmadge, Natalie), empregada de Margaret e irmã de Minnie. A semelhança de ambas não é colocada em questão. A aproximação, aqui, funciona do ponto de vista dialético para justificar qual a atitude correta da mulher comprometida quando se vê solicitada por outrem. Tanto que, no desfecho, a montagem paralela ganha velocidade à medida que se aproxima o clímax da ação: cortejada por um almofadinha, a solitária Margaret se entrega a ele num longo e interessante beijo em <i>close up</i> – interessante por ser casto como os beijos das mocinhas, malgrado este fosse um caso extraconjugal; enquanto Minnie foge da perseguição brutal do homem que alugava um quarto em sua casa. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A moral do filme procura servir às ricas e às pobres, e não economiza no viés preconceituoso para enquadrar de que modo a traição se consumaria em cada caso – ainda que, no segundo caso, se tratasse de uma tentativa de estupro, e não de um gesto consentido. Sem entrarmos, aqui, no mérito da questão, o “sim” de Margaret leva-a ao abandono do marido – que apenas não se consuma porque ele infarta ato contínuo à notícia de que ela o deixaria –, enquanto o bem gritado “não” de Minnie faz com que o marido a salve da agressão. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx6nvGuPTY_eZ_bwvTO7TzfULkxpjn1HH5Jvl4Rv5fHf0_9QAUXCqIUsZPbdI-WoCpotQy7ULyGFtWEhrK6Sj_xrI0J5BGxH7EkNNnlEusSXgbhqZmiAjSDW4t8lP52bd_2LI4bWdvYa8XPRokkvxG05gqbL98lrMT88h6ldfOyKiVY_sNfqyU0W7n/s400/Yes%20or%20No%20(1920)%20smile.JPG" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="321" data-original-width="400" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx6nvGuPTY_eZ_bwvTO7TzfULkxpjn1HH5Jvl4Rv5fHf0_9QAUXCqIUsZPbdI-WoCpotQy7ULyGFtWEhrK6Sj_xrI0J5BGxH7EkNNnlEusSXgbhqZmiAjSDW4t8lP52bd_2LI4bWdvYa8XPRokkvxG05gqbL98lrMT88h6ldfOyKiVY_sNfqyU0W7n/s320/Yes%20or%20No%20(1920)%20smile.JPG" width="320" /></span></a><span style="font-family: georgia;">Um lapso temporal procurará provar ao público qual a atitude certa: um ano depois, a viúva Margaret jaz ainda mais solitária em sua rica casa de campo, já que o almofadinha a abandona, enquanto Minnie espana a casa dos sonhos e acaricia o marido que viera de fazer fortuna porque, vendo-a lavar roupas, tem a ideia de inventar a máquina de lavar que revolucionaria a vida da família. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Não me debruço nos sentidos óbvios dessas construções. Filmes como esse servem ao <i>status quo</i>. Neles, a mulher é objeto do homem, serve ao seu desejo, sendo descartada quando não mais o faz. Mas o ranço conservador de <i>Yes or no </i>fica num segundo plano, olhando agora mais de cem anos depois de sua rodagem, quando pensamos nele a partir do ponto de vista da – num só tempo – deslumbrante e poderosa Norma Talmadge, que, ao desempenhar papéis tão contrastantes, explicita, na bidimensionalidade da fita, a profundidade feminina.
</span></div></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-42148514324048457672022-10-04T09:10:00.002-03:002022-10-04T09:13:02.963-03:00Giornate del Cinema Muto de Pordenone 2022 - Dia 1<align justify=""> <p><b><span style="font-family: georgia;"></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPWwpj9Q1stpcFTp_H0qtRKIqxMFYOZ84IBUkchUwOD5xzBfpNxHZf0YvLMHi_B_wHr2AvuItFQ85DIyaVO2heYj2lHsBObc2xpcarkKBf9PrmPTJN1SN_SfdLRqtmyclgPwwaFQwP3KrOTeUP7zO8qIyZsdD5Y2nPBZBrFo-uLYZ-M2dSNupbCATn/s350/sui%20gradini%20del%20trono%201.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="252" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPWwpj9Q1stpcFTp_H0qtRKIqxMFYOZ84IBUkchUwOD5xzBfpNxHZf0YvLMHi_B_wHr2AvuItFQ85DIyaVO2heYj2lHsBObc2xpcarkKBf9PrmPTJN1SN_SfdLRqtmyclgPwwaFQwP3KrOTeUP7zO8qIyZsdD5Y2nPBZBrFo-uLYZ-M2dSNupbCATn/w288-h400/sui%20gradini%20del%20trono%201.jpg" width="288" /></a></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-weight: bold; text-align: justify;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: georgia; font-weight: bold; text-align: justify;">Dia 1: sábado, 1 de outubro de 2021</span></div><p></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Na primeira semana de outubro de cada ano os amantes do cinema mudo têm um encontro marcado com a <i>Giornate del Cinema Muto de Pordenone</i>, ou <i>Pordenone Silent Film Festival</i>, que este ano, a exemplo do ano passado, acontece de forma híbrida (interessados nas edições anteriores podem conferir resenhas de vários de seus programas neste blog). Graças às facilidades do meio digital podemos fruir, de todos os cantos do mundo, súmulas do programa apresentado no Theatro Verdi ao longo dos oito dias do festival, acalentando um pouco – falo por mim – a saudade doída das ruelas daquela cidadezinha tão linda. </span></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4YnNPVDu9mPfCzj7NLxffJMfOtIm_kkv9s80MGe-3PUcgHLhuYfE6RrRZCG8MYxBpVZn-M45yc9EmfcTrKuEGL44hpZsRLs3oqmtJebOBijwDraIuKBWjGT_5MdHOStsmNY1ONmn1ha75TaqHK80bVwGcrt0R-PdVcV8wJzW_2RJTQrgHgOwnxe7S/s1280/sui%20gradini%20del%20trono%202.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4YnNPVDu9mPfCzj7NLxffJMfOtIm_kkv9s80MGe-3PUcgHLhuYfE6RrRZCG8MYxBpVZn-M45yc9EmfcTrKuEGL44hpZsRLs3oqmtJebOBijwDraIuKBWjGT_5MdHOStsmNY1ONmn1ha75TaqHK80bVwGcrt0R-PdVcV8wJzW_2RJTQrgHgOwnxe7S/w400-h338/sui%20gradini%20del%20trono%202.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;">A exemplo do ano passado, comentarei o programa online ao longo desses oito dias. </div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Neste primeiro dia nos foi apresentado o italiano <i>Sui gradini del trono</i> (On the Steps of the Throne, 1912, 61 min.), dirigido por Ubaldo Maria Del Colle. Preservada pela Eye Filmmuseum, de Amsterdam, a cópia possui qualidade surpreendente, dado que a obra tem 110 anos. Ela felizmente chegou aos nossos dias, menos pelo seu enredo que pelo modo surpreendente como faz uso de recursos cinematográficos como a profundidade de campo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Conta-se ali a história de Wladimir (Alberto A. Capozzi), herdeiro ao trono do reino fictício de Silistria – a <i>Giornate </i>presencial deste ano, muito mais ampla que a sua versão digital, apresentará um rol de filmes passados em reinos fictícios, e este, segundo o Catálogo do evento, traz inúmeros elementos de <i>O prisioneiro de Zenda</i>, publicado em forma folhetinesca no <i>Corriere dela Sera </i>entre 1904 e 1905. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O rapaz – a bem da verdade, Capozzi já parecia maduro para o personagem do jovem enamorado – e a sua prima, a Princesa Olga (Maria Gandini), estão prometidos um ao outro. É história de mocinhos e vilões bem marcados. Giovanni Enrico Vidali desempenha o papel do ardiloso regente Backine, que, para casar a sua filha com Wladimir, ardilosamente organiza uma suposta viagem de negócios do rapaz a Paris.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Lágrimas de despedida, fotos trocadas. Wladimir aparentemente sente menos a falta da namorada que ela de si, dado que, pouco tempo depois, já o vemos num suntuoso clube parisiense, momento em que flagramos um uso tão sofisticado de profundidade de campo que chocaria os amantes de Orson Welles. Um longo plano único – falo de cabeça, pois cada filme fica lamentavelmente apenas 24 horas disponível, e não posso mais revê-lo – toma em conjunto as mesas alinhadas verticalmente, um corredor central por onde escorrega um casal de dançarinos bailando um tango. Atrás deles, garçons servem os inúmeros efusivos convivas, distribuídos por todas as mesas, da última à primeira. À direita, em primeiro plano, uma bela mulher desfruta do evento, entrando e saindo do enquadramento. Todo esse bem composto conjunto recupera o <i>status </i>de capital dos prazeres atribuído a Paris, lugar de incontáveis deleites. É impressionante isso se construir filmicamente, numa única tomada e sem nenhum intertítulo, 110 anos atrás. </span></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaqo4j0RGQjcVpekQDKNRrsRmGjZnVKSR_R6Ck0GZM0lYvCnAVzVViaCtyqAflkj-0P8UJ0Vo5Un37gYpRsayXqoAWM5-0oq--jtBRK559FrbcsCisiFcDWxpGC8tjqDe5BjsmD96FKWqRMXXv_WG0xwRwBci4YUZBp0KSV4_PWuMmFHOoiUysXEwI/s1200/sui%20gradini%20del%20trono%203.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="898" data-original-width="1200" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaqo4j0RGQjcVpekQDKNRrsRmGjZnVKSR_R6Ck0GZM0lYvCnAVzVViaCtyqAflkj-0P8UJ0Vo5Un37gYpRsayXqoAWM5-0oq--jtBRK559FrbcsCisiFcDWxpGC8tjqDe5BjsmD96FKWqRMXXv_WG0xwRwBci4YUZBp0KSV4_PWuMmFHOoiUysXEwI/w400-h299/sui%20gradini%20del%20trono%203.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;">Pois bem, neste lugar Wladimir será enredado por Thaïs. A alusão à heroína da então recente ópera de Massenet não é um acaso. Como a cortesã operística, a francesinha conquista o príncipe numa dança. Ambos passarão, ato contínuo, a viver um <i>affair </i>muito bem construído do ponto de vista cinematográfico, compreensível mesmo com os breves intertítulos. Numa cena de toucador, em que a jovem se despede do amante para descobrir a foto da outra, emerge a violência passional da sedutora dançarina, que, juntamente com Bakine, se transformará em sua algoz. </div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Wladimir deixa-se levar a uma casa abandonada. Pisando incautamente num alçapão, é aprisionado em seu subsolo, lugar que os vilões desejam explodir para se livrarem dele. Já àquela altura descobriram um sósia de Wladimir, Chichito – pelo nome, aparentemente um vilão mexicano, como já então a cinematografia sistematizara –, que instrumentaram para voltar a Silistria, casar-se com a filha de Bakine e tomar posse do reino. A trama rocambolesca prenuncia os seriados cinematográficos que se notabilizariam a partir do ano seguinte. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">No entanto, um quiproquó inesperado: Thaïs, a exemplo da sua contraparte operística, se arrepende. O final aqui é menos doloroso para o mocinho do que é para o monge Athanaël, que salva a alma da sedutora cortesã para perder a sua. Wladimir volta para casa e susta a empresa de Chichito no momento em que ele era coroado rei, subindo ao trono com a Princesa Olga, seu – quase – único amor.
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Para acessar a Giornate virtual, clique <a href="https://www.mymovies.it/ondemand/giornate-cinema-muto/">aqui</a>.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Para acessar o Catálogo do evento, clique <a href="http://www.giornatedelcinemamuto.it/en/catalogo-2022/">aqui</a>.</span></div></align>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-65689800221300467882021-10-10T23:59:00.003-03:002021-10-11T00:00:21.156-03:00Giornate Del Cinema Muto de Pordenone 2021: Dia VIII<div style="text-align: justify;"><b style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiinsxLYyoKnCEIe_IBxHZPZeZiWt6hZd_o8b2aWhdmBl1kEVkqF-1l-frAOviwsRWJc3UJbd40f1VKQMF9D2g8V0vmLxexFIuz8CDu3IavhsKROidGJa_NmBcUbxlIg7byJlgKahJITJE/s500/maciste+3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="365" data-original-width="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiinsxLYyoKnCEIe_IBxHZPZeZiWt6hZd_o8b2aWhdmBl1kEVkqF-1l-frAOviwsRWJc3UJbd40f1VKQMF9D2g8V0vmLxexFIuz8CDu3IavhsKROidGJa_NmBcUbxlIg7byJlgKahJITJE/s16000/maciste+3.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="text-align: justify;"><br /></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b style="text-align: justify;">Dia 8: terça, 9 de outubro de 2021</b><span style="text-align: justify;"> </span></div></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Último dia da Giornate de Pordenone, ontem. O programa de sua modalidade <i>online </i>foi duplo: um trio de curtas-metragens da norte-americana Vitagraph, rodados em 1910, rotulados “Vitagraph Japonism” pela organização do festival, e o sensacional “Maciste all’Inferno” (1926), dirigido por Guido Brignone e protagonizado por um dos mais amados heróis da cinematografia muda italiana, Bartolomeo Pagano. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimlcLDRQagAgUyeTFCxwYdWbFgVL3x1Cwf-WHILPlHkjgf68VDNCYJgDa0w7tKGCFDjBQP_Adv7A2CHebkNy7CS_tuWoP4VDbuhbwivehxHNsZ3YFrjOHc35mbdA_EkMOA6MKCpOtIQv0/s1280/Chrisantemus+2.png" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimlcLDRQagAgUyeTFCxwYdWbFgVL3x1Cwf-WHILPlHkjgf68VDNCYJgDa0w7tKGCFDjBQP_Adv7A2CHebkNy7CS_tuWoP4VDbuhbwivehxHNsZ3YFrjOHc35mbdA_EkMOA6MKCpOtIQv0/w400-h338/Chrisantemus+2.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">O programa “Vitagraph Japonism” foi para mim uma descoberta. Como pesquisadora da produção cinematográfica e literária produzida e/ou em circulação no Brasil entre fins do século XIX e primeiras décadas do XX, invariavelmente encontro mostras da influência do Japão no Brasil, sobretudo a partir de fins da primeira década de 1900 – influência que se estende aos Estados Unidos, sobretudo pela grande presença de imigrantes orientais que aportam em cidades como Nova Iorque, centro de produção cinematográfica. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Já no Rio de Janeiro, um esporte como o jiu-jitsu dissemina-se, enquanto a população abastada carioca passa a trajar luxuosos quimonos fornecidos por uma importadora japonesa instalada no coração da cidade. No âmbito teatral, companhias nipônicas circulavam extensivamente o Brasil – Ary Bezerra Leite destaca a sua presença em estados do Nordeste, onde, a exemplo do que ocorria no Rio de Janeiro, tais grupos vez por outra apresentavam espetáculos de variedades que incluíam o cinema. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">No caminho inverso, observamos a reinvenção do Japão pela cultura ocidental. Em 1909, um grande sucesso carioca é a versão cinematográfica da bem-sucedida teatral opereta britânica “A Gueixa”, de Sidney Jones (1896), produzida por William Auler e exibida com acompanhamento musical cantado ao vivo pela companhia que aparecia na fita. No âmbito musical, outro sucesso nestas plagas era a valsa “Mikado”, dos também compositores ingleses Sullivan e Gilbert (1885). No literário, João do Rio emoldura à japonesa diversas personagens que compõe entre 1910-1915, de belezas frias e morais imperscrutáveis. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">É o caminho da reinvenção de uma cultura oriental apreendida desde a superfície que trilharão os filmes “The love of Chrysanthemum”, “Ito, The Beggar Boy” e “Hako’s Sacrifice” (todos da Vitagraph, como já apontei acima), estreados num espaço de um pouco mais de um mês entre eles e rodados praticamente nos mesmos cenários – segundo Ben Brewster, o estúdio da companhia na Avenida Flatbush, no Brooklyn. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Tais obras reproduzem algumas constantes na apreensão do Japão pela cultura ocidental, a exemplo da utilização de elenco ocidental, orientalizado pela maquiagem, e da teatralização dos gestos tendo como modelo a pintura japonesa – outro <i>must </i>da decoração ocidental daquela época. Num momento em que os filmes norte-americanos já faziam uso de cenários tomados da natureza, observamos enquadramentos duros cujas profundidades são construídas a partir de sucessivos telões pintados, que dão aos filmes a aparência de quadros vivos. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRXiHha6CwTU7J3esFoUDWzhRhl7VoLN5ZreEjGKkyf1YjmeCYPoXbPiR_kmRLJHlNESZI_wKx4uIfJVj4bKJVQVVM2LRnJIQZsNv_VtNzdD9Pk8hcjFl98ZBoFjggESVo8uTb7JrMtY/s638/Hako.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="495" data-original-width="638" height="310" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRXiHha6CwTU7J3esFoUDWzhRhl7VoLN5ZreEjGKkyf1YjmeCYPoXbPiR_kmRLJHlNESZI_wKx4uIfJVj4bKJVQVVM2LRnJIQZsNv_VtNzdD9Pk8hcjFl98ZBoFjggESVo8uTb7JrMtY/w400-h310/Hako.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">“The love of Chrysanthemum” é originário da obra literária que depois servirá como base da célebre ópera de Puccini “Turandot”: o romance “Madame Chrysanthème” (1888), de Pierre Loti. A jovem Chrysanthemum, casada com um homem muito mais velho que ela, apaixona-se por um turista norte-americano (no filme, Maurice Costello, que depois se torna um dos primeiros galãs da sétima arte). Enquanto na ópera existe mais reciprocidade na história de amor, no romance e no livro o turista deseja sobretudo divertir-se às custas da jovem apaixonada, que acaba se suicidando pelo amor não correspondido. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Os outros dois filmes são protagonizados pela menininha Adele de Garde: o garoto pedinte da primeira obra, que acaba adotado por um casal sem filhos depois que a mãe morre de fome; e a menina abnegada que recebe como retribuição de Hako, a quem ela ajudara, o crisântemo que a fará ganhar o prêmio graças ao qual ela pagará as dívidas do pai preso. Atriz de grande naturalidade, Adele de Garde fará as duas obras das quais participa parecerem menos engessadas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQ9QbGcLpan_LHnX_ViUy3VGkHeDKeZqRwj4cCn9f8Q0nloqD6XHsVaeOINcpD1U89Vj84vmokW9WFbqRmiHtsL_dPy29TyZCg30f48duk_vCvh75A7xBKpWZ3vRzHu_fMlqOaSXl58Us/s700/maciste+4.jpg" style="font-family: georgia; font-weight: 700; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="528" data-original-width="700" height="376" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQ9QbGcLpan_LHnX_ViUy3VGkHeDKeZqRwj4cCn9f8Q0nloqD6XHsVaeOINcpD1U89Vj84vmokW9WFbqRmiHtsL_dPy29TyZCg30f48duk_vCvh75A7xBKpWZ3vRzHu_fMlqOaSXl58Us/w498-h376/maciste+4.jpg" width="498" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“Maciste all’Inferno”, o segundo programa do dia e último da Giornate, faz jus ao espaço que ocupa no festival. É uma obra espantosa, que hoje existe em parte graças à preservação que a nossa Cinemateca Brasileira fez de uma cópia sua colorida (segundo dois procedimentos: a viragem e o embebimento) em nitrato, utilizada em parte no processo de restauração sofrido em meados da década de 1990. Em 2009, houve um novo restauro do filme, levado a cabo pela Cineteca di Bologna e pelo Museo Nazionale del Cinema de Torino, versão a que assistimos ontem. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Maciste é um dos principais heróis do cinema silencioso: o homem bondoso, de largas dimensões e força hercúlea, que surge em première no notório “Cabíria” (1915), aqui é uma mistura do “Orfeu” da opereta de Offenbach “Orfeu no Inferno”, do goethiano “Fausto” e do Dante da “Divina Comédia” – embora “Maciste all’ Inferno” estabeleça esta última obra como a sua influência mais direta. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMDqG7fqdYjAHhzDxG3iOLplYMMB79LLxzUGE4cl7-LNJspkFdZRkCa14YaJ6GK0U_ZNCQhv55VsAO__2CheHWIY20fQ7xjRpTCQ9LzUm7BL5dgwE2R7sgWrGJ_W_foNQl8Z3A9O3XEgc/s1280/MACISTE-ALL_INFERNO-1080.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMDqG7fqdYjAHhzDxG3iOLplYMMB79LLxzUGE4cl7-LNJspkFdZRkCa14YaJ6GK0U_ZNCQhv55VsAO__2CheHWIY20fQ7xjRpTCQ9LzUm7BL5dgwE2R7sgWrGJ_W_foNQl8Z3A9O3XEgc/w400-h338/MACISTE-ALL_INFERNO-1080.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">A história se passa num vilarejo nevado situado aparentemente na Suíca – não há qualquer esforço de atrelamento histórico, tanto que a obra é denominada “diavoleria in 5 atti” (algo como “diabrura em 5 atos”). Maciste, de trajes burgueses, administra a sua fazenda e é apaixonado pela jovem Gabriella, a quem o diabo tenta com a presença de um belo jovem, que a abandona grávida. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">É desnecessário percorrermos todos os inúmeros incidentes do drama, colocados em moção pela personagem mefistotélica saída da pena do roteirista Riccardo Artuffo. Após Maciste salvar o bebê de Gabriella, o diabo o arrasta a esse inferno composto a partir da livre mistura dos trágicos aos cômicos: das diabinhas que, em trajes menores, desfilam pelos domínios do diabo, visando a arregimentar novos seguidores; ao compêndio dos vícios separados por qualidades, à maneira da “Divina Comédia”, obra fundacional da língua italiana cujos versos são citados textualmente no filme; e, enfim, ao gigante e horrendo ser que se alimenta das carnes dos pecadores, o qual parece saído das obras de Méliès rodadas décadas mais cedo – os efeitos especiais são produzidos por Segundo de Chomón, um dos pioneiros do primeiro cinema, daí que esse Maciste, embora tenha sido produzido no final do cinema silencioso, estabelece um diálogo mais profundo com a magia do primeiro cinema do que com as produções cinematográficas do termo dos anos de 1920. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br />A deglutição que a obra realiza da tradição literária ocidental e o rótulo de “diabrura” atribuído a ela por seus criadores lhe dão um <i>éthos </i>chistoso e demolidor bastante próximo do que realizavam, na época, as vanguardas estéticas. Não que a obra não se leve a sério – a oração do filho de Gabriella pedindo a Deus a volta de Maciste, que é responsável por tirá-lo do inferno, estabelece liames com a moralidade convencional da cinematografia comercial da época. No entanto, o restante da obra não pode ser ignorado. Tive, portanto, alguma dificuldade de compreender a música que Teho Teardo e a Zerorchestra criaram para ela. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk4fGjOmSJS-zXGhv_BjuRvSktNi9PMKRfeUkj4waDoSsgCG6hVeGvTqXOCd2Tqja4TclOhvcPtFiLJ_BDaL5uQXaFJlJ_rbjvWXcQ2fmuOHR4RJvbfeUIwGz7YKjoM3sbdtc4zfRhOt4/s478/maciste+2.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="478" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk4fGjOmSJS-zXGhv_BjuRvSktNi9PMKRfeUkj4waDoSsgCG6hVeGvTqXOCd2Tqja4TclOhvcPtFiLJ_BDaL5uQXaFJlJ_rbjvWXcQ2fmuOHR4RJvbfeUIwGz7YKjoM3sbdtc4zfRhOt4/w400-h301/maciste+2.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Eu não conhecia o trabalho de Teardo, cuja carreira voltada à música eletrônica impressiona. Já a Zerorchestra, de quem sou fã, tem uma pegada jazzística que sempre caiu como uma luva às comédias que ela vem acompanhando nas edições anteriores da Giornate. Este “Maciste all’Inferno” é por certo um desafio, no entanto, a música lenta e torturada composta para o filme, bem como a preferência pelo som eletrônico ao acústico, fazem a primeira metade da obra se arrastar. Seus pontos culminantes são, penso eu, os solos de violino que marcam as curvas dramáticas da história. No entanto, o inferno particular de Maciste, fruto da mistura entre a tradição cultural erudita ocidental e a cultura de massas, é potente demais para não nos impregnar. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Encerro aqui a oitava resenha em oito dias de Giornate, missão que duvidei conseguir levar a cabo, considerando-se a minha imersão em trabalhos muito menos palatáveis do que esse. À guisa de balanço breve, louvo o esforço da organização do evento de criar esta versão <i>online </i>sua aos amantes do cinema silencioso que não podem, pelos mais variados motivos, prestigiá-lo presencialmente. E não posso deixar de ainda uma vez constatar, embora a ame, a ausência de cinema latino-americano (nem estou me referindo a cinema brasileiro) entre as obras exibidas ao vivo ou em <i>streaming</i>. Se não temos indústria de cinema nos tempos do silencioso, temos uma porção de filmes que merecem ganhar o mundo.
</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih7WAYC6Mi0RXHlgSHRZyEwWToLhr4wcLYmgMPAo0AeQ0Rw03BIXgZ2eRgR5dmDm9UjxlojCYuKkzxz7hGXk2DAEdi6x_q-5bLAojsqbFbrT1QCefjkeQFklHMI3IRAhvgOBwCeQ7BI20/s2048/The+End.jpg" style="font-family: georgia; font-weight: 700; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1467" data-original-width="2048" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih7WAYC6Mi0RXHlgSHRZyEwWToLhr4wcLYmgMPAo0AeQ0Rw03BIXgZ2eRgR5dmDm9UjxlojCYuKkzxz7hGXk2DAEdi6x_q-5bLAojsqbFbrT1QCefjkeQFklHMI3IRAhvgOBwCeQ7BI20/w364-h261/The+End.jpg" width="364" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-63115840597530119432021-10-09T23:13:00.001-03:002021-10-09T23:15:03.828-03:00Giornate Del Cinema Muto de Pordenone 2021: Dia VII<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_CHIrQcl_3d4dc2dBmiraZlj6rFOORcvTrzPqM1lQDoWtjblsf3BEE6twt8g_qiRygLmiJLUvdSwCcWP12_BEmkS1OfqHvutptCKQ-liwmokDQr-pOd3kgXfErzdrORvN5AdQEC-F6Eg/s1280/MORAL-1080.jpg" imageanchor="1" style="font-family: georgia; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_CHIrQcl_3d4dc2dBmiraZlj6rFOORcvTrzPqM1lQDoWtjblsf3BEE6twt8g_qiRygLmiJLUvdSwCcWP12_BEmkS1OfqHvutptCKQ-liwmokDQr-pOd3kgXfErzdrORvN5AdQEC-F6Eg/w568-h480/MORAL-1080.jpg" width="568" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><b style="font-family: georgia;">Dia 7: terça, 8 de outubro de 2021</b><span style="font-family: georgia;"> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A Giornate está em seus estertores. Agora, provavelmente os participantes da edição <i>in person </i>do evento devem estar metidos numa noite de bota-fora mais inolvidável do que aquela que houve em 2019, devido ao interregno a que foram obrigados no ano passado. Enquanto isso, os participantes do evento <i>online </i>devem estar se preparando para assistir aos últimos dois programas do ano, disponíveis até a tarde de amanhã. Antes de nos juntarmos a eles, passemos em revista “Moral” (1928), filme alemão rodado por Willi Wolff e protagonizado por Ellen Richter. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1O7wkT7q4ZYdnEp2aN9-gyrQ9dYWNoEy1nMqssGSiy1FWHERX3R7jzGO-HyfG8xkk_1eycQ4PFHqLx_aMTD2D-gn8tqWbSU2cjEb8sx2VpL1dleqD-g-mAZ2IJCNN9jkEzO_FGRG8zK8/s500/ellen-richter-c4b1926f-4c2f-41c4-b584-8953e4b3f59-resize-750.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="320" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1O7wkT7q4ZYdnEp2aN9-gyrQ9dYWNoEy1nMqssGSiy1FWHERX3R7jzGO-HyfG8xkk_1eycQ4PFHqLx_aMTD2D-gn8tqWbSU2cjEb8sx2VpL1dleqD-g-mAZ2IJCNN9jkEzO_FGRG8zK8/w256-h400/ellen-richter-c4b1926f-4c2f-41c4-b584-8953e4b3f59-resize-750.jpeg" width="256" /></a><span style="font-family: georgia;">A atriz – segundo nos informa Jay Weissberg, diretor do festival, na curta apresentação que faz do filme –, era estrela de primeira grandeza no cinema dos anos de 1920, tendo rodado dezenas de filmes que não sobreviveram ao tempo porque ela não fora regida pelos célebres Lubitsch ou Murnau. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Efetivamente, “Moral” chega aos nossos tempos incompleto, e graças ao esforço de um conjunto de arquivos europeus, que o restauraram partindo do negativo da obra, do qual, no entanto, falta cerca de um rolo e meio. Visando à completude do material perdido, foi utilizado para o restauro igualmente uma tiragem de primeira geração realizada para a exibição da obra na Espanha, enquanto que <i>takes </i>e cenas perdidas foram reconstruídos com a ajuda de fotografias, e intertítulos perdidos foram recuperados graças aos arquivos de censura de República Tcheca – ao menos para fornecer documentos ao pesquisador serve a censura... Anotei entre os envolvidos na viabilização do restauro o Deutsches Filminstitut & Filmmuseum, a Filmoteca Valenciana, a University of Applied Sciences de Berlim, o National Archives of the Czech Republic e a ARRI Media. Como se pode observar, tal trabalho não é de pouca monta. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Porém, felizmente agora temos “Moral” em versão bem próxima àquela que sonhou </span><span style="font-family: georgia;">Willi Wolff, e podemos espiar pelo buraco da fechadura a república de Weimar poucos anos antes do terror nazista; ou, melhor dizendo, podemos observar a Alemanha das diversões noturnas e dos costumes livres cujo pitoresco invadiria a cinematografia nas décadas vindouras, nas mais diversas chaves. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIvk0BSKqiCTRA1pXCOtt2O0NUPQJiZCi12ODRNxet0Sf9iseXUDhhUELP7rtQvWEBauhHORDgDjEuCGWKvOO_F4ncWMXhgaT45nkTrb8lebogC2HWW0h2uAwN-_7ms6C6sIevYVtkmxw/s800/MORAL.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIvk0BSKqiCTRA1pXCOtt2O0NUPQJiZCi12ODRNxet0Sf9iseXUDhhUELP7rtQvWEBauhHORDgDjEuCGWKvOO_F4ncWMXhgaT45nkTrb8lebogC2HWW0h2uAwN-_7ms6C6sIevYVtkmxw/w400-h300/MORAL.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Wolff fora letrista dos teatros de variedades alemães antes de ingressar na cinematografia, então o filme traz uma visada nostálgica nos bastidores desse mundo, colocando em cena trechos de espetáculos teatrais efetivamente exibidos então, sem saber que documentava uma Era que logo seria reduzida a cinzas. Sua comparsa na empreitada é Ellen Richter, que além de sua mulher era sua sócia e sua estrela. Em “Moral”, ela é Therese Hochstetter (a.k.a. Ninon d’Hauteville), a protagonista de uma revista de ano berlinense que viaja com sua companhia à província para apresentar o seu espetáculo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Ninon surge em cena de cabelos cortados <i>à la garçon</i> e trajando calças compridas de cetim aderentes ao corpo e longos <i>peignoirs </i>emplumados – “a senhora não pode vestir algo mais decente?”, lhe dirá a polícia antes de levá-la prestar esclarecimentos na delegacia –, fazendo emergir a <i>femme fatale</i> que a virada dos anos de 1920 revisitava, a qual porejava ironia e senso crítico. Cabe a ela bater-se contra os velhotes bastiões da moral e dos bons costumes da localidade interiorana em que aporta a companhia, os quais desejam impedir a sua estreia. É desnecessário dizer que os tipos são obviamente hipócritas, tanto que o principal representante esconde a aliança e assedia Ninon – sem reconhecê-la – no trem que os conduzia à cidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Segundo Oliver Hanley, que tece algumas considerações sobre a obra no site da Giornate, “Moral” baseou-se frouxamente na peça homônima de grande sucesso escrita por Ludwig Thoma em 1908; que chegou a ser representada por Richter em 1909. Dada a distância entre a obra teatral e a cinematográfica, compreende-se porque esta resvala à pedagogia, explicitando <i>ad nauseam</i> os caracteres putrefatos daqueles que desejavam impor regras de conduta aos demais. Libertária na aurora do século XX, a crítica soa ultrapassada vinte anos mais tarde. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjntf_buUMuvdL40iFUr_anPdrK4eSeEg1aPleVvZ46fd-PQ7yriWbDb9uROR1yr6VtbCrpQGUT6QPD5t5J_PECxifTPf2Mq9WfINdtPLSNQ_lBVCMp1t5H2AWUVx94iDF27QQg57u5Fmg/s2048/Moral+Ellen+Richter.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1533" data-original-width="2048" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjntf_buUMuvdL40iFUr_anPdrK4eSeEg1aPleVvZ46fd-PQ7yriWbDb9uROR1yr6VtbCrpQGUT6QPD5t5J_PECxifTPf2Mq9WfINdtPLSNQ_lBVCMp1t5H2AWUVx94iDF27QQg57u5Fmg/w400-h300/Moral+Ellen+Richter.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Todavia, o filme tem algumas sequências impagáveis, a exemplo daquelas que concernem à instalação, pela moça, de uma câmera oculta no quarto contíguo ao seu, para que ela possa filmar os questionáveis agentes da moralidade em atos reprováveis. O dispositivo fílmico, devido à suposta objetividade da imagem que capta, comparece em várias peças de teatro de fins do XIX e inícios do XX, com o objetivo de denunciar infratores. A sua presença em cena praticamente na dobra dos anos de 1930 aponta as continuidades vividas pelo cinema. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mas, sobretudo, o filme vale à pena pelo sorriso debochado com que Ellen Richter, realmente uma estrela, paulatinamente se desembaraça dos tipos que desejam impedi-la de subir à cena. Lamentavelmente, a vida tantas vezes não imita a arte. Uma vez que Hitler sobe ao poder, a atriz e o marido imigram aos Estados Unidos, porém, interrompem a sua contribuição ao cinema. Legada ao ostracismo por tantas décadas, esperamos que esse reaparecimento de Ellen Richter em “Moral” seja o princípio da sua redescoberta pelas novas gerações.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-18754104914604589882021-10-08T19:12:00.001-03:002021-10-08T19:14:01.246-03:00Giornate Del Cinema Muto de Pordenone 2021: Dia VI<div style="text-align: justify;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieyHBa_7lIVyPLkRA3GZQzpOSzFffChuwkvCrhObG-5RyY2agXRm62zbtQa6LLe3log1n-l4jv_ZwI_lMM8bq2zSdkX5A70EAfNLPkuUcXzKBCIpXvwDtE0weJwQkOMSKJDGq1FCWL7nU/s599/Phil-for-Short_%25281919%2529_-_Ad_2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="599" data-original-width="431" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieyHBa_7lIVyPLkRA3GZQzpOSzFffChuwkvCrhObG-5RyY2agXRm62zbtQa6LLe3log1n-l4jv_ZwI_lMM8bq2zSdkX5A70EAfNLPkuUcXzKBCIpXvwDtE0weJwQkOMSKJDGq1FCWL7nU/w461-h640/Phil-for-Short_%25281919%2529_-_Ad_2.jpg" width="461" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Dia 6: terça, 7 de outubro de 2021 </span></b></div></b></div><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn_ZpkEscvDyapTA-5P7M2jqAXrFRpNMCjFgga3z-GUuPH7tg5ggP_5m3B5AGI5imK6JzhUEMJJKA3xm5cSWHoqDOcS-eDj_9ah_2pqldFHaFokCw4Ppp7srffJ0SbDdTThM7-UwEPGno/s896/Dranem+3.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="680" data-original-width="896" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn_ZpkEscvDyapTA-5P7M2jqAXrFRpNMCjFgga3z-GUuPH7tg5ggP_5m3B5AGI5imK6JzhUEMJJKA3xm5cSWHoqDOcS-eDj_9ah_2pqldFHaFokCw4Ppp7srffJ0SbDdTThM7-UwEPGno/w400-h304/Dranem+3.png" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Dobradinha de <i>nasty women </i>no sexto dia da Giornate. “Nasty Women”, programa que o festival vem apresentando nos últimos anos, é um de seus mais bem-sucedidos – tanto que uma seleção sua será em breve lançada em <i>blu-ray</i>, o que, considerando o reduzido mercado consumidor do cinema silencioso, não é pouca coisa. Organizam-no duas professoras/pesquisadoras da área, Maggie Hennefeld e Laura Horak, e as suas seleções e apresentações sempre primam pela agudeza e pelo bom-humor. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Duas obras fizeram parte do <i>streaming </i>de ontem, o curta-metragem francês “Le Ménage Dranem” (1912) e o longa norte-americano “Phil-For-short” (Oscar Apfel, 1919). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O curta é protagonizado pelo ator/personagem de Dranem, responsável por uma série cômica de sucesso da Pathé dos últimos anos do primeiro cinema. Em cena, uma inversão de papéis tão comum ao cinema daqueles tempos de revolução dos costumes. Dranem é o marido tiranizado pela esposa feminista, a qual o filme observa com invulgar acidez, demonstrando a má vontade com que os pressupostos deste movimento eram tomados pelo senso comum. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghgXjG7xhOtLnVLNb0Qb5YlYTAfMV34N735k3LtiFR8_ZNhAOIfukzKL4T32A7SJOYbrB2UzhLxjhVRVWT1RgUca7mhOYxXkjG66XwGpBMu4ooCE2gPA0ChlZ7Tx_UU_OL_2EPzwF8vEQ/s1199/dranem+menager.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="906" data-original-width="1199" height="303" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghgXjG7xhOtLnVLNb0Qb5YlYTAfMV34N735k3LtiFR8_ZNhAOIfukzKL4T32A7SJOYbrB2UzhLxjhVRVWT1RgUca7mhOYxXkjG66XwGpBMu4ooCE2gPA0ChlZ7Tx_UU_OL_2EPzwF8vEQ/w400-h303/dranem+menager.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Os cenários da casa burguesa retratada, que somam objetos reais e objetos pintados, bidimensionais, ratificam que a obra toma por molde a farsa teatral. A proximidade da câmera com relação às personagens – sobretudo a esposa – apenas fazem sublinhar seus trejeitos exagerados, ressaltando o que haveria de ridículo em sua atitude de deixar o filho bebê com o marido enquanto ela, de gravata e <i>jupe-culote</i> (a tal “saia-calção” causava alvoroço mundial nesse momento, tendo engendrado, no Rio de Janeiro, por exemplo, canções e mesmo obras cinematográficas), bebe uma cerveja enorme num boteco, fuma cachimbo ou joga carteado – e briga – com as amigas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O filme estabelece uma dicotomia estrita entre afazeres masculinos e femininos e, por meio da inversão, num só tempo ironiza o marido transformado em empregada doméstica e a esposa transformada em homem. Emerge da obra, todavia, repúdio sobretudo pela personagem da mulher. Enquanto a câmera demonstra simpatia pelo homem que faz o que pode num lugar que claramente não lhe caberia, a mulher é talhada segundo as piores características masculinas – desdenha da prole, é ébria e jogadora compulsiva. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Esses traços grossos procuram convencer o público da reviravolta que logo se operará. Ao chegar em casa, o marido a agride fisicamente, devolvendo-lhe a vassoura e a criança. A cena final mostra o casal risonho cercado de filhos, no que seria um quadro de harmonia familiar apenas possível porque o homem colocou a mulher em seu devido lugar. Incompreendido, o feminismo era então posto à bulha de forma farsesca para ser terminantemente rejeitado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7AbcfegQ7gOizLxbtK4jwsGTInen-jmN8RUcivooaLVkvUwEbP9WbVsa3DBE11EkWtM3AS290WsEHrYwdXHZbFvhIEqwLGlZ1bTNNzGlGJgTOuGb1DzpD8YsXOUwnAfON0EjROBrIffg/s1280/Phil+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1280" height="338" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7AbcfegQ7gOizLxbtK4jwsGTInen-jmN8RUcivooaLVkvUwEbP9WbVsa3DBE11EkWtM3AS290WsEHrYwdXHZbFvhIEqwLGlZ1bTNNzGlGJgTOuGb1DzpD8YsXOUwnAfON0EjROBrIffg/w400-h338/Phil+2.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">O próximo filme, “Phil-For-short”, da World Film Corporation, é uma pequena obra-prima de comédia. Traduzida livremente por “Phil para encurtar”, o título faz referência ao nome da personagem da mocinha que está tão longe das heroínas românticas típicas quanto das mulheres desagradáveis/sórdidas/maldosas que surgem às dúzias nos programas organizados por Hennefeld e Horak (o rótulo “nasty” com que as organizadoras batizam o programa é certamente irônico, pois hoje nós nos deleitamos com essas figuras femininas que tomam seus destinos nas mãos tanto quanto seus contemporâneos se apavoravam com elas). Phil é Damophilia Illington, jovem batizada segundo certa personagem de Sapho (que é, sabemos, a autora grega oriunda da ilha da ilha de Lesbos, donde se origina o substantivo “lésbica”). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Filha de um velho acadêmico voltado aos estudos do grego arcaico, Damophilia é tão erudita quanto espevitada. Evelyn Greeley, sua intérprete, lhe dá carisma e frescor. Num momento em que calças compridas num corpo feminino eram um atentado à moral, a jovem surge pela primeira vez em cena de macacão, alimentando os cavalos do sítio de seu velho pai. O homem, no entanto, morre inesperadamente, deixando-a à mercê de um rico comerciante da cidade, que se incumbe de tutorá-la porque quer desposá-la. Para lhe fugir, ela se veste em travesti e deixa os domínios do pai junto de um velho funcionário dele – tocador de violino que fornece a música para as incursões da moça pelas danças clássicas gregas. Damophilia despoja-se de si para viver um destino diferente do que aquele que cabia historicamente às mulheres, como antes fizera a Rosalinda de Shakespeare e, como ela, encontrará o seu Orlando após embrenhar-se na floresta situada nos limites da cidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil42r6p8WnbOXuZm33tXwx01HqIPuJnfHfOKCcrKiJNR6ehbQUrC7i2FeChIx9PjA7iZK7GwEC9k_WIImb0Ib-0bBFozzzrsbUqo3wEQLiAZAA9NpOW9XlHjJ9-vQmglzOwJ74tTdwxHM/s1280/PHIL-FOR-SHORT-720.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil42r6p8WnbOXuZm33tXwx01HqIPuJnfHfOKCcrKiJNR6ehbQUrC7i2FeChIx9PjA7iZK7GwEC9k_WIImb0Ib-0bBFozzzrsbUqo3wEQLiAZAA9NpOW9XlHjJ9-vQmglzOwJ74tTdwxHM/w400-h225/PHIL-FOR-SHORT-720.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">O tal jovem é John Alden (Hugh Thompson), um solteirão contumaz que vitupera as mulheres. Traduzindo um suposto texto grego, ele dirá que “O homem que tenta pegar uma enguia pela cauda ou tomar uma mulher por sua palavra logo se descobrirá de mãos vazias”. Professor de grego arcaico, John faz tanto sucesso entre as suas alunas quanto Indiana Jones fazia entre as dele. O personagem enceta relações com a versão masculina da mocinha – o “Phil” que ela usa como apelido combina consigo como nunca –, que, para fugir de seu perseguidor, decide procurar trabalho junto à universidade onde o rapaz leciona. Ela, a essa altura já interessada por ele, surge ali como mulher. A partir de então a veremos – o que é algo revolucionário quando pensamos no cinema clássico da época – atuando em pé de igualdade junto dele, na cátedra de grego clássico. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Repleto de argúcia, o filme faz uso de um vocabulário bélico para exacerbar a tensão sexual que então passa a imperar: na sala dividida milimetricamente ao meio, com duas mesas aos mestres e dois róis de cadeiras aos estudantes (as mulheres se sentam diante da professora e os rapazes, do professor), acontece um “fogo cruzado”, segundo o intertítulo, já que as moças flertam com o professor enquanto Damophilia flerta com todos os rapazes. Já na sala do diretor acontece uma “Revolução Ática”: tal e qual um ateniense moderno, John Alden se digladia frente a uma situação que ele não controla. Tudo em vão. A jovem Phil, uma das personagens mais interessantes do cinema desses tempos, tem larga vantagem sobre ele. Estrategista, elaborará um plano para que o jovem se case consigo e, assim, ela se veja livre do sórdido comerciante que a persegue. A música do querido José María Serralde Ruiz é conivente com a mocinha, antecipando ao público as ações da adorável Evelyn Greeley. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4CJCeg7Yx2-REL8oOSx0jwYvCDxvAcrNsESAok2EeSC8nBcMSAp-kBtN86yss4GcM0bh1ioZ1eH3cWbZ0GyRsmdG4oNOTP5IGOpGQMZkM6Ao_KzDXvDQWe0sQpM1IspgfBpgDrUQl4rc/s492/hugh+thompson.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="492" data-original-width="390" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4CJCeg7Yx2-REL8oOSx0jwYvCDxvAcrNsESAok2EeSC8nBcMSAp-kBtN86yss4GcM0bh1ioZ1eH3cWbZ0GyRsmdG4oNOTP5IGOpGQMZkM6Ao_KzDXvDQWe0sQpM1IspgfBpgDrUQl4rc/w254-h320/hugh+thompson.jpg" width="254" /></a><span style="font-family: georgia;">Esse filme, como o anterior, toma a farsa como modelo. Ambos, todavia, têm entre si uma diferença espiritual. Aqui, o risível é <b>John Alden</b>, cujo repúdio ao gênero feminino é vingado com o casamento com uma mulher de caráter muito mais firme que o dele. Ao conhecer Damophilia, John lhe dera como conselho casar-se com um homem forte que a corrigisse. Contudo, quem acaba corrigido é ele, por essa mesma razão. O travesti, que é tópica no cinema da época, materializa, neste filme a inversão dos costumes que ele apregoa – daí as censuras que a obra sofreu quando estreou, segundo as autoras do programa. Não por acaso, seu roteiro teve dedo feminino – Clara Beranger escreve-o juntamente com Forrest Halsey. Não é demais destacar ainda uma vez a importância do gesto da Giornate de apresentar obras cujos roteiros foram escritos por mulheres. Visadas positivas ao gênero feminino partem invariavelmente delas.
</span></div></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-10092960461453929502021-10-07T18:45:00.006-03:002021-10-07T18:47:08.564-03:00Giornate Del Cinema Muto de Pordenone 2021: Dia V<div style="text-align: justify;"><b style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik4ZjnQP1AmlmFzeRIR-i4r0Wx2GyL74ikgRxwCyjU7P9Io0YmIfbgOdgzvW8-hUrUAafaGQAm1kRYSBBOi1rzlHW6DKUViUHuHnj8K2MGn9066b-0sJI9EywORJQY4qXLunOScfiqftI/s502/public+prosecutor+2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="502" data-original-width="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik4ZjnQP1AmlmFzeRIR-i4r0Wx2GyL74ikgRxwCyjU7P9Io0YmIfbgOdgzvW8-hUrUAafaGQAm1kRYSBBOi1rzlHW6DKUViUHuHnj8K2MGn9066b-0sJI9EywORJQY4qXLunOScfiqftI/s16000/public+prosecutor+2.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="text-align: justify;"><br /></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b style="text-align: justify;">Dia 5: terça, 6 de outubro de 2021</b><span style="text-align: justify;"> </span></div></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Quinto dia da Giornate. Em <i>streaming</i>, o cinema silencioso sul-coreano. A obra é “Geomsa-Wa Yeoseonsaeng” (A Public Prosecutor and a Teacher, de Yun Dae-ryong) e data de 1948. O anacronismo é esclarecido por Jay Weissberg na apresentação que ele faz do filme: finda a ocupação japonesa na Coreia, não restaram no país equipamentos de som que possibilitassem a exibição de filmes falados, daí a essa obra ter sido rodada silenciosa e acompanhada, no cinema, pela narração de Sin Chul, um dos últimos e mais notórios <i>byeonsa </i>do país. Os <i>byeonsa </i>correspondiam aos benshi japoneses – que, durante o cinema silencioso, narravam pessoalmente os filmes ao público durante a sua exibição (há <a href="http://ofilmequeviontem.blogspot.com/2020/08/giornate-del-cinema-muto-de-pordenone.html">aqui </a>um texto meu sobre uma performance do <i>benshi </i>japonês XX, ocorrida na Giornate de Pordenone de 2019). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkAUGLqcYbXI4BoVtiZdPlYOJTHGO18lC2lJn_FR-NFON4tkbNtgk3IK483gYbOwvjdyWVBU_QjGJN0ERK5FgozfQEiXr79AEwobIbHvHOUuP46dQDam7NZtNTJ8TsCumZD6Pru5CZJwg/s300/public+prosecutor+5.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="235" data-original-width="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkAUGLqcYbXI4BoVtiZdPlYOJTHGO18lC2lJn_FR-NFON4tkbNtgk3IK483gYbOwvjdyWVBU_QjGJN0ERK5FgozfQEiXr79AEwobIbHvHOUuP46dQDam7NZtNTJ8TsCumZD6Pru5CZJwg/s16000/public+prosecutor+5.jpg" /></a>A proximidade nas designações deve-se, quiçá, à assimilação da cultura japonesa pela Coreia durante a violenta dominação daquele país, que durou de 1910 até a rendição do Japão aos Aliados, ao fim da Segunda Grande Guerra, e teve como saldo a proibição do uso da língua coreana, a instituição de trabalhos forçados e a prostituição forçada de mulheres e crianças visando à prestação de favores sexuais aos combatentes japoneses – as quais eram denominadas eufemisticamente de “mulheres de conforto”. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A 1948, a Coreia do Sul (à essa altura o país já se dividira, voltando-se a sua porção sul à economia capitalista) procurava se reerguer culturalmente. Usa, para tanto, no âmbito cinematográfico, as sobras dos equipamentos abandonados pelos japoneses. Filmes virgens então eram escassos, destaca Sungji Oh no texto de apresentação da obra publicado pela Giornate, e, ademais, o país era dominado pela Central Motion Picture Exchange (CMPE), distribuidora direta de filmes norte-americanos na Coreia. A aculturação a que o Japão submetera o país, fazendo com que remanescesse um número ínfimo de sua produção cinematográfica, passa, após o fim da guerra, a ser encabeçada pelos Estados Unidos. “Geomsa-Wa Yeoseonsaeng” – <i>O promotor público e a professora</i> – precisa ser lido neste contexto para que compreendamos as suas características e as suas falhas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcExCf32M_DE4UFGeCLSFvMUf6Rjyhd8DPrVkuPqrCaFfB_Dz3H0_EXfadXZuOrmC0ZwIE0U7kLy23FPAEgQLKFMaazsIgIxKd4mppUjoivLy2SkEHcCg7IiBbuELJKc5hdtwd9ZYnqsc/s259/public+prosecutor+1.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="194" data-original-width="259" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcExCf32M_DE4UFGeCLSFvMUf6Rjyhd8DPrVkuPqrCaFfB_Dz3H0_EXfadXZuOrmC0ZwIE0U7kLy23FPAEgQLKFMaazsIgIxKd4mppUjoivLy2SkEHcCg7IiBbuELJKc5hdtwd9ZYnqsc/w400-h300/public+prosecutor+1.jpg" width="400" /></a>A obra é um exemplar admirável do esforço de se fazer filmes independente das circunstâncias – o qual nós, brasileiros, compreendemos tão bem. A sua imagem é instável e fugidia, problema que parece se dever tanto à dificuldade de estabilizá-la para a digitalização quanto à qualidade do negativo. Vendo-a, pensei numa margarida se despetalando ao vento, ou então no maravilhoso documentário “Lyrical Nitrate” (Lyrisch Nitraat, 1991), de Peter Delpeut, cujos minuciosos primeiros planos e movimentos retardados em filmes que estão se decompondo fazem emergir a poesia incontornavelmente atrelada à morte da película cinematográfica. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">A maior qualidade deste filme sul-coreano consiste, suponho, no esforço que a imagem faz para resistir ao tempo, para embalsamar, como diz Bazin, aqueles anos em que a Coreia do Sul se esforçava para se reerguer. A decadência da imagem, a técnica cinematográfica falha - feita de inopinados <i>jump-cuts </i>e de longos planos que se esforçam, no entanto, para mimetizar a montagem clássica norte-americana -, a ausência de som num momento em que o cinema falado já era uma realidade ao redor do mundo e o esforço do narrador para fabular junto com o filme (trazendo, com sua voz, acalento a espectadores que vinham de experienciar situações tão traumáticas) testemunham o esforço que o país fazia para se reerguer. </span></div><div style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhL61XyNlKU-lGzW1WSFYie1UQ3dBiDUDJkAL_nq3MblV3j_6yq65qxoluqgz1GGe5v0h6YacUI2z-T2htSCUU9qfl4kgofrJbEoaPfPuUkxxfRk5sUqZ65KZkLxWeBM97SAsneORuLUlQ/s626/public+prosecutor+3.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="460" data-original-width="626" height="294" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhL61XyNlKU-lGzW1WSFYie1UQ3dBiDUDJkAL_nq3MblV3j_6yq65qxoluqgz1GGe5v0h6YacUI2z-T2htSCUU9qfl4kgofrJbEoaPfPuUkxxfRk5sUqZ65KZkLxWeBM97SAsneORuLUlQ/w400-h294/public+prosecutor+3.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;"><div style="text-align: justify;">O entrecho da obra é curioso, porque estamos diante de um melodrama cujas tintas orientais não escondem o diálogo com as fontes ocidentais. Conta-se a história de um menino que conclui com esforço o ensino básico, precisando sustentar a avó doente. Ele precisa vender jornais para pagar o aluguel, divide as porções módicas de comida com a avó e chora por não ter os pais – o narrador admirável dá voz a todas as personagens e, a essas alturas, chora com ele as suas desditas. A professora do título, a atriz Lee Yeong-ae – “antes mulher que professora”, diz o narrador e o intertítulo, ressaltando as relações dessa obra com o melodrama clássico – é a figura luminosa que lhe dá comida e alento, levando-o a acreditar na educação. Ela deixa a escola, porém, dá ao menino um livro e recursos para que ele prossiga estudando. Dez anos se passam, e agora a vemos casada e ainda devotada aos outros, tanto que a sua dedicação à garotinha filha de um presidiário leva a cidade e o seu marido a acreditarem numa traição, e ele a ameaçar a pobre mulher com uma faca – arma por meio da qual ele acabará se matando, depois de tropeçar e cair sobre a lâmina. </div></span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1zFB02wTmKwzLf5HShXS-mZg7ppk_zeU4VRAxyIhc6b9eBkR3vEXlOVpnWkzXYB-ctblsogY9vYUWJ4pAxaRgPB5PiVA_DeC9I2pVqOqXKtxOKCyDHvVOg6GXCwZKFU3tqUafvbj8huU/s240/public+prosecutor+4.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="240" data-original-width="240" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1zFB02wTmKwzLf5HShXS-mZg7ppk_zeU4VRAxyIhc6b9eBkR3vEXlOVpnWkzXYB-ctblsogY9vYUWJ4pAxaRgPB5PiVA_DeC9I2pVqOqXKtxOKCyDHvVOg6GXCwZKFU3tqUafvbj8huU/w320-h320/public+prosecutor+4.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: georgia;">A cultura ocidental e a oriental se misturam: se a pobre professora clama a Deus por justiça (ao menos assim a legenda o traduz), o que retoma o papel dos ritos católicos no melodrama ocidental, ela, no banco dos réus, deseja ser considerada culpada para se juntar ao marido que a desacreditara e ameaçara, pois, “de que vale uma mulher quando o seu marido está morto?” – uma submissão ao homem que é sobretudo observada na cultura oriental. A reviravolta se dá quando ela descobre, no assento do promotor, aquele rapazinho a quem ajudara dez anos antes – agora um homem feito, cuja calorosa defesa da inesquecível professora a leva a ser absolvida. Em primeiros planos, destacam-se os papéis da educação na promoção social e da gratidão na promoção humana, lições que desejara gravar à posteridade o país que viera de emergir do mais horrível passado.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-64396073646723559212021-10-06T18:58:00.023-03:002021-10-06T19:05:59.101-03:00Giornate Del Cinema Muto de Pordenone 2021: Dia IV<div style="text-align: justify;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSiKq9YxKBxMHQzu1RU9oWbIKJFQOSm7DMi54kYYywh1uxCLDmXTyOubnwJ8pW5JFjU9nLgFqx1WQlwmdPIxBXR59_snZoeI3srOIaTI_HAK5rQhzAx25T1fQ8rCqDfbSJblF7gMEnQSI/s1362/fools+paradise.png" style="font-family: georgia; font-weight: 400; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="981" data-original-width="1362" height="416" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSiKq9YxKBxMHQzu1RU9oWbIKJFQOSm7DMi54kYYywh1uxCLDmXTyOubnwJ8pW5JFjU9nLgFqx1WQlwmdPIxBXR59_snZoeI3srOIaTI_HAK5rQhzAx25T1fQ8rCqDfbSJblF7gMEnQSI/w579-h416/fools+paradise.png" width="579" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Dia 4: terça, 5 de outubro de 2021</span></b></div></b></div><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: justify;"> </span></div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Já podemos escolher um filme preferido da edição online da 40ª Giornate de Pordenone? Se sim, seria este “Fool’s Paradise” (1921), obra produzida pela Famous Players-Lasky, dirigida por Cecil B. de Mille e roteirizada por Beulah Marie Dixe e Sada Cowan – outras duas mulheres roteiristas, o que ressalta o esforço desta edição do evento de apresentar trabalhos de destacada participação feminina. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O filme tem elementos para agradar variadas faixas de público, algo costumeiro nas grandes produções da já principal indústria do cinema do mundo: há o drama lacrimoso do antigo combatente da Grande Guerra que é ferido nas vistas por estilhaços de uma bomba, apaixonando-se por uma famosa bailarina francesa quando ela vai animar os doentes de certo hospital de campanha do país; há um triângulo amoroso entre ele, ela e uma deliciosa cantora de cabaré texana; há a comédia, que emerge sobretudo das relações que essa figura feminina –elemento central da trama – estabelece com os frequentadores da espelunca de El Paso, onde se passa a ação; há exotismo e fantasia, os quais aproximam esta obra das peças fantásticas amadas pelos públicos teatrais nas últimas décadas do século XIX, das quais o cinema se torna o natural continuador. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6iB8flKkLFYm0GqeXGxUYvmRkrnXEZO6sJVF9QG4FyrHPm8lxm6C8TPhzfCxIUsHhqmUJf82k5_iLsTaSPGnA6O2pBaY-WNFZDM2M37x6daapdLvATmm-EXY2LEgoLoDWnP1Lcx7qUIo/s2048/14_FOOLS_PARADISE_sceneggiatrici.jpg" style="clear: left; float: left; font-weight: 700; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1658" data-original-width="2048" height="324" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6iB8flKkLFYm0GqeXGxUYvmRkrnXEZO6sJVF9QG4FyrHPm8lxm6C8TPhzfCxIUsHhqmUJf82k5_iLsTaSPGnA6O2pBaY-WNFZDM2M37x6daapdLvATmm-EXY2LEgoLoDWnP1Lcx7qUIo/w400-h324/14_FOOLS_PARADISE_sceneggiatrici.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">Dorothy Dalton – de quem eu muito já ouvira, porém, nunca havia visto atuar – é aqui Poll Patchouli. Se houvesse nascido nos anos de 1910, seria naturalmente uma <i>vamp</i>. Na aurora dos anos 20, é uma <i>vamp </i>reformada, no esforço dos estúdios de impregnarem as suas personagens de realismo. É a dançarina espanholada do cassino do mexicano John Roderiguez (Theodore Kosloff), mulher cheia de talento, verve e, ao mesmo tempo, coração, que já principia a história salvando uma pobre mocinha de cair nas garras de um aliciador local. Em fuga da espelunca de Roderiguez, já que se imiscuíra nos negócios do patrão, Poll vai dar na casa de Arthur Phelps (Conrad Nagel), poeta de talento duvidoso e paixão inequívoca pela dançarina francesa Rosa Duchene (Mildred Harris), que ele conhecera enquanto convalescia no tal hospital francês. É uma paixão platônica e algo risível, já que o apaixonado é sobretudo um tiete, que espalha pela casa fotos e lembranças da amada como faziam, então, os espectadores cinematográficos com suas estrelas favoritas. Poll ironiza-o, mas se identifica com a sua fragilidade e se apaixona por ele. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Porém, o triângulo vai se configurar quando Rosa surge em El Paso – cidadezinha do Texas que vicejava devido à exploração do petróleo – para dar algumas récitas. Poll, chistosa, não aceita calada a rejeição de Arthur, presenteando-o com um charuto explosivo que ele apenas ascenderá para comemorar o seu encontro bem-sucedido com a bailarina famosa – na verdade, o coitado apenas carrega a diva para que ela não enlameie os pés na entrada do teatro, e regozija quando ela se lembra dele. O chiste, no entanto, se transforma em tragédia, pois o charuto cega o homem cujas vistas já periclitavam, e aí acompanhamos, respaldados pelos longuíssimos e chorosos intertítulos, o seu percurso da luz à escuridão, que se efetiva quando a cortina do espetáculo de Rosa se fecha. Poll assiste a tudo, e acompanhamos num só tempo, doravante, o seu sofrimento com o destino do moço e a sua ironia com a paixonite dele pela bailarina – explicitada com imenso talento por Dorothy Dalton, de quem já virei tiete, à medida que ela parodia a <i>performance </i>da rival, diante dos frequentadores da espelunca mexicana onde ela trabalha, os quais têm por si um respeito e um encantamento imensos (também pudera). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; text-align: right;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><br /></div>Poll se aproveita da cegueira de Arthur Phelps para se casar consigo com a conivência da cidade, encantando-se com aquele </span><i style="font-family: georgia; text-align: right;">paraíso de tolos</i><span style="font-family: georgia; text-align: right;"> – na opinião de seu patrão Roderiguez, também apaixonado por si – que é o seu papel de dona de casa, chefe de família cuidadora do marido enfermo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Tantos </span><i style="font-family: georgia;">spoilers </i><span style="font-family: georgia;">para explicitar a vocação melodramática da trama, que costura as lágrimas e o riso dando um invulgar primeiro plano ao tratamento dos caracteres. Poll é sem dúvida a melhor personagem da trama, repleta de profundidade. Mesmo enamorada de Arthur, consegue observar a ação de fora – momento magistral, que dialoga com o público nosso contemporâneo, é quando Poll aplaude justamente a cena da peça de Rosa em que a personagem da bailarina, a fada de coração gelado, é abandonada pelo homem que encantara. No entanto, a ironia com que ela trata a rival, colando mesmo a imagem de uma vaca sobre a foto de Rosa quando se casa com o cego Arthur, não a impede de nutrir pelo rapaz um amor abnegado, que a fará curá-lo mesmo sabendo que ele a abandonaria depois. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Quando Arthur recobra a visão, a história se desdobra no enriquecimento do rapaz, cuja mina encontra petróleo, e numa insólita viagem sua ao Sião, em busca de Rosa, seu suposto grande amor – a qual, a essa altura, nós vemos que duplica, na vida real, o papel de <i>fada de coração gelado </i>que desempenhava nos palcos. </span></div><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjd3RzDKLszevTAzQHe5AtxXXMroU83exX2b3iOK3X73v2sOfhMriZrEQrq2-lfF8DuwlwIgqg20D5Ai08sdLsZwkO8gSEk4CMzX7kba2JZ2F-2TAwV1dItidapeJr3-XqI66oLP7xPITY/s974/fools+paradise+2.png" style="font-family: georgia; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: right;"><img border="0" data-original-height="761" data-original-width="974" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjd3RzDKLszevTAzQHe5AtxXXMroU83exX2b3iOK3X73v2sOfhMriZrEQrq2-lfF8DuwlwIgqg20D5Ai08sdLsZwkO8gSEk4CMzX7kba2JZ2F-2TAwV1dItidapeJr3-XqI66oLP7xPITY/w400-h313/fools+paradise+2.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; text-align: left;">O interregno siamês praticamente interrompe a ação dramática, e pode apenas ser compreendido no contexto da sedução que o exotismo oriental inspirava, então, no público ocidental, bem como no encantamento gerado pelas peças teatrais de cunho fantástico – em “Fool’s Paradise”, o tapete mágico da peça desempenhada por Rosa desdobra-se nos dançarinos típicos de Sião, nos rituais religiosos que nos fazem lembrar dos “Caçadores da arca perdida”, nas vias aquáticas que transformam a cidade num sucedâneo de Veneza – enfim, ficção e realidade resvalam-se, como então era costume na Meca do cinema. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Aqui Cecil B. De Mille é bem-sucedido como nunca. Se “Fool’s Paradise” é uma grande produção como “Why change your wife” (1920) ou “Don’t change your husband” (1919), esta obra apresenta muitos mais atrativos ao público nosso contemporâneo porque coloca a moralização, grande preocupação deste diretor, em segundo plano. Prova disso é a profundidade impressa na personagem da deslumbrante Poll, e o <i>happy ending </i>que De Mille a faz merecer, </span><span style="font-family: georgia;">malgrado a vida pregressa da moça, tão questionável para os padrões da época - <i>happy ending </i>exacerbado pela música maravilhosa que o meu adorado Neil Brand compôs para a trama, cujo tema delicado vai se desdobrando até atingir, com a última cartela, o paroxismo.</span></div></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897809402672520684.post-35796030955606474202021-10-05T18:40:00.006-03:002021-10-05T18:55:31.127-03:00Giornate Del Cinema Muto de Pordenone 2021: Dia III<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgniznTpnMZ-Rry05DNp3ed9X6e0EqONii6siqEih14KGWcGn2roTNwFmaNcTG9EEJ1PQbqMLNHIZ-tH1iUUXJedFe47NTALkooSBAwi1Ac-f_Et-n0O0X-H-XQwQZGnrFJ_ZM3Nge2FB4/s900/An+old+fashion.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgniznTpnMZ-Rry05DNp3ed9X6e0EqONii6siqEih14KGWcGn2roTNwFmaNcTG9EEJ1PQbqMLNHIZ-tH1iUUXJedFe47NTALkooSBAwi1Ac-f_Et-n0O0X-H-XQwQZGnrFJ_ZM3Nge2FB4/w426-h640/An+old+fashion.jpg" width="426" /></a></div><br />Ontem foi dia de cinema clássico americano na Giornate <i>online</i>: a comédia “An old fashioned boy” (1920), de Jerome Storm. Protagoniza a obra Charles Ray, estrela ascendente nos céus de Hollywood, talhado, graças ao seu rosto franco e sorriso melancólico, aos ingênuos dos melodramas campesinos. Ray fora revelado cinco anos antes por Thomas Ince – cujo estúdio roda este filme – depois de ter atuado como extra numa porção de produções da empresa. Aqui, ele desdobra novamente o papel que o fez notório. É David Warrington, o “garoto à moda antiga” do título, que tem como maior ambição casar-se e viver numa casa ajardinada de subúrbio com a sua eleita. Estamos, todavia, na aurora dos anos 20: a <i>idade do jazz-band </i>de que fala António Ferro. Logo a roteirista Agnes Christine Johnston mostrará ao público que esse ideal não será tão facilmente conquistado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"> Outra mulher roteirista. Vejamos se há algum laivo de feminismo no encaminhamento que ela dá ao enredo. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYmrR9cOOSFSY-oMCxfAf37B6NWjCDlWwqbCOrCvGe2c_2GOQo3D7YEWp3ufYRmrI13ynEhO1KzBpOWCZWZ8hD99_kAOkFA7WfrHFQ62BQxDDBCRxFF3i_-pN6v1Z6z383cPKFR2z-0Ew/s800/AN-OLD-FASHIONED-BOY.jpg" style="clear: left; float: left; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYmrR9cOOSFSY-oMCxfAf37B6NWjCDlWwqbCOrCvGe2c_2GOQo3D7YEWp3ufYRmrI13ynEhO1KzBpOWCZWZ8hD99_kAOkFA7WfrHFQ62BQxDDBCRxFF3i_-pN6v1Z6z383cPKFR2z-0Ew/w400-h300/AN-OLD-FASHIONED-BOY.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">David se apaixona – e isso o descobrimos logo na abertura da obra, num <i>close </i>dos dois pombinhos pouco tempo depois de Betty Graves (Ethel Shannon) aceitar seu pedido de casamento. A câmera se distancia paulatinamente da sala de estar burguesa onde ambos se encontram e penetra no caótico quarto das crianças da casa de Herbert Smith (Wade Boteler) e Sybil (Grace Morse), onde o pedido é realizado. Nesses planos, temos num só tempo o enquadramento do sonho dourado de David e o pesadelo que dele pode advir. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Como vemos, o roteiro de saída coloca diante dos olhos do público as agruras que se sucedem ao <i>happy ending</i> das fitas cinematográficas. Isso se ressalta quando, pouco depois, o rapaz confessa ao amigo Herbert que construíra uma idílica – para ele, claro – casa de campo onde poderá, juntamente com Betty, crescer e multiplicar. Depois de fazer ouvidos moucos ao repúdio do amigo no que diz respeito a esse modelo de felicidade conjugal, em meio à gritaria das crianças da casa, David vai buscar a noiva para lhe mostrar a casa. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Mudamos agora de cenário. Em cena, o apart-hotel onde Betty vive com o pai. Um <i>travelling </i>pelos cômodos mostra que aquele não era um espaço talhado às crianças, e tampouco o era Betty, que, de saia longa, estola de marta e acompanhada constantemente de um <i>french poodle</i>, era o último modelo das <i>modern girls</i> vituperadas pelo rapazote enamorado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Betty conhece a casa bucólica sem saber que seria a sua futura proprietária, e ao sabê-lo, a rejeita. Sonha para si com a vida nas facilidades de um moderno apart-hotel, em detrimento do papel de dona de casa que o noivo desejava lhe impor. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O entrecho pondera sobre um recente dilema social. Essas moradias determinavam uma guinada nos costumes, já que não aceitavam crianças e tampouco que se cozinhasse. O paraíso para muitas mulheres nascidas e criadas segundo os ideais feministas que então vicejavam era o inferno dos moralistas de costumes – dentre eles, porque não, o “ingênuo” David, que se esforça, com base em notícias de jornal, para provar a Betty que um casamento durável apenas seria possível numa casa como a que ele lhe construíra, tomada por crianças; enquanto apart-hotels e cachorros eram convites ao divórcio. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O rapaz logo terá chances de testar os seus ideais. Abandonado peremptoriamente pela noiva, receberá de surpresa em casa os três diabinhos do casal de amigos, depois de mais um arranca-rabo de ambos. O cerne da trama ocorre enquanto ele está sozinho com esse encargo – uma vez que a governanta foge desesperada; afinal, ela esperava um bebê dali a 9 meses, e não três crianças de uma vez... E então, desastres se sucedem numa montagem extremamente dinâmica: o esforço do jovem para preparar às crianças uma bala puxa-puxa, na cozinha da casa; os problemas estomacais dos pequenos depois de ingerirem o doce e a corrida desse pai substituto atrás do médico que os socorrerá (por sinal, o pai de Betty) se sucedem numa impressionante fluidez. </span></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWk4k5Aum1DwOZMwCDHU34QQvQt6BEP7Eow0RYBQgE025YsVcBFjSdxtx5aOgwTTIehl9U613aloKthGclM4eOwcOCIPH0UN8ac7rkPwTzxQFmTi0GsVR8lgZ4A1SAWDvFcNP-i3QIdhI/s691/an-old-fashioned-boy-photo.jpg" style="clear: right; float: right; font-family: georgia; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="562" data-original-width="691" height="325" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWk4k5Aum1DwOZMwCDHU34QQvQt6BEP7Eow0RYBQgE025YsVcBFjSdxtx5aOgwTTIehl9U613aloKthGclM4eOwcOCIPH0UN8ac7rkPwTzxQFmTi0GsVR8lgZ4A1SAWDvFcNP-i3QIdhI/w400-h325/an-old-fashioned-boy-photo.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: georgia;">O médico irá à consulta juntamente com Betty, que agora está acompanhada de um novo pretendente, o lépido Ferdie Blake – o qual “marrily jazzes through life”, ou seja, caminha pela vida como num compasso de <i>jazz</i>, o que demonstra como aquele ritmo musical passava a definir a sociedade moderna. David intentará, ali, a reconquista da moça, com a conivência do pai dela, que usa de seu poder de médico para colocar a casa em quarentena devido a uma suposta infecção pelo sarampo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Os quiproquós que são o motor do gênero cômico se multiplicam enquanto o moço tenta reter a jovem e, depois, esconder do amigo que os filhos dele estão consigo, realizando um desejo da própria mãe das crianças, que quer dar uma lição no marido irascível. Numa montagem que entremeia a ternura e a loucura somos compelidos a ver o bom coração do moço que deseja reter a amada à força, ao mesmo tempo em que rimos às lágrimas do esforço que David faz para fugir de Herbert Smith (o pai das crianças) – trepando da cristaleira ao reposteiro, até colar no teto da casa – ou da tapona que Sybil, claramente mais forte que Herbert, imprime nele, indo socorrê-lo pouco tempo depois. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">David acabará salvo da acusação de traição pela própria Betty que antes o desdenhara, a qual, já se vê, acaba por preferir uma casa no campo à jazzear pela vida à fora. O <i>happy ending</i> frustra a nossa expectativa de emancipação feminina, no entanto, era a regra que o filme desejara antes de tudo defender, e não a exceção – tanto que as notas sobre a obra publicadas pela Giornate, escritas por April Miller, apresentam uma coletânea de entrevistas e reportagens concernentes à roteirista Agnes Christine Johnston: como ela costumava trabalhar cercada pela gritaria dos filhos, com um bebê sobre a escrivaninha; como fora numa pré-estreia poucas horas antes de parir, etc. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Johnston, em suma, afirma que é melhor como mãe à medida que consegue ser uma boa profissional. Num primeiro olhar um <i>old fashioned film</i>, “An old fashioned boy” caminha o quanto pode, creio eu, em sua tentativa de mostrar que os anseios femininos se sobrepõem à maternidade. Mais que isso, seria condená-lo ao ostracismo já naquele momento, o que seria uma pena, uma vez que ele é uma obra-prima de comédia, com um delicioso <i>timing </i>vanguardista de <i>screwball comedy</i>.
</span></div>Danielle Crepaldi Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/00785271934224406806noreply@blogger.com0