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terça-feira, 17 de abril de 2012

Barbara Stanwyck, a rainha


Estou numa fase Barbara Stanwyck desde que vi aquela loucura maravilhosa que é “Bola de Fogo” (1940).
Preciso dizer que é difícil de se estar numa fase Barbara Stanwyck. A mulher fez quase um cento de filmes, 5 anos de uma série televisiva de tremendo sucesso nos anos 60 (The Big Valley, 1965-1969), outros dois do premiado show que levava seu nome (1960-1961). Debutou em Hollywood junto com o cinema falado (em 1929), depois de um período de relativo sucesso na Broadway, e só se despediu das telas nos anos 80, depois de outro grande sucesso – “Os Pássaros Feridos” (1983) – impossível um final mais auspicioso. É uma dificuldade imensa abarcar num post o conjunto de sua obra tão extensa e profunda. 
Mais fácil é passar por ela com passos vagabundos, parando de hora em vez para admirar uma heroína heterodoxa ou uma cruel femme fatale; ou para apreciar melhor aquela história genial de elenco notável, ou aquela outra que só se salva mesmo pela personagem principal (porque qualquer história vale a pena com ela).
The Big Valley

Barbara fez muito de tudo: dramas, thrillers, comédias; muitos filmes bons e outros tantos ruins. Se o ator é aquela propalada criança grande que vive a brincar de fazer de conta, ela sem dúvida foi das mais matreiras. Tomou parte em muita coisa esquecível, porém, sempre com tanta segurança que se tornava a única coisa a fazer sentido na tal produção – prova indelével de seu amor e dedicação pelo que fazia.
Miss Stanwyck, a inatingível estrela de cinema, ou “a rainha”, como William Holden fazia questão de chamá-la depois que foi seu “Golden Boy”, vez por outra dava espaço para a Babs, fazendo renascer aquela moleca do Brooklyn que nos anos de 1910 só conhecia os stars a partir das poltronas piolhentas das saletas de cinema do bairro. Basta que a gente a veja em “The lady of Burlesque” (William Wellman, 1943) para que percamos todo o respeito que temos por ela: Lá está Babs, rebolando num número sofrível do teatro burlesco no qual sua personagem trabalha. Ela responde os trocadilhos infames lançados por seu co-protagonista para, pouco tempo depois, sair do palco dando cambalhotas. A sequência estapafúrdia é a única digna de nota desse thriller que é tão ruim ao ponto de não ter suspense algum... E só é digna de nota porque vemos por aí que Babs defendia a contento qualquer coisa que lhe caísse nas mãos.

Barbara foi uma atriz moderna avant-garde, ou, porque não dizermos, foi a primeira atriz moderna. É surpreendente que uma atriz como ela tivesse surgido dentro da produção controlada dos estúdios americanos dos anos 30-50, em que o artista estava fadado a interpretar continuamente variantes de um mesmo tipo. Além dela, só Bette Davis – outra rainha – transitava com eficácia entre gêneros e caracteres. Talvez porque o carma da beleza física não as tivesse pego, puderam interpretar vilãs sem que a aparência batesse de frente com o mundo tipificado hollywoodiano em que a beleza era um atributo da bondade. E porque esbanjavam talento, eram críveis como good girls, um pouco de maquiagem e muita arte sendo suficientes para que se transformassem nas mulheres mais lindas do mundo. Seus rostos de mulheres terrenas – por oposição às goddesses da tela prateada – quem diria, as trouxe modernas até aqui, e as arrastará assim até a eternidade (ao menos é o que essa fã espera).
Quando deu corpo à dama burlesca, Barbara já havia vestido todas as máscaras disponíveis em Hollywood. Foi conduzida ao estrelato pelas mãos do grande Frank Capra quando ele era ainda pequenino, e burilou seu estilo enquanto ajudava
o mestre a burilar o dele. Vemo-la muito pouco Barbara Stanwyck em “Ladies of Leisure(1930), um filme muito pouco Frank Capra: Babs é Kay Arnold, a jovem de vida equívoca que, dilacerada pelo amor impossível nutrido por um aristocrata, tenta o suicídio. Capra toma-a nuns primeiros planos com iluminação intensa e clara e ela aparece delicada, frágil, santificada. Tão distante da imagem de mulher firme, tão à frente de seu tempo, que a tornaria célebre nas mãos do próprio Capra na obra-prima “Adorável Vagabundo” (Meet John Doe, 1941). Barbara esteve sempre no meio-termo entre a frieza e a suavidade. É esse modo matizado como ela conduz suas personagens que a mantém moderna até agora, em detrimento das toneladas de lixo maniqueísta que Hollywood produziu.
Agora nós a vemos em “Stella Dallas” (King Vidor, 1937), drama mediano com uma obra-prima de interpretação. Aos 29, Barbara arrasa na pele da mãe de meia idade, pobre, cafona e livre, que, naquela sociedade cheia de preconceitos da época, precisa entregar a filha amada ao pai da jovem para vê-la ter alguma chance de futuro. Basta o plano final para que tenhamos dimensão da grandeza da atriz: close da mãe desgrenhada e linda em sua abnegação que, depois de ver a filha bem casada, desce a rua que as separará para sempre levando na cara um meio sorriso que mescla a tristeza da separação e a alegria do dever cumprido. Nenhuma maquiagem. Barbara só carrega no rosto seu imenso talento – louvável negação à maxfactorizada Hollywood dos anos 30, que pintava suas sofredoras como se fosse conduzi-las a um baile de gala. Ao deixar de mascarar a dor, Barbara humaniza sua personagem, remete-a a condição eterna da mãe que se doa pela prole – dando, assim, alguma vida a essa história triste de tão melodramática.
Stella Dallas

Mas rápido enxugamos a lágrima que ficou no canto do olho, pois já estamos a vê-la como a encantadora heroína sem nenhum caráter – variante que ela defendeu bem como ninguém – que usa seu poder de sedução para enredar o antropólogo tímido e jogá-lo nos braços dos patifes de sua família. O filme é “The Lady Eve(As três noites de Eva, Preston Sturges, 1941) e ela, o desdobramento perfeito da fêmea bíblica responsável por induzir o homem ao pecado. A vítima é Henry Fonda, que ironicamente será o fornecedor da serpente com a qual a jovem consumara a tentação. A cena da sedução dessa cômica femme fatale – leitura humorística das vamps que, no cinema dos primórdios, enrolavam-se como cobras... – é impagável pelo charme que exala. Melhor que ela só as sequências de comédia pastelão que se sucedem quando a vampira apaixonada decide ir atrás da vítima que a havia rechaçado para vingar-se dele. De Miss Stanwyck nasceu um dos tipos mais interessantes de good girl – aquela que une frescor, ironia e inteligência. Barbara fazia interpenetrar numa mesma personagem vilania e bondade, afastando-a de um maniqueísmo rasteiro, aproximando-se assim das mulheres de carne e osso que a viam nas telas. Isto está muito bem posto em “The Golden Boy” (Rouben Mamoulian, 1939), em que ela desempenha a mulher independente, amante do chefe, encantada pelo jovem violinista que se torna revelação no mundo do boxe. William Holden, o menino de ouro – que à época efetivamente não passava de um garoto, 11 anos mais jovem que sua rainha – combina idealismo e amargura extremos. Enquanto toca violino e sua alma se expande, ele e a mentora se descobrem apaixonados – e nós por eles, brilhantes como o par que percorrerá os dois lados da estrada de mão dupla que separa a emoção da dor, a arte da violência.Na sociedade patriarcal norte-americana da década de 30, em que a mulher acabara de ganhar direito ao voto mas ainda estava longe de atingir a igualdade com o homem, Barbara construiu uma persona que ensaia a fuga do jugo masculino por meio de sua dubiedade e altivez. Ao economizar nos gestos e lágrimas, afastando-se do dramalhão, a atriz injetou densidade psicológica nas mulheres que criava. Esta sutileza, essa recusa a se deixar possuir totalmente pelo galã e pelo público, essa incompletude de sentido é, acho eu, o que ainda a faz tão interessante.
Era por meio de seu gestual que, vez por outra, Barbara extravasava a emoção contida. John Travolta, no discurso de entrega do Oscar Honorário à atriz em 82 (o único que ela receberia, apesar da excelência de seu trabalho), remete-se à beleza e confiança impressos no caminhar dela ao longo da tela. E aí lembramos da explosão de desejo da aparentemente
fria Mae Doyle quando ela se entrega ao amante em “Clash by night” (Fritz Lang, 1952); da estranha Martha Ivers (de “O tempo não apaga”, Lewis Millestone, 1946) enquanto ela desce eufórica a escadaria que a levará ao namoradinho de infância, linda e leve pela primeira vez, como se só ele pudesse salvá-la da vida de hipocrisia que vivia desde que se separaram; da segurança com que sua Lily Powers de “Baby Face” (Alfred E. Green, 1933) usava seu corpo como lhe aprazia, plenamente dona de si num momento em que mulher nenhuma o era; de sua fragilidade ao cair nos braços do zé-ninguém Gary Cooper no final de “Adorável Vagabundo” (Frank Capra, 1941), tão dele como ele desde sempre fora dela.
Adorável Vagabundo


Com Billy Wilder, Barbara Stanwyck fez o sensacional thriller "Pacto de Sangue" (Double Idemnity, 1944), em que era “mulher decaída” até no último grau, com um par de amantes que ela manipulava para tomar posse da herança do marido. Barbara soube carregar com a mesma sem-cerimônia a espingarda e a flor, sabendo exatamente o que fazer com uma e outra. E como isso fica claro naquela delícia de western à la anos 60 que é The Big Valley, no qual a atriz sessentona veste com a mesma doçura e assertividade o papel de matriarca da família!... Suponho que também ela gostasse dessa sua característica, já que em seu discurso de aceitação do AFI Life Achievement ela agradece especificamente a Frank Capra e Billy Wilder: aquele por ensiná-la tudo sobre o cinema, este por ensiná-la a atirar... 
Meu amor por Barbara Stanwyck está impregnado de um orgulho imenso. Porque ela ressaltou a faceta masculina e a feminina que há em cada um de nós. Porque ela, extravasando os limites do star system, repudiou o histórico assujeitamento feminino, que ainda hoje nos violenta. 

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com Elvis...
Fonte: http://www.rockcellarmagazine.com/2011/08/22/musicians-on-motorcycles/elvis-presley-and-barbara-stanwyck-on-motorcycle/

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O cigarro no cinema: 1897-2009


Nem bem amanheceu e a mocinha já está entregue à sua ocupação predileta. Lá está ela em sua negligée, recostada no divã e fumando. "A Morning wiff" ("Uma tragada matutina") diz a legenda da ilustração publicada na St. Paul's Supplement em 27 de abril de 1895. Confesso nunca ter dedicado muito tempo a pensar no papel exercido pelo cigarro na sociedade do final do século XIX e do século XX. Nunca até que minha orientadora Orna Levin (a quem, aliás, dedico a postagem) levantou uma lebre que valia a pena ser perseguida - e eu a perseguiria com mais pertinácia, não tivesse me aventurado por 15 dias num dos trabalhos mais bizarros em que me meti nos últimos tempos. Depois de quase sossobrar, eis-me aqui para tratar do assunto, o que farei, como sempre, en passant - minhas intenções épicas são sempre frustradas pela falta de tempo...
A moçoila da St. Paul não exibiu sozinha este que é, quiçá, o mais condenável hábito dos dias de hoje. Acompanharam-na uma procissão de mulheres, homens e crianças (!), apresentadas pelas empresas de cigarros para comprovarem como este nosso inimigo nº 1 da saúde pública era chique e saboroso. No início de 1920, quando saiu em volume o conto Fumo, da obra "Rosário da Ilusão" (1920), de João do Rio, a imprensa brasileira já havia sido visitada por uma porção dessas pessoas, como pude perceber passeando pelas folhas da época.
Revista Careta, Rio de Janeiro, 27 mar. 1920.



Revista Palcos e Telas, Rio de Janeiro, 27 jun. 1918


Revista Palcos e Telas, Rio de janeiro, 28 mar. 1918.

Na mesma época em que João do Rio dá vida à bituca de cigarro jogada na sarjeta por seu entediado dono - bituca que espirala um belo azul agradecido quando novamente ganha os dedos dele - o afrancesado almofadinha afirma que Son plaisir é ter entre seus dedos um fino cigarro da marca Veado, e até o garotinho sapeca diz não resistir ao cigarro York (e isso poucos dias depois de afirmar que seu pai aconselha que se fume York mesmo que para isso seja preciso andar "roto, mal arranjado, sujo"...). Ao vê-lo, não pude deixar de me lembrar da pré-adolescente Lucy Hill, da comédia de Billy Wilder "The Major and the Minor" (1942), que escondia uma caixa de cigarros debaixo da cama
O cigarro exalou charme por quase 100 anos. Quem, com mais de 25 anos, não se lembra dos belíssimos comerciais do cigarro Hollywood, que somavam rock'n roll e esportes radicais e fechavam com os dizeres: "Hollywood, o sucesso!".





A marca não deixa enganar de onde saiu a inspiração...
Os dedos seguram delicadamente o cigarro, do qual escapa uma fumaça suave que deixa o rosto do artista na semipenumbra. Impossível negar a elegância da linguagem corporal que acompanha o cigarro - mesmo que hoje saibamos de todo o mal gerado pelo seu consumo. Eu, que detesto seu cheiro, olho para a parede de meu quarto e vejo Audrey Hepburn segurando a piteira na legendária fotografia de "Bonequinha de Luxo", ("Breakfast at Tiffanys", 1961) meu retrato preferido da atriz. Hollywood decididamente teve um papel importante na disseminação do hábito. A mesma Ginger Rogers que se servia dos cigarros da pré-adolescente de "Major and the Minor", vinha de brinde com os cigarros Player's. E quanto esses brindes não apareceram nas telas, em filmes como "Ardida como pimenta" ("Calamity Jane", 1953) - em que a fotografia da atriz de revista vira mote para uma discussão protagonizada por Doris Day e Howard Keel -, ou "A Bela ditadora" ("Take me out to the ball game", 1949), em que os personagens de Sinatra e Kelly se gabam por ensinar o verdadeiro espírito americano aos moleques de rua ao dar a eles as fotografias de jogadores de baseball que vinham nas embalagens de cigarro.
Pesquisando a respeito do cigarro no cinema, ri da formulação de Moacir Scliar de que o auge da campanha de marketing para a venda do charuto foi quando Ingrid Bergman apareceu num filme dizendo que adorava seus fumantes. Não me lembro que filme é esse, mas não é difícil recuperarmos Miss Bergman na controversa pose. Vemo-la, por exemplo, em "Arco do Triunfo" ("Arch of the Triumph", 1948), em que ela interpreta uma cantora de um cabaré nublado pela fumaça exalada pelo cigarro. O pôster do filme ressalta a ambiguidade da personagem, que tarde demais acaba por preferir o amor de Charles Boyer ao dinheiro de Charles Laughton.

A verba que a indústria de cigarro injetou no cinema nos anos de 1940 e 50 foi responsável por números contraditórios: financiou uns filmes belíssimos e, por isso mesmo, glamurizou o hábito, incitando muitos a fumar. Décadas antes o cigarro já servia, no cinema, de metáfora para a relação sexual. Em "Flesh and the devil" (1926), Greta Garbo coloca-o entre seus lábios, acende-o e entrega-o ao seu amante. O soprar do fósforo dá lugar ao fade out - nada mais esclarecedor. Em 1933, na "Alegre Divorciada" ("Gay Divorcée"), a personagem de Fred Astaire leva a de Ginger Rogers ao êxtase na sequência Night and Day. Após a dança, ele a deposita no divã com a masculina sensação de dever cumprido (levemente machista, mas não por isso menos divertida) e oferece-lhe um cigarro. Eu não poderia deixar de colocar aqui a cena, primeiro dueto romântico do mais lindo casal de dançarinos da tela.

Outra película que captura o glamour que circunda o cigarro é "A Estranha passageira" ("Now, voyager", 1942), em que a patinha feia tornada cisne Bette Davis recebe do amado Paul Henreid o cigarro que ele mesmo acendera - a antológica sequência do ator acendendo os 2 cigarros tanto ilustra a liberação sexual da até então retraída mulher quanto sublima o ato, já que seu amado era comprometido.

Embora a história do cigarro no cinema remonte à época em que o medium surgiu (e prova disso é o curioso comercial do produto rodado por Edison no fim do século XIX, registrado no livro que acabou de chegar aqui em casa "Silent Movies: the birth of film and the triumph of movie culture, de Peter Kobel e Library of Congress"), é inegável que sua influência na sociedade de consumo tenha aumentado quando os ídolos cinematográficos também passaram a ser consumidos.

O último quadro da propaganda dos cigarros Admiral, rodada por Edison em 1897.

A rebeldia imersa em fumaça de Dean e Brando conseguiu inúmeros seguidores que desejavam se parecer com seus ídolos. Talvez seja por isso que, em 1951, estudiosos da área de saúde começaram a estudar a relação entre o fumo e as doenças. Coincidência ou não, em 1953 a personagem de Cyd Charisse, da "Roda da fortuna" ("The Band Wagon"), recusa o cigarro das mãos de Fred Astaire alegando que "uma dançarina não deve fumar". Cyd, bailarina de formação, confessou que só fumou uma vez na vida, em "Cantando na chuva" ("Singin' in the rain," 1952 ), quando interpretou a sedutora dançarina de cabaré que enreda a personagem de Gene Kelly na sequência Broadway Rhythm. A suposta propaganda antitabagista da "Roda da fortuna" é exceção no cinema, malgrado as contínuas descobertas sobre o malefícios do cigarro. Depois dela surgiram clássicos como "Bonequinha de Luxo", sem falar nos filmes mais recentes - impressionei-me com a presença contundente do cigarro em "Coco antes de Chanel" ("Coco avant Chanel", 2009), que vi no cinema no início desta semana.
Em meados do ano passado, São Paulo aprovou uma lei proibindo o fumo em ambientes públicos fechados. Mesmo hoje em dia, em que fumantes são perseguidos como criminosos, a arma do crime continua circundada por uma aura de fascínio. Por isso, não são poucos os articulistas que se batem contra a divulgação do fumo no cinema, intentando arrastar às telonas a proibição que vigora nas telinhas. Neste caso, o posicionamento talvez deva ser menos restritivista. Por que não exibir em TV aberta o belíssimo "Estranha passageira" - eu o vi pela primeira vez ainda menina na Globo e me apaixonei por ele logo de cara? Por que impedir que personagens acendam um cigarro para explicitarem sua rebeldia? A História atrelou ao cigarro uma imagem de charme, rebeldia e sexualidade - é bobagem negá-lo. Do mesmo modo que as crianças que veem Power Rangers não necessariamente sairão batendo nos pais, ou os jovens que assistem aos "Jogos mortais" não necessariamente brincarão com a vida dos desafetos, assim também aqueles que veem seus ídolos tragando com deleite não se tornarão fumantes. Não dá pra negar que a educação é o melhor caminho pra se evitar que as ilusões da tela se tornem uma realidade devastadora para muitas crianças, jovens e adultos. Lógico que é mais fácil tomar um atalho e recriar a censura no cinema. Porém, isso certamente não é o mais inteligente a se fazer.

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Falei a este respeito no "Estadão Acervo" do dia 31 mai. 2014. Para acessar o programa, clique aqui.

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Ídolos das telas em propagandas (explícitas) de cigarros:


Comecemos com Fred Astaire, que, na "Roda da Fortuna", ouviu da personagem de Cyd que "um dançarino não deve fumar". Aqui, ele divide com Rita Hayworth o anúncio dos cigarros da marca "Chesterfield". Detalhe: eles dançaram juntos no musical "You'll never get lovelier" (1942).

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Porém, bem antes disso, ainda na passagem do cinema mudo para o falado, Al Johnson, King Vidor e Betty Compson anunciam "Lucky Strike". Todos confirmam: "É torrado. Não irrita a garganta. não dá tosse".

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Spencer Tracy grita em alto e bom som que cigarros não fazem mal à garganta.

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Marlene Dietrich nos anos 50: "Testes científicos provam que Lucky Strike é mais suave que qualquer outra marca conhecida!".

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Hedy Lamarr diz: "Um bom cigarro é como um bom filme - sempre saboroso. É por isso que fumo Luckies!"

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Linda Darnell convida os consumidores de cigarro a mudarem para "Camels". "Faça o teste por 30 dias... veja você mesmo..."...

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Essa também era a marca preferida de John Wayne: "Não posso correr o risco de pegar uma irritação na garganta", diz ele, "por isso fumo Camels - eles são suaves". "Nenhum caso de irritação devido ao cigarro", corrobora o anúncio, sacramentado pela delicada mocinha fumando ao lado. Ironia cruel, considerando-se a doença que levou Wayne...

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O Papai Noel fuma "Pall-Mall" pelo mesmíssimo motivo... Desculpem, não consegui resistir a essa...

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Comprovando que cigarro e Natal se misturavam na Hollywood clássica, Ronald Reagan diz: "Mandarei Chesterfields para todos os meus amigos. Esse é o Natal mais feliz que qualquer fumante pode ter...". "Compre a bela Caixa-cartão de Natal".

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Outro Papai Noel fumante. Este prefere "Camel".

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Joan Crawford
descansa do seu papel no filme Manequim, da MGM, para atuar como a Mamãe Noel" para a Lucky Strike.

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O cigarro e a guerra se misturam nesta propaganda do "Chesterfield", anunciado por Veronica Lake, Paulette Godard e por uma Claudette Colbert fardada. Diz a propaganda: "Fotografadas no set do novo filme da Paramount 'So proudly we hail' (Saudamos orgulhosas)", de 1943. A história de amor em tempos de guerra ajuda a marca a convidar norte-americanas ao patriotismo: "A América precisa de enfermeiras... Aliste-se agora".

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Rita Hayworth assina embaixo: "Todos sabem que Chesterfield é minha marca".

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Gregory Peck também: "Se quer um cigarro Suave que Satisfaça, ele é Chesterfield."

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Glenn Ford, que atua no "Sr. Delicado", fuma um cigarro que faz juz ao seu personagem: "Fume MEU cigarro... Suave Chesterfield.

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E Kirk Douglas: "Chesterfields são tão Suaves que deixam um gosto fresco em minha boca".

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A marca é também a preferida de Arthur Godfrey, Bing Crosby e Perry Como, que cantam em uníssono o ABC de Chesterfield: "São suaves... muito mais suaves... Os melhores cigarros para você fumar.". A ênfase no "muito" carrega uma conotação muito diferente hoje...

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Lucille Ball começa se juntando ao ABC: "Chesterfield satisfazem completamente. São Suaves - muito mais suaves. É o meu cigarro".

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Mas depois troca-o por outro maior. "KING SIZE"..., que "supera qualquer outro em SABOR e CONFORTO!". "Sua garganta pode dizer (a garganta de novo...) é Philip Morris".

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E até chega a ilustrar uma caixa-presente da marca.

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E por fim, Betty Grable não tem vergonha de contar o que faz quando está com os garotos: "Com os garotos... Chesterfield".

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Meus muitos agradecimentos especialmente à minha amiga Cristina; a http://purviance13.blogspot.com/ e a http://www.emulsioncompulsion.com pelas imagens.