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sábado, 6 de março de 2010

Oscars e Razzies 2010: entre congratulações e gracinhas são distribuídos prêmios e "prêmios" cinematográficos



Por um bom tempo fui fanática pelo Oscar. Minhas idas ao cinema neste ano fizeram-me pensar diferente. Porém, não tão diferente que eu não gastasse um tempo no site da Globo vestindo a Sandra Bullock para a festa da qual ela, segundo dizem, tem boas chances de sair premiada. Mesmo descrendo da sanidade dos membros do comitê de seleção - não creio que uma porção dos indicados do ano deram a outstanding performance historicamente necessária para o merecimento da estatueta - decidi atribuir o prêmio à Sandra logo de início. Não vi a performance da atriz em "O lado cego" ("The blind side", que, como vários outros indicados, não chegaram ao Brasil em tempo de serem conferidos antes da entrega do Oscar). Porém, os prêmios para os quais Sandra foi indicada, sua reação aos mesmos e o joguinho do site da Globo já dão elementos para o que pretendo dizer.

A lista de indicados ao considerado "maior prêmio do cinema mundial" deixou-me incrédula. Minha reação talvez fosse diferente se eu não tivesse acabado de ver o medíocre "Up in the air" (batizado por aqui "Amor sem escalas"), uma coisinha irritantemente óbvia que concorre a 6 prêmios (melhor filme, diretor, ator, 2 vezes por atriz coadjuvante e roteiro) e já ganhou outros surpreendentes 44 de acordo com o IMDB. Se ele ganhar o prêmio de melhor filme, aí vou ter certeza de que os membros da academia viajaram tanto quanto George e o diretor.


É certo que há alguns grandes trabalhos entre o punhado de indicados. Não direi nada sobre "Bastardos inglórios" e "Up!", que me ofereceram dois dos mais instigantes momentos que tive no cinema no ano passado - já falei deles no primeiro post do ano.
"Avatar" é outro filme interessante - se não como roteiro (embora eu tenha gostado do tributo que James Cameron paga à tecnologia, contando através dela a história de uma civilização ligada em rede), como criação visual. Não acho que a película mereça pauladas por optar pela tecnologia em detrimento do roteiro. Pelo menos ela optou por algo - ao contrário de "Up in the air". Cameron construiu uma "quarta dimensão" (como Cendrars se refere ao falar do mundo à parte criado pelo cinema) de modo incrivelmente verossímil. Sou grata a ele por isso, pois meus 6 olhos (sim, usei 2 pares de óculos no cinema...) me permitiram experimentar uma das coisas mais espetaculares a que tive acesso nos últimos tempos. Outro digno de nota é "Preciosa", especialmente pela performance sensacional da novata Gabourney Sidibe e de Mo'nique. Este, como "Bastardos" e "Up!", merece uma menção um pouco mais cuidada que esta que faço agora. Aliás, a resenha feita por meu amigo blogueiro Danilo merece ser lida, pois faz jus à qualidade do material.
Agora, não entendi o que Penélope Cruz faz entre as indicadas ao prêmio de melhor atriz coadjuvante. É certo que tampouco concordo que a irritante Anna Kendrick tenha tido uma performance excepcional em "Up in the air". Porém, ao meu ver, o filme que a fez "merecer" a indicação - "Nine" - só é digno de nota porque faz Sophia Loren dançar e cantar (ainda que cante canções inanes, ela canta!). Aliás, "Nine" ainda concorre, surpreendentemente, na categoria "canção original". Infelizmente, a performance de Penélope em "Abrazos Rotos" - essa sim tinha um sopro de novidade - não foi lembrada. Embora Almodóvar seja um dos estrangeiros queridinhos de Hollywood, os membros da banca preferem, mesmo, ver filmes nacionais...

Meu desânimo em relação ao Oscar deste ano levou-me ao "Razzie", entre nós conhecido como o "Troféu Framboesa", entregue aos "Melhores piores" do ano. E então, deliciei-me.
Na apresentação do prêmio, os idealizadores explicam seu surgimento: Hollywood já se auto-incensava demais. Precisava de alguém que lhe apontasse as falhas. É o que eles tentam fazer. Encontrei ali algumas coisas que me deram um desgosto enorme no ano passado. Robert Pattinson, o vampiro vegetariano da saga Crepúsculo, arrebenta a boca do balão com duas indicações "principais", "pior ator" e "pior par romântico". O rapaz, namorado de sua "estrela" na vida real, merece ambos os prêmios: só um verdadeiro ator conseguiria fazer cenas de amor tão insossas com sua namorada de verdade... "Lua Nova" ainda concorre como "Pior remake" (talvez devêssemos indicá-lo a remake desnecessário, uma vez que ele não consegue ser pior que o original) e pior roteiro. Assim, a equipe do Razzie demonstra que "New Moon" é um filme para, realmente, "não deixarmos de perder" - como diz meu pai. Esta edição do Razzie é ainda mais especial porque escolherá os piores da década. Concorrem nomes como o desagradável Rob Schneider, o simpático porém canastrão John Travolta e a falsificada Mariah Carey (que, talvez, mereça ser dispensada do fardo por seu desempenho competente em "Preciosa"). Falo apenas dos que mais me saltam às vistas - a lista completa está no site).
A ironia na indicação do Razzie é o fato de Sandra Bullock concorrer ao troféu (por "All about Steve" - aliás, o trocadilho com o Oscar winner de 1950 "All about Eve" parece não ter dado sorte...) no mesmo ano em que concorre ao Oscar. Os organizadores do "Razzie 2010" ressaltam que, se ganhar ambos, a atriz atingirá o feito inédito de receber o mais temido "prêmio" de pior um dia antes de receber o mais esperado prêmio de melhor. A surpresa risonha de Sandra com a indicação fecha a ironia da questão: "Uau, estou concorrendo, que fantástico! Com certeza estarei lá pessoalmente para receber o prêmio, se ganhar".

Ano que vem, a indústria da propaganda do cinema norte-americano fará 100 anos. O gesto de Sandra e a bonequinha dela que o site da Globo nos convida a vestir são provas de que essa indústria está longe de se aposentar. Por mais talentosas que as celebridades do mundo cinematográfico sejam - e Sandra é uma ótima atriz em vários momentos - , elas ainda precisam aparecer para que o público deseje vê-las nas telas. Falem mal, mas falem de mim...
O Razzie pode até nos proporcionar alguns momentos de diversão, mas ele próprio, com sua missão pseudo-moralista, só faz aumentar a luz dos holofotes que iluminam as stars de ambos os sexos que iluminam o céu hollywoodiano. Ao gravitar invariavelmente em torno de personalidades conhecidas, o Razzie acaba por se assemelhar mais ao Oscar do que ele desejaria (ou, será que ele não deseja exatamente isso?). Razzie só faz aumentar a publicidade em torno dos artistas celebrados por público e/ou crítica. Seu papel normativo é nulo - Sandra Bullock que o diga.
Voltemos à lista dos indicados ao Oscar. Quantos não são os nomes que sempre vemos por lá? Quase sempre há um ou outro artista novo, porém, eles não passam de estranhos no ninho. O lugar físico que Fernanda Montenegro ocupou na cerimônia do ano de 1999, quando concorreu ao prêmio de melhor atriz por "Central do Brasil" ( na gaiola do teatro, lembram-se?), é simbólico disso.
Chateio-me ao ver um filme supervalorizado só porque ele está recheado de celebridades. Chateei-me ao ver uma Sophia Loren canastrona em várias de suas cenas de "Nine". Quem a viu em maravilhas como "Um dia especial" ("Una giornata particolare", 1977) sabe que um desempenho tão aquém de seu talento só pode se dever ao trabalho frouxo do diretor. Também, num filme que tem canções tão pouco inspiradas como "My husband makes movies" (cantada por outra oscarizada, Marion Cotillard), o diretor pouco pode ajudar. Inacreditável que uma obra baseada no memorável "8 1/2" (1963) fosse vir a ser tão capenga.
Então, para não trombar nos bonitinhos, mas ordinários Robert Pattinson e Kirsten Stewart - ambos confirmados na festa do Oscar; para não ouvir o desempenho banal de George Clooney ser elogiado; para não correr o risco de ver novamente trechos de "Up in the air" e nem ouvir mais uma vez a trilha sonora sem graça de "Nine", amanhã seguirei o conselho do meu pai e não deixarei de perder o Oscar. Já convidei Liza Minelli para me fazer companhia. Ela chegou há poucos dias aqui em casa trazendo consigo uma das coisas mais fascinantes que já vi, "Cabaret" (1972). Certamente, amanhã passarei uma noite bem mais emocionante.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

5 filmes de 2009 que você não pode deixar de ver

Vou começar o ano pegando carona numa mania que ganha mais adeptos a cada dia - a elaboração de uma lista dos melhores filmes, daqueles que devem ser vistos, etc. Dificilmente conseguiria estabelecer uma lista dos "10 mais" (seria difícil até mesmo selecionar 100), então, vou usar esse primeiro post do ano como uma espécie de balanço de 2009. Não, o objetivo é menos pretencioso ainda: como não sou nenhuma autoridade no assunto, portanto, não tenho a obrigação de percorrer a produção cinematográfica de cada ano de A a Z (graças a Deus), listarei os meus "5 mais" de 2009, aqueles que me fizeram sair do cinema feliz por ter empregado bem o meu tempo. Lá vai!


Não sou muito fã de animações. Fui ver "Up, altas aventuras" (Up) seduzida pela tecnologia 3D e saí da sala apaixonada pelo desenho. Ele não apenas é incrivelmente bem feito, mas é engraçado e tocante. Nele, a velhice, a infância e as relações interpessoais são tomadas de um modo nada idealizado, o que é um alívio, considerando que o cinema de animação normalmente se preocupa especialmente com a técnica, desenvolvendo caracteres e enredos tremendamente convencionais.
Esse é um filme pra crianças e adultos. Os pequenos da sessão que vi viajara
m com o colorido pássaro gigante, e os grandinhos (a maciça maioria...) riram com as tiradas cruéis e não menos verdadeiras do irascível (mas, no fundo, bondoso) velhinho. Aliás, acertaram em cheio ao escolherem Chico Anísio para dublar o solitário idoso que transforma a casa num balão para fugir da internação num asilo. Chico tem o timing da comédia, mas faz tempo que seus programas humorísticos na TV não me entusiasmam. Em "Up", o humor ácido de Pete Docter e Bob Peterson caiu-lhe muito bem, rejuvenecendo seu trabalho. E espero ansiosa pela volta de nosso comediante em filmes tão bons quanto esse!

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Em 2006, vi "Volver", outro trabalho de Almodóvar em que ele dirige Penélope Cruz, e confesso que fiquei um pouquinho desapontada. Não é que tenha achado o filme ruim, mas julguei que ele não passava do mediano, algo não muito entusiasmador tratando-se de Almodóvar. Agora, "Abraços partidos" ("Los abrazos rotos") é outra história. Nele, Almodóvar somou o amor que nutre por Penélope Cruz e pelo cinema. O diretor conseguiu se aproveitar muito bem do rosto cinematográfico da atriz, que rapidamente se torna bela ou feia dependendo do ângulo da câmera. Criou para ela uma personagem complexa, ambígua: uma secretária de um magnata que se prostitui para salvar o pai moribundo e aspira ser atriz. O sonho de atuar se concretiza quando o roteirista e diretor Mateo Blanco (ou Harry Caine) põe os olhos nela e vê não a secretária prostituta aspirante a atriz, mas sim a grande intérprete na qual ele objetiva transformá-la. À maneira de um Pigmalião, o diretor (não posso deixar de pensar que se trata de um alter-ego de Almodóvar) molda a moça de acordo com os seus anseios, transformando-a numa Audrey Hepburn moderna, repleta daquela ingenuidade bem humorada que a atriz norte-americana nos mostrou em "Bonequinha de luxo" ("Breakfast at Tiffany", 1961) ou em "Como roubar 1 milhão de dólares" ("How to steal a million, 1966). E aí, atriz e diretor mergulham na história dentro da história: a Galateia se apaixona pelo Pigmalião e vice-versa. No desfecho, quando o relacionamento e o filme são destruídos e parece não restar mais nada ao diretor, ele toma os rolos originais e decide reconstruir a película do modo como imaginou a sua criatura, afinal, "Um filme tem que ser totalmente terminado, mesmo que estejamos às escuras". "Abraços partidos" é uma declaração de amor ao cinema e à realidade criada em celuloide - que em muito momentos é tão mais interessante que a vida real. Com certeza merece o ingresso ou a locação.

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"Bastardos Inglórios" ("Inglorious Basterds") é um típico Tarantino. É eloquente, é sangrento e faz uma desconstrução da História. O recorte temporal é a ocupação nazista na França durante Segunda Guerra, mas isso não passa de ponto de partida para a construção de um enredo que reconstrói os fatos ao seu bel-prazer, oferecendo uma leitura do desfecho da guerra que é o sonho de consumo de grande parte do globo e felizmente pode se materializar em celuloide: Hitler é alvejado pelos "Bastardos" até tornar-se uma massa amorfa. Na verdade, a História apenas tem importância secundária para Tarantino, que joga com o conhecimento cinematográfico do espectador: é o Hitchcock de "Sabotador" ("Saboteur", 1936) que dá à "Bastarda" dona do cinema a lição para que ela assassine um grupo de nazistas dentro da sala de exibições: os rolos de filme não podem ser transportados no ônibus porque são extremamente inflamáveis... Uma ironia é que os nazistas - incluindo Hitler - morrem vendo a premiére de uma película que heroiciza um soldado alemão que trucidou centenas de inimigos. Outra, e ainda mais saborosa, é a intervenção da Bastarda na própria película, onde ela narra como os vilões morrerão. O modo como Tarantino se aproveita dos acontecimentos históricos para fazer cinema é fenomenal! Saí realizada do cinema, onde também tive a oportunidade de ver Brad Pitt num de seus (2) melhores desempenhos (o outro é o personal trainner apalermado de "Queime depois de ler").

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"(500) dias com ela" ("(500) days of Summer") foi uma agradabilíssima surpresa. Eu estava esperando uma comédia romântica mediana e me deparei com um filme inteligente, que toma o gênero de modo deliciosamente crítico. Logo de saída, filmes como "A última noite de um homem" ("The graduate", 1967) são culpados por plantar ideais românticos na cabecinha do protagonista, inconformado por ter sido chutado pela namorada. À medida em que a narrativa não linear passeia pela vida amorosa do casal, os clichês do gênero vão sendo rompidos. O romântico incurável é o rapaz, e não a moça, que apenas é tocada pelo legendário filme de Dustin Hoffman depois que se apaixona... por outro.
Há aqui uma subversão do gênero. "(500) dias com
ela" não narra a história de um casal que sofrerá percalços para, no final, ser feliz para sempre, e sim a história de um casal que começa feliz (mas não mutuamente apaixonado) e acaba separado. A subversão ocorre igualmente na forma da narrativa. Enquanto os dias de Summer (aliás, a Summer do título original é interpretada por uma atriz não menos radiante, Zooey Deschanel) se desenrolam aos olhos do espectador, ele tem a possibilidade de compreender a complexa mocinha, e perceberá em que momentos a felicidade do casal dá lugar aos questionamentos e à separação. Dias atrás, quando vi esse belo filme em dvd, me arrependi por ter perdido tantas oportunidades de vê-lo na telona.

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"A mulher invisível" honra a produção nacional de grande circulação. É uma comédia escrachada, o que se pode depreender desde a premissa: um romântico incurável (outro...) mergulha numa profundíssima fossa depois que é abandonado pela esposa e é salvo por um mulherão que só ele consegue ver. Isso motiva uma série de mal-entendidos óbvios mas não menos divertidos: ele briga com o atendente do cinema e com o garçom por desprezarem sua namorada e é tido como louco pelos amigos por estar dando um amasso em... nada... Selton Mello é um dos poucos atores de nosso "cinemão" que não cai em canastrices, e Luana Piovani também não deixa nada a desejar. Ele só descamba quando a cena exige - e está verdadeiramente hilário em algumas delas. Me diverti com as piscadelas de olho do roteiro ao esmiuçar o sofrimento do personagem por não conseguir exibir a namorada aos amigos. Só fiquei um pouco brava na terceira parte, quando o personagem de Selton luta para ter de volta seu "verdadeiro amor" - com o qual, aliás, não tem um décimo da química que há entre ele e Luana.