domingo, 31 de maio de 2009

O mundo é um manicômio...

Eu, que já conhecia de tempos o ditado "De poeta e louco, todo mundo tem um pouco", aferi a veracidade do segundo predicativo nesses dois últimos meses, enquanto meu computador e eu lutávamos ferrenhamente para que terminássemos minha dissertação antes que ela acabasse conosco... E foi quase o que aconteceu, que o digam as teclas soltas do PC e os parafusos soltos de minha pobre cachola...

Isso seria apenas mais uma reclamação se não achasse eco num filme que revi nos últimos dias em que escrevia, "Arsenic and old lace" (1944). É, a incrível screwball comedy de Frank Capra, denominada "O mundo é um manicômio" em Portugal, e que infelizmente ainda não foi lançada entre nós, fez com que eu me sentisse melhor comigo mesma. Sim, porque o fato de me esquecer continuamente d
aquilo que meus familiares me dizem não quer dizer que eu esteja louca... pelo menos, não tão louca quanto essas duas simpáticas senhoras, tias de Cary Grant, as quais dão cabo de todos os velhinhos indefesos que batem à porta delas...
E tudo isso por obra de caridade... Também estou a anos luz de distância do sanguinário irmão do protagonista, ninguém menos que Boris Karloff (ao menos depois da cirurgia plástica que lhe fez o Dr. Einstein)...
Difícil falar sério sobre esta comédia pastelão deliciosa, que mistura tão bem os ingredientes necessários para fazer o espectador rir sem que ele fique com vergonha de olhar do lado, e precise tirar toda a garotada da sala para que ela não veja a pornografia que pulula das pretensas comédias produzidas ultimamente. Aliás, fico imaginando quanto o cinema iria ganhar se Adam Sandler, Ben Stiller e Will Smith parassem de se supor engraçados e assistissem a clássicos como este, e também a Núpcias de Escândalo (Philadephia Story, 1940) e a Levada da breca (Bringing up baby, 1938), apenas para mencionar alguns.
Há aqui flagrado um grande momento do cinema mundial. Hollywood, que já havia descoberto a tempos que não necessariamente precisava transmitir mensagem moralizante ao público, aqui se permite ser totalmente amoral, e por isso mesmo tão fascinante. Numa subversão de preceitos caros ao teatro e ao cinema, as velinhas
outlaws são aqui as ingênuas e as personagens que mais cativam o público. Julgam que os envenenamentos por elas cometidos são em benefício de suas vítimas, pobres senhores sem ninguém que olhe por eles. E sua caridade vai ao ponto de sepultá-los no porão, em belas cerimônias regadas a hinos cristãos.
A desconsideração das senhoras com relação à moral vigente é acompanhada da ojeriza que sentem pelo irmão do protagonista, o citado Boris Karloff, o qual ironicamente cometera a mesma quantidade de crimes que elas, no entanto, está na mira da polícia, das tias e de Cary Grant, que começa a ser afetado pela insânia reinante na família:...



E quando as duas surtadíssimas senhoras recusam-se a enterrar o Sr. Spenalzo, morto por Karloff, junto à vítima delas - afinal, o estrangeiro não merecia o mesmo funeral cristão oferecido ao senhor que fora beneficiado com a caridade das mulheres... - o público acaba por perceber que as senhoras são as personagens mais coerentes da história. Sim, porque não parece muito sensato da parte de Cary Grant querer internar seu outro irmão num hospício apenas porque ele se acha o presidente dos Estados Unidos. Especialmente quando as loucas realmente perigosas são as tias. E tampouco parece são o policial que decide deixar Cary Grant amarrado e amordaçado para que este ouça sem reclamar o enredo da peça de teatro escrita por aquele.A comédia está repleta de momentos impagáveis como esses. Se minha recomendação valesse alguma coisa, aconselharia fortemente os amantes de comédia que economizassem o ingresso de "Uma noite no museu 2" e baixassem esse filme. Com certeza, não se arrependeriam.

Um comentário:

As Tertulías disse...

Esze é um dos meus preferidos.... que maravilha... nao só Grant & Priscilla Lane mas as duas tias.... que maravilhosas!!!!!! Como se chamavam estas atrizes????