Muitos anos antes de aprender que o clima natalino quase palpável não passava de uma mistificação do mercado para induzir os consumidores a gastar dinheiro, o Natal era a minha época favorita. Agora que estou um pouquinho mais velha e sábia (e cética...), noto espantada que aquela sensação antiga ainda continua a mesma. Ainda continuo indo ao Shopping Iguatemi, não mais para pegar na mão os flocos de neve de mentira jogados de meia em meia hora do alto do estabelecimento (até porque faz 15 anos que o shopping parou de ensaboar os clientes com aquela mistura de água e sabão em pó), mas para ver a tradicional arrumação de Natal, abanar a mão para o Papai Noel (não posso mais me sentar no colo dele) e comprar enfeitinhos nas Lojas Americanas ao som da Simone cantando "Então é Natal...". A conclusão a que chego (não menos espantada) é que, embora algumas coisas sejam piegas, são elas que dão sentido para nossas vidas... O Macaulay Culkin entregando a pombinha da amizade para sua amiga bizarra que trata as pombas do parque no "Esqueceram de mim" (1992) me emociona até às lágrimas desde que eu era criança. Não menos que o solitário Senhor Matuschek da "Loja da Esquina" (1940) quando ele entrega aos seus funcionários a tão esperada bonificação e leva o rapazinho pobre que recém contratara para uma "verdadeira" ceia natalina. Pouco importa que esses e tantos outros personagens saiam de galochas e sobretudo sob a neve, enquanto eu os vejo com o ventilador ligado num calor que passa dos 30 graus. Isso decididamente não tem importância, porque me pego cantando "Winter Wonderland" e "White Christmas" dezenas de vezes por dia nessa época do ano, mesmo que estejamos no meio do verão e o pé de acerola daqui de casa esteja todo verde e vermelho. Essas canções e filmes têm gosto de infância, lembram-me de quando eu esperava o Papai Noel acordada, por isso sou tão grata por Hollywood ter perpetuado a "magia do Natal". A indústria do cinema pode ser até ser piegas, mas ela me faz muito feliz...
Quero transmitir um pouco desse clima a todos os amigos blogueiros que fiz por aqui. A todos, um grande abraço - tão grande quanto este que a Audrey está dando no Papai Noel. E ao som de "Winter Wonderland" cantado pela queridíssima DoDo.
Quando penso nas versões em português para os títulos dos filmes norte-americanos, me vem de imediato à mente a imagem da nossa Carmen Miranda, de lábios vermelhos e vestida em cores tropicais, beijando freneticamente o americano bobalhão de meia idade do filme “Entre a Loura e a Morena” (1943). Não foi difícil encontrar duas dúzias de exemplos que provam o fato. Em dez minutos, minha busca comprovou que, se temos uma palavra favorita, ela não é outra senão o substantivo “amor”, que intitula indistintamente, e com a mesma ênfase, comédias descabeladas (as “screwball comedies”, gênero que floresceu nos anos de 1930 e 1940), comédias românticas, comédias musicais e dramas. “Jejum de amor” é o título em português para uma das comédias mais afiadas a que eu já assisti, “His girl Friday” (1940), de Howard Hawks, na qual um casal de jornalistas divorciados brigam durante duas horas para impor suas opiniões, tendo como pano de fundo um caso sensacionalista de assassinato, ao qual o personagem de Cary Grant (o dono do jornal), ajuda a botar mais lenha. Nesse caso, quem procura o filme porque se sentiu atraído pelo título em português é que vai ficar em “jejum”... E tem mais, “O amor custa caro” intitula o “Intolerable cruelty” (2003) dos irmãos Cohen (diretores de “Onde os fracos não tem vez”, apenas para citar o mais premiado) filme tão ágil quanto “His girl Friday”, com direito até a uma perseguição na qual o bandido asmático se mata com um tiro na boca pensando aplicar em sua garganta o medicamento contra as crises da doença. “Bell, book and candle” (Sino, livro e vela - 1958), comédia romântica com James Stewart e Kim Novac cujo título norte-americano remete às bruxarias da personagem principal, transformou-se entre nós em“Sortilégio do amor”; “Desk set” (1957), outra comédia da década de 50, em que atua o inesquecível casal Katharine Hepburn e Spencer Tracy – os quais têm como coadjuvante o bisavô do site de busca “Google” – ganhou o nome de “Amor eletrônico”; “Dancing lady”, no qual a dama dançarina do título é interpretada por Joan Crawford (!), chama-se aqui “Amor de bailarina”; “The Barkeleys of Broadway” (1949), fascinante película de Ginger Rogers e Fred Astaire, cuja história remete à vida de Ginger (a comediante Sra. Barkeley, para se firmar como atriz “séria”, leva aos palcos um drama que conta a história de Sarah Bernhardt – semelhante ao que fez a Sra. Rogers, que recebeu um Oscar pelo drama “Kitty Foyle” depois de ter feito oito comédias musicais com o Sr.Astaire), é intitulada, no Brasil, “Ciúme, sinal de amor”; “Anchors aweigh”(1946), divertido musical dos anos de 1940 no qual figuram Frank Sinatra e Gene Kelly como dois marinheiros, é chamado por nós “Marujos do Amor”; o recente drama musical “Moulin Rouge” (2001) – entre nós conhecido como “Moulin Rouge: oamor em vermelho”, é outro exemplo; sem falar no maravilhoso filme do mesmo gênero “West side story” (A história do lado oeste - 1961), aqui conhecido por“Amor Sublime Amor”.Como a lista é maior do que eu imaginava, discutirei em seguida os títulos que abusam dos adjetivos ou frases altissonantes.