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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Oscar 2013, parte 4: Minhas apostas pro bolão do blog DVD, sofá e pipoca

Este ano, participo do bolão do Oscar do blog "DVD, Sofá e Pipoca" sem nenhuma pretensão de ganhar, porque: 1- escolhi apenas dentre os filmes que vi (por isso não pitaquei em quesitos como "Melhor Documentário" e "Melhor curta de animação", por exemplo); 2-  apontei meus favoritos (sim, sei que Anne Hathaway vai ganhar o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, mas vamos combinar que o papel de Amy Adams em "The Master" tem muito mais suco que o dela, né?). Lá vai minha lista, então!

Filme: Argo 
Ator: Joaquin Phoenix 
Atriz: Emmanuelle Riva 
Ator coadjuvante: Christoph Waltz 
Atriz Coadjuvante: Amy Adams 
Animação: Frankenweenie 
Maquiagem: Lincoln 
Figurino: Anna Karenina 
Direção: Michael Haneke (embora eu ache que o Benh Zeitlin tenha arrasado com Beasts of the Southern Wild) 
Edição: Argo 
Filme estrangeiro: Amour  
Maquiagem e cabelo: Lincoln 
Canção: Suddently
Design da produção: Lincoln 
Edição de som: Django Unchained 
Mixagem de som: Argo 
Roteiro adaptado: Argo 
Roteiro original: Amour 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Oscar 2013. Parte 2: “Argo”

Vamos dar andamento aos apontamentos críticos sobre os indicados ao Oscar de Melhor Filme de 2013 (a lista completa deles pode ser acessada aqui), especialmente porque o número de acessos ao post anterior surpreendeu-me (muitos desejosos de um guia para a compreensão das obras eleitas pela Academia, suponho; tomo a peito a tarefa sem qualquer pretensão, como vocês poderão ver pela pequenina extensão desta resenha).
Ocuparão as linhas daqui em diante dois bons filmes. Primeiramente “Argo”, vencedor, por hora, do troféu de Melhor Filme do American Film Institute (AFI). A resenha que seguirá estas e a próxima  se debruçará sobre um mediano e um fraco, “Hitchcock” e “Les Misérables” – perdoemos os acadêmicos; não se pode acertar sempre, especialmente quando o que se está em cena é um bem acabado exemplar de “lixo glamouroso”, que é, afinal de contas, a very deceivable thing...


“Argo”

Na minha concepção de “cinéfila inveterada que dá sua impressão sobre os filmes que vê” – descrição que define bem esses breves posts que estou a escrever ultimamente –, este é o grande filme dentre os indicados.
com Alan Arkin e John Goodman, o diretor e o produtor
da farsa cinematográfica que permite aos
Estados Unidos desembarcar no Irã
É cinematográfico até a espinha, ao brincar com os nossos nervos de pobres espectadores, passivos do outro lado da tela, tão abandonados quanto o grupo de diplomatas americanos abandonados à sorte no Irã. 
É brilhante pela espetacularização da política, pelo seu viés pseudo jornalístico/documental (as câmeras na mão a mimetizarem as filmagens nervosas no palco do evento sensacional, realizadas pela câmera jornalística; as imagens de arquivo/ou imagens criadas no intuito causarem o efeito de imagens de arquivo), pelo desvelamento da artificiosidade da decadente Hollywood dos anos de 1970, pelo timing de thriller, de comédia, de drama...
Ben Affleck, na verdade, nunca me enganou. Desde meados dos anos 90 eu o via como muito mais que o rostinho bonito que ele na superfície era. Não errei. Em 1998, o rapaz de vinte e poucos anos encarnou o garoto prodígio e levou para casa o Oscar de Melhor Roteiro por “Gênio Indomável”, honraria dividida com o colega Matt Damon. Em “Argo” ele acumula a função de Diretor à de Produtor e ator principal. Dá conta de tudo admiravelmente bem, ao reger o grupo de atores visando interpretações abaixo do tom, o que dá ao conjunto um surpreendente éthos documental, algo bastante difícil de ser atingido na interpretação standard de Hollywood.
O agente e os diplomatas
No nível da trama, atrela com verve a arena política e a indústria do cinema, fazendo emergir o caráter de encenação, de fingimento, de teatro barato de uma e outra. Ademais, joga um olhar luminoso para a Hollywood da década de 70, cuja decadência era bem mimetizada pelas letras enferrujadas e decrépitas dependuradas sobre a colina.
Não podemos deixar de lado o fato de o filme recontar uma história real: o governo dos Estados Unidos efetivamente infiltrou no Irã um agente, disfarçado de cineasta, para que ele retirasse do país o grupo de diplomatas escondidos na embaixada do Canadá desde uma conflagração civil naquele país. No entanto, por mais que a realidade seja por vezes deveras cinematográfica, o percurso que a separa do (bom) cinema é mais pedregoso do que a princípio se supõe. Apoiado no ótimo roteiro de Chris Terrio, Affleck explorou com artesania notável os elementos romanescos da história real. Bravo, mio bello!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Oscar 2013: Amour, Argo, The Master. Parte 1: “Amour”


Animador o conjunto de filmes que participa do páreo desta festa do Oscar. Além de “The Beasts of the Southern Wild” (Indomável Sonhadora), de Benh Zeitlin – sobre o qual o blog já deu notícia na segunda metade de dezembro –, três outros ótimos estão em cartaz há tempos por aqui: “Amour” (de Michael Haneke, filme austríaco que também compete pelo prêmio de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Diretor), “Argo” (de Ben Affleck) e “The Master” (de Thomas Anderson, que também concorre como Melhor Diretor). Quatro filmes muito diferentes, todos a demonstrarem grande domínio técnico de seus artífices. A seguir, notícia dos três cujos títulos encimam o post. Notícia em forma de folhetim, porque o tempo urge (mais il faut écrire...). Capítulo 1: “Amour”... 

“Amour” (Amor)

Os últimos momentos de vida de um casal octogenário. Tema tratado já tantas vezes pelo melodrama ganha novo rosto ao passar pela objetiva dura, grave, alemã de Haneke – objetiva que o leitor encontrou pela última vez um par de anos atrás em “A Fita Branca”, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2010. 
Trintignant e Isabelle Huppert, pai e filha
O foco é posto sobre a esposa, pianista ainda entusiasta das artes. No primeiro plano da película a câmera a olha a partir do palco onde se apresentará seu ex-aluno, agora notório pianista. O plano de conjunto mal permite aos expectadores apreenderem-na sentada na plateia. A cena desenha metonimicamente a mise-en-scène de Haneke. Constantes no filme são os longos planos de conjunto, a câmera parada, a dificuldade de se penetrar os pensamentos dos personagens, de desvelá-los. 
A câmera de Haneke estabelece uma relação dialética com a sua protagonista. Sua frieza, a recusa de reagir emocionalmente às situações, é também a da personagem de Emmanuelle Riva (que realiza um grande trabalho, com justeza colocado em destaque pela indicação ao prêmio de Melhor Atriz). A entrega da pianista à arte é antes uma devoção ao métier que uma paixão. Artista precisa que é, dá de costas ao piano e à vida quando a degeneração a impede de realizar sua arte com precisão. 
O corpo paulatinamente paralisa-se, a mente falha. Ela precisa aceitar o auxílio do marido para se alimentar, das cuidadoras para realizar sua higiene pessoal. O penoso processo de envelhecimento é sublinhado pelas lentes de Haneke ao ganhar corpo através de uma personagem cuja característica dominante era a perícia técnica. 

O marido (Jean-Louis Trintignant) é espectador privilegiado de seu esvaecer. Porque ele é seu oposto no que toca ao temperamento, não demora para que se torne paulatinamente também personagem a se decompor, junto dela. E aí, sonhos, delírios e devaneios passam diante da lúcida câmera de Haneke – momentos brilhantemente compostos estes em que a câmera objetiva torna-se subjetiva, plenamente mergulhada no cotidiano do casal em ruínas.