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terça-feira, 4 de novembro de 2008

O AMOR E O ÓDIO NA TERRA DO CINEMA: OS TÍTULOS PASSIONAIS QUE DAMOS AOS FILMES NORTE-AMERICANOS. PARTE I – O AMOR.


Continuo o trabalho, agora discutindo, não tão exaustivamente, a exaustiva adjetivação com que brindamos (nós? ou os portugueses?) os filmes norte-americanos que aportam por aqui. Do amor ao ódio, uma vasta gama de sentimentos acomete os responsáveis pelas versões em português dessas fitas. E, o que é mais engraçado, isso tudo é, não raras vezes, banhado pela tinta do sensacionalismo. É assim que substantivos próprios ou comuns, ou então frases curtas sem adjetivos, dão cria a orações inteiras, compostas de sujeitos, verbos etc., etc., etc. “Alice Adams” (1935), no qual Katharine Hepburn estrela no papel da mocinha pobre que almeja, num só tempo, amor e ascensão social, é entre nós conhecido como “A mulher que soube amar”. O título faz com esse filme o mesmo que “Jejum de amor” faz com “His girl Friday” – constrói expectativas falsas no espectador, uma vez que a jovem Alice está algo distante do estereótipo da moça romântica que sofre um amor intenso e submisso pelo moço rico. Ela é, sim, calculista a ponto de manipular toda a família de modo que esta encene o papel de emergente para que o moço seja cativado. A cena do jantar é formidável por representar a ironia da situação: é verão, e o moço é convidado pela namorada a experimentar uma infinidade de pratos pouco digestivos para a estação, servidos pela empregada que só faz praguejar. Aliás, a quebra de expectativas gerada pela tradução em português do título levanta algo que eu discutia com um amigo outro dia. Será isso fruto do descaso que os tradutores têm com o produto com o qual trabalham – nesse caso, considerado meramente como produto, destituído do rótulo de “arte” que tem a literatura, a qual usualmente merece deles um pouco mais de atenção? Ou então isso é feito para que o mercado seja atingido com mais impacto? Ambas as coisas são possíveis...
Também da Katharine (1955) é o belíssimo “Summertime”, história de uma secretária já madura que é atingida em cheio pelo grande amor numa viagem que faz à Veneza. Entre nós, o subtítulo é explicativo “Quando o coração floresce” (ou “florece”, de acordo com o que está estampado na embalagem da caríssima versão brasileira do filme, lançada pela Continental). Outro mais que explicativo é “Brigadoon”, bonito musical fantasioso de 1954, que também narra a história do grande amor, algo sublinhado pelo esquisito título “A lenda dos beijos roubados” com que o conhecemos – provavelmente escolhido por alguém que tinha acabado de ler um dos volumes açucarados de “Bianca”. “Young at heart” (1954) é outro que merece ser mencionado. O nome alude à canção homônima que foi um grande sucesso de Frank Sinatra. Não por acaso, o filme estrela o cantor/ator, que faz par romântico com a encantadora cantora/atriz Doris Day. A canção título (“Jovem de coração”), que é a música resultante de um longo trabalho de auto-descoberta do personagem problemático representado por Sinatra, é desconsiderada pelo gênio que deu título na tradução em português. Aqui o filme chama-se “Corações enamorados”.

Deixemos, agora, o amor por sentimentos menos arrebatadores... “Holiday” (1938) é um outro filme de Katharine Hepburn do qual nossa língua abusou. “Boêmio encantador” é o título, alusão ao personagem de Cary Grant, que, embora encantador, nada tem de boêmio. É, sim, crítico à sociedade que almeja unicamente o acúmulo de bens – mote que deixaria o romance insosso não fosse a genialidade de George Cukor, que o transforma, creio eu, num dos filmes mais bonitos e engraçados de todos os tempos. O pobre Cary também virou entre nós “O eterno pretendente”, numa fita de 1945 intitulada “Once upon a time” – título, diga-se de passagem, muito mais condizente com a fábula da lagarta dançarina que se transforma em borboleta, uma vez que o filme não retrata nenhuma história de amor. Sem comentários...

Continuando, “State Fair” é aqui conhecido por “Feira de Ilusões” (isso no plural, já que duas versões do mesmo – 1945 e 1962 – foram lançadas no Brasil). “The Philadelphia story” (1940) – outro com Katherine Hepburn e Cary Grant (elenco engrossado ainda mais por James Stewart), também dirigido por George Cukor – a maior comédia de todos os tempos, creio eu, ganhou de nós o nome de “Núpcias de escândalo” (e dos portugueses, o título de “Casamento Escandaloso”, segundo consta no IMDB – esse é o único filme do grupo para o qual encontrei registro dos títulos atribuídos no Brasil e em Portugal). Embora o casamento em questão efetivamente engendre um escândalo, quem já viu o filme sabe que esse não é, de modo algum, o único tema em questão no “História da Filadélfia”, daí a novamente pobre escolha do título.

E, para ainda uma vez provar que essas esquisitices não acontecem apenas com os produtos da era de ouro do cinema, cito o “When Harry met Sally” (“Quando Harry conheceu/encontrou Sally”, 1989), o já bastante conhecido entre nós “Harry e Sally: feitos um para o outro.”

A próxima postagem apresentará sentimentos menos doces.

domingo, 2 de novembro de 2008

O AMOR ESTÁ NO AR!: OS TÍTULOS PASSIONAIS QUE DAMOS AOS FILMES NORTE-AMERICANOS

Quando penso nas versões em português para os títulos dos filmes norte-americanos, me vem de imediato à mente a imagem da nossa Carmen Miranda, de lábios vermelhos e vestida em cores tropicais, beijando freneticamente o americano bobalhão de meia idade do filme “Entre a Loura e a Morena” (1943).
Não foi difícil encontrar duas dúzias de exemplos que provam o fato. Em dez minutos, minha busca comprovou que, se temos uma palavra favorita, ela não é outra senão o substantivo “amor”, que intitula indistintamente, e com a mesma ênfase, comédias descabeladas (as “screwball comedies”, gênero que floresceu nos anos de 1930 e 1940), comédias românticas, comédias musicais e dramas. “Jejum de amor” é o título em português para uma das comédias mais afiadas a que eu já assisti, “His girl Friday” (1940), de Howard Hawks, na qual um casal de jornalistas divorciados brigam durante duas horas para impor suas opiniões, tendo como pano de fundo um caso sensacionalista de assassinato, ao qual o personagem de Cary Grant (o dono do jornal), ajuda a botar mais lenha. Nesse caso, quem procura o filme porque se sentiu atraído pelo título em português é que vai ficar em “jejum”...
E tem mais, “O amor custa caro” intitula o “Intolerable cruelty” (2003) dos irmãos Cohen (diretores de “Onde os fracos não tem vez”, apenas para citar o mais premiado) filme tão ágil quanto “His girl Friday”, com direito até a uma perseguição na qual o bandido asmático se mata com um tiro na boca pensando aplicar em sua garganta o medicamento contra as crises da doença. “Bell, book and candle” (Sino, livro e vela - 1958), comédia romântica com James Stewart e Kim Novac cujo título norte-americano remete às bruxarias da personagem principal, transformou-se entre nós em“Sortilégio do amor”; “Desk set” (1957), outra comédia da década de 50, em que atua o inesquecível casal Katharine Hepburn e Spencer Tracy – os quais têm como coadjuvante o bisavô do site de busca “Google” – ganhou o nome de “Amor eletrônico”; “Dancing lady”, no qual a dama dançarina do título é interpretada por Joan Crawford (!), chama-se aqui “Amor de bailarina”; “The Barkeleys of Broadway” (1949), fascinante película de Ginger Rogers e Fred Astaire, cuja história remete à vida de Ginger (a comediante Sra. Barkeley, para se firmar como atriz “séria”, leva aos palcos um drama que conta a história de Sarah Bernhardt – semelhante ao que fez a Sra. Rogers, que recebeu um Oscar pelo drama “Kitty Foyle” depois de ter feito oito comédias musicais com o Sr.Astaire), é intitulada, no Brasil, “Ciúme, sinal de amor”; “Anchors aweigh”(1946), divertido musical dos anos de 1940 no qual figuram Frank Sinatra e Gene Kelly como dois marinheiros, é chamado por nós “Marujos do Amor”; o recente drama musical “Moulin Rouge” (2001) – entre nós conhecido como “Moulin Rouge: oamor em vermelho”, é outro exemplo; sem falar no maravilhoso filme do mesmo gênero “West side story” (A história do lado oeste - 1961), aqui conhecido por“Amor Sublime Amor”. Como a lista é maior do que eu imaginava, discutirei em seguida os títulos que abusam dos adjetivos ou frases altissonantes.