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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

5 filmes de 2009 que você não pode deixar de ver

Vou começar o ano pegando carona numa mania que ganha mais adeptos a cada dia - a elaboração de uma lista dos melhores filmes, daqueles que devem ser vistos, etc. Dificilmente conseguiria estabelecer uma lista dos "10 mais" (seria difícil até mesmo selecionar 100), então, vou usar esse primeiro post do ano como uma espécie de balanço de 2009. Não, o objetivo é menos pretencioso ainda: como não sou nenhuma autoridade no assunto, portanto, não tenho a obrigação de percorrer a produção cinematográfica de cada ano de A a Z (graças a Deus), listarei os meus "5 mais" de 2009, aqueles que me fizeram sair do cinema feliz por ter empregado bem o meu tempo. Lá vai!


Não sou muito fã de animações. Fui ver "Up, altas aventuras" (Up) seduzida pela tecnologia 3D e saí da sala apaixonada pelo desenho. Ele não apenas é incrivelmente bem feito, mas é engraçado e tocante. Nele, a velhice, a infância e as relações interpessoais são tomadas de um modo nada idealizado, o que é um alívio, considerando que o cinema de animação normalmente se preocupa especialmente com a técnica, desenvolvendo caracteres e enredos tremendamente convencionais.
Esse é um filme pra crianças e adultos. Os pequenos da sessão que vi viajara
m com o colorido pássaro gigante, e os grandinhos (a maciça maioria...) riram com as tiradas cruéis e não menos verdadeiras do irascível (mas, no fundo, bondoso) velhinho. Aliás, acertaram em cheio ao escolherem Chico Anísio para dublar o solitário idoso que transforma a casa num balão para fugir da internação num asilo. Chico tem o timing da comédia, mas faz tempo que seus programas humorísticos na TV não me entusiasmam. Em "Up", o humor ácido de Pete Docter e Bob Peterson caiu-lhe muito bem, rejuvenecendo seu trabalho. E espero ansiosa pela volta de nosso comediante em filmes tão bons quanto esse!

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Em 2006, vi "Volver", outro trabalho de Almodóvar em que ele dirige Penélope Cruz, e confesso que fiquei um pouquinho desapontada. Não é que tenha achado o filme ruim, mas julguei que ele não passava do mediano, algo não muito entusiasmador tratando-se de Almodóvar. Agora, "Abraços partidos" ("Los abrazos rotos") é outra história. Nele, Almodóvar somou o amor que nutre por Penélope Cruz e pelo cinema. O diretor conseguiu se aproveitar muito bem do rosto cinematográfico da atriz, que rapidamente se torna bela ou feia dependendo do ângulo da câmera. Criou para ela uma personagem complexa, ambígua: uma secretária de um magnata que se prostitui para salvar o pai moribundo e aspira ser atriz. O sonho de atuar se concretiza quando o roteirista e diretor Mateo Blanco (ou Harry Caine) põe os olhos nela e vê não a secretária prostituta aspirante a atriz, mas sim a grande intérprete na qual ele objetiva transformá-la. À maneira de um Pigmalião, o diretor (não posso deixar de pensar que se trata de um alter-ego de Almodóvar) molda a moça de acordo com os seus anseios, transformando-a numa Audrey Hepburn moderna, repleta daquela ingenuidade bem humorada que a atriz norte-americana nos mostrou em "Bonequinha de luxo" ("Breakfast at Tiffany", 1961) ou em "Como roubar 1 milhão de dólares" ("How to steal a million, 1966). E aí, atriz e diretor mergulham na história dentro da história: a Galateia se apaixona pelo Pigmalião e vice-versa. No desfecho, quando o relacionamento e o filme são destruídos e parece não restar mais nada ao diretor, ele toma os rolos originais e decide reconstruir a película do modo como imaginou a sua criatura, afinal, "Um filme tem que ser totalmente terminado, mesmo que estejamos às escuras". "Abraços partidos" é uma declaração de amor ao cinema e à realidade criada em celuloide - que em muito momentos é tão mais interessante que a vida real. Com certeza merece o ingresso ou a locação.

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"Bastardos Inglórios" ("Inglorious Basterds") é um típico Tarantino. É eloquente, é sangrento e faz uma desconstrução da História. O recorte temporal é a ocupação nazista na França durante Segunda Guerra, mas isso não passa de ponto de partida para a construção de um enredo que reconstrói os fatos ao seu bel-prazer, oferecendo uma leitura do desfecho da guerra que é o sonho de consumo de grande parte do globo e felizmente pode se materializar em celuloide: Hitler é alvejado pelos "Bastardos" até tornar-se uma massa amorfa. Na verdade, a História apenas tem importância secundária para Tarantino, que joga com o conhecimento cinematográfico do espectador: é o Hitchcock de "Sabotador" ("Saboteur", 1936) que dá à "Bastarda" dona do cinema a lição para que ela assassine um grupo de nazistas dentro da sala de exibições: os rolos de filme não podem ser transportados no ônibus porque são extremamente inflamáveis... Uma ironia é que os nazistas - incluindo Hitler - morrem vendo a premiére de uma película que heroiciza um soldado alemão que trucidou centenas de inimigos. Outra, e ainda mais saborosa, é a intervenção da Bastarda na própria película, onde ela narra como os vilões morrerão. O modo como Tarantino se aproveita dos acontecimentos históricos para fazer cinema é fenomenal! Saí realizada do cinema, onde também tive a oportunidade de ver Brad Pitt num de seus (2) melhores desempenhos (o outro é o personal trainner apalermado de "Queime depois de ler").

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"(500) dias com ela" ("(500) days of Summer") foi uma agradabilíssima surpresa. Eu estava esperando uma comédia romântica mediana e me deparei com um filme inteligente, que toma o gênero de modo deliciosamente crítico. Logo de saída, filmes como "A última noite de um homem" ("The graduate", 1967) são culpados por plantar ideais românticos na cabecinha do protagonista, inconformado por ter sido chutado pela namorada. À medida em que a narrativa não linear passeia pela vida amorosa do casal, os clichês do gênero vão sendo rompidos. O romântico incurável é o rapaz, e não a moça, que apenas é tocada pelo legendário filme de Dustin Hoffman depois que se apaixona... por outro.
Há aqui uma subversão do gênero. "(500) dias com
ela" não narra a história de um casal que sofrerá percalços para, no final, ser feliz para sempre, e sim a história de um casal que começa feliz (mas não mutuamente apaixonado) e acaba separado. A subversão ocorre igualmente na forma da narrativa. Enquanto os dias de Summer (aliás, a Summer do título original é interpretada por uma atriz não menos radiante, Zooey Deschanel) se desenrolam aos olhos do espectador, ele tem a possibilidade de compreender a complexa mocinha, e perceberá em que momentos a felicidade do casal dá lugar aos questionamentos e à separação. Dias atrás, quando vi esse belo filme em dvd, me arrependi por ter perdido tantas oportunidades de vê-lo na telona.

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"A mulher invisível" honra a produção nacional de grande circulação. É uma comédia escrachada, o que se pode depreender desde a premissa: um romântico incurável (outro...) mergulha numa profundíssima fossa depois que é abandonado pela esposa e é salvo por um mulherão que só ele consegue ver. Isso motiva uma série de mal-entendidos óbvios mas não menos divertidos: ele briga com o atendente do cinema e com o garçom por desprezarem sua namorada e é tido como louco pelos amigos por estar dando um amasso em... nada... Selton Mello é um dos poucos atores de nosso "cinemão" que não cai em canastrices, e Luana Piovani também não deixa nada a desejar. Ele só descamba quando a cena exige - e está verdadeiramente hilário em algumas delas. Me diverti com as piscadelas de olho do roteiro ao esmiuçar o sofrimento do personagem por não conseguir exibir a namorada aos amigos. Só fiquei um pouco brava na terceira parte, quando o personagem de Selton luta para ter de volta seu "verdadeiro amor" - com o qual, aliás, não tem um décimo da química que há entre ele e Luana.