Os dois últimos filmes aos quais assisti não me fizeram perder tempo. Eu já sabia que o primeiro (“Cactus flower” é o título original) era uma comédia muito eficiente, então fui atrás dele, ontem de noite, quando estava precisando de minha ração de diversão. Como infelizmente nosso mercado de clássicos é, ainda, bem pequeno, eu o vi porque o descobri, por acaso, num desses fóruns de download de filmes que existem pela internet (Torrent do filme). O que primeiro me atraiu foi, como sempre acontece, o elenco, já que nunca tinha ouvido falar no diretor Gene Saks. Ingrid Bergman, Walter Matthau e Goldie Hawn – que ganhou um Oscar de atriz coadjuvante pela empreitada – co-atuam nessa fantástica comédia que, não sei como, conseguiu no IMDB a medíocre média 6,8.
O elenco consegue dar verossimilhança a uma imensa quantidade de ditos cômicos que, na mão de um grupo menos afinado, faria com que o resultado ficasse medíocre. Para isso, o trabalho do diretor é fundamental, e ele usa boas estratégias para dar um sopro de vida às personagens. A longa seqüência inicial da mocinha que deixa uma carta na caixa do correio, volta para casa, tranca portas e janelas e tenta suicídio é cinematograficamente muito bem feita.
Através unicamente da imagem, vemos que a moça é uma típica jovem suburbana, e está apaixonada por um homem mais velho, que a deixou plantada a sua espera, e por isso ela decide pôr fim à existência. A interação verbal só é estabelecida depois que o vizinho a salva e, ao fazer respiração artificial na moça, é agarrado por ela. Nesse momento, o espectador percebe algo que o casal só perceberá nos últimos minutos do filme –a moça é talhada muito mais ao rapaz que ao homem sisudo cuja foto ela beijou antes de tentar se matar. Do mesmo modo como percebemos que o lugar do dentista é junto da rígida secretária, tão espinhosa quanto o cactus que lhe pertence, e que acaba por desabrochar junto com a personagem e com a atriz – a qual, depois de ter sofrido desgraçadamente nos papel da princesa Anastácia, Joana D’Arc, Hedda Gabler e outras heroínas trágicas, recebeu aqui o que foi, até onde eu sei, o seu único papel cômico.
O modo como a Ingrid se desincumbe dessa tarefa por si só faz com que o filme seja digno de atenção, mas essa é apenas uma das características positivas do filme, que deixa de lado o romance meloso para pintar com humor a história do dentista solteirão que, para fugir do casamento, faz a namorada idealista acreditar que ele é casado e pai de três filhos. A atriz iniciante (essa é a primeira fita de Goldie Hawn) está à altura dos maduros e experientes protagonistas, como a amante paradoxalmente cheia de princípios, que ao temer pelo futuro da esposa do dentista, por quem se afeiçoa – a secretária é coagida pelo chefe a fazer esse papel – acaba jogando a espinhosa mulher no colo do amante. Além dos achados cômicos, o humor está na ironia da situação – embora todos anseiem por aventuras, é possível se realizar num relacionamento maduro, baseado no companheirismo e em pequenos gestos, como o de fazer um sanduíche de galinha e ovo para o ser amado...
Outro filme que se sustenta por meio de um quiprocó é “Minha esposa favorita” (“My favorite wife”), esse já lançado por aqui (mas caaaro...) que trás Irenne Dunne e Cary Grant nos papéis principais como um casal que, depois de quatro anos de vida em comum, é separado pela aparente morte da mulher – apenas aparente, já que, no exato momento em que o juiz bate o martelo para declará-la oficialmente morta, ela cruza, vivíssima, o portão de sua casa. O que seria o fim de um problema para o casal torna-se apenas o início quando a esposa descobre que seu marido acabara de se casar com outra. É a partir daí que ela vai colar no esposo – que efetivamente a ama – para que ele resolva o impasse, o que se torna difícil porque ele é um tipo cheio de princípios, que não sabe como abandonar a sua segunda mulher.
Aqui também os ditos cômicos – “Aposto que você diz isso para todas as suas esposas.” é apenas um deles – têm um casamento perfeito com as ótimas seqüências visuais, que não precisam de palavras para se efetivarem. Exemplos são a cena dos pais que assistem orgulhosos aos filhos repetirem uma infinidade de vezes as lições que aprenderam – o que deixa a segunda esposa profundamente irritada; ou a reação do marido depois de descobrir que a esposa, durante os sete anos que estivera perdida, vivera numa ilha com um homem bonito e atlético. Além disso, o filme teve para mim uma graça especial porque descobri, nele, uma interlocução com “Operação Cupido” (1998) – filme a que eu sempre assisto com nostalgia por me remeter à minha adolescência: o nome do personagem de Cary – Nick – é também o de Dennis Quaid; a cena do elevador, em que o marido vai se inclinando, conforme a porta se fecha, porque vê a esposa (ex-esposa, no caso do último); o nariz machucado do protagonista, do qual a protagonista cuida (embora ela o faça de um modo muito menos delicado em “Minha Esposa Favorita”); o “nothing, nothing at all” pronunciado pelos filhos dos dois casais.
O filme é irresistível, e vale quanto custa.
Através unicamente da imagem, vemos que a moça é uma típica jovem suburbana, e está apaixonada por um homem mais velho, que a deixou plantada a sua espera, e por isso ela decide pôr fim à existência. A interação verbal só é estabelecida depois que o vizinho a salva e, ao fazer respiração artificial na moça, é agarrado por ela. Nesse momento, o espectador percebe algo que o casal só perceberá nos últimos minutos do filme –a moça é talhada muito mais ao rapaz que ao homem sisudo cuja foto ela beijou antes de tentar se matar. Do mesmo modo como percebemos que o lugar do dentista é junto da rígida secretária, tão espinhosa quanto o cactus que lhe pertence, e que acaba por desabrochar junto com a personagem e com a atriz – a qual, depois de ter sofrido desgraçadamente nos papel da princesa Anastácia, Joana D’Arc, Hedda Gabler e outras heroínas trágicas, recebeu aqui o que foi, até onde eu sei, o seu único papel cômico.
O modo como a Ingrid se desincumbe dessa tarefa por si só faz com que o filme seja digno de atenção, mas essa é apenas uma das características positivas do filme, que deixa de lado o romance meloso para pintar com humor a história do dentista solteirão que, para fugir do casamento, faz a namorada idealista acreditar que ele é casado e pai de três filhos. A atriz iniciante (essa é a primeira fita de Goldie Hawn) está à altura dos maduros e experientes protagonistas, como a amante paradoxalmente cheia de princípios, que ao temer pelo futuro da esposa do dentista, por quem se afeiçoa – a secretária é coagida pelo chefe a fazer esse papel – acaba jogando a espinhosa mulher no colo do amante. Além dos achados cômicos, o humor está na ironia da situação – embora todos anseiem por aventuras, é possível se realizar num relacionamento maduro, baseado no companheirismo e em pequenos gestos, como o de fazer um sanduíche de galinha e ovo para o ser amado...
Outro filme que se sustenta por meio de um quiprocó é “Minha esposa favorita” (“My favorite wife”), esse já lançado por aqui (mas caaaro...) que trás Irenne Dunne e Cary Grant nos papéis principais como um casal que, depois de quatro anos de vida em comum, é separado pela aparente morte da mulher – apenas aparente, já que, no exato momento em que o juiz bate o martelo para declará-la oficialmente morta, ela cruza, vivíssima, o portão de sua casa. O que seria o fim de um problema para o casal torna-se apenas o início quando a esposa descobre que seu marido acabara de se casar com outra. É a partir daí que ela vai colar no esposo – que efetivamente a ama – para que ele resolva o impasse, o que se torna difícil porque ele é um tipo cheio de princípios, que não sabe como abandonar a sua segunda mulher.
Aqui também os ditos cômicos – “Aposto que você diz isso para todas as suas esposas.” é apenas um deles – têm um casamento perfeito com as ótimas seqüências visuais, que não precisam de palavras para se efetivarem. Exemplos são a cena dos pais que assistem orgulhosos aos filhos repetirem uma infinidade de vezes as lições que aprenderam – o que deixa a segunda esposa profundamente irritada; ou a reação do marido depois de descobrir que a esposa, durante os sete anos que estivera perdida, vivera numa ilha com um homem bonito e atlético. Além disso, o filme teve para mim uma graça especial porque descobri, nele, uma interlocução com “Operação Cupido” (1998) – filme a que eu sempre assisto com nostalgia por me remeter à minha adolescência: o nome do personagem de Cary – Nick – é também o de Dennis Quaid; a cena do elevador, em que o marido vai se inclinando, conforme a porta se fecha, porque vê a esposa (ex-esposa, no caso do último); o nariz machucado do protagonista, do qual a protagonista cuida (embora ela o faça de um modo muito menos delicado em “Minha Esposa Favorita”); o “nothing, nothing at all” pronunciado pelos filhos dos dois casais.
O filme é irresistível, e vale quanto custa.
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