sábado, 2 de outubro de 2010

Judy Garland em cena: um filme e um show


Judy Garland é uma das estrelas de cinema que mais me atraem. Mais que admirar seu trabalho sempre competente como atriz e cair siderada quando a ouço cantar, fico fascinada com a relação de amor e ódio que ela desde sempre travou com o show biss.
Filha mais nova de um casal de artistas de vaudeville de Minnesota, Judy praticamente nasceu nos palcos, nos quais ingressou profissionalmente aos dois anos, quando, reza a lenda, arrebatou o público com sua interpretação de "Jingle Bells"... Sua voz lhe abriu as portas da poderosa MGM, que a rebatizou - até então ela era era Frances Ethel Gumm - e tomou para si a tarefa de transformar a adolescente gorducha numa jovem longilínea que fosse desejada pelas plateias de todo o mundo.
O movimento, comum à Hollywood do star system, deixou na moça marcas tão profundas quanto deixara anos antes em Greta Garbo. Em 1939, ano em que Garbo emplacou seu último grande sucesso de bilheteria e de crítica (o imperdível "Ninotchka"), Judy despontou para a fama no "Mágico de Oz". A ele se seguiu uma série de filmes que rodou com outro queridinho de Hollywood nos anos dourados do cinema, Mickey Rooney (com quem já havia trabalhado num filme da série "Andy Hardy", protagonizada pelo ator). O sucesso dos filmes da dupla tornou-a uma das principais estrelas da galáxia da MGM, porém, também foi o deflagrador da dependência química que acabaria por levá-la à morte em 1969, quando ela tinha apenas 47 anos. Em quantas histórias reais e ficcionais como essa a indústria do cinema não desempenhou papel análogo de mãe que se revelou madrasta?...

O passeio pela biografia da nossa Frances Gumm não aparece aqui por acaso. Os tropeços da jovem atriz na trajetória pela estrada pedregosa da fama estão impressos em sua obra, e é isso que a torna tão notável. Selecionei aqui duas de suas produções que me agradam muito - e por motivos diferentes. A primeira é "Strike up the band" (1940), segunda das quatro películas que ela rodou com Mickey Rooney; a segunda é o "Judy Garland Show", série televisiva veiculada pela CBS entre 1963 e 1964.


"Strike up the band" é um daqueles descontraídos musicais que Hollywood rodou desde que começou a falar, em torno de 1929. A fórmula de sucesso do gênero é seguida quase que religiosamente. Nele estão presentes artistas conhecidos, bom humor, romantismo, canções de compositores queridos pelo público e números musicais de tirar o fôlego. No entanto, o filme se destaca pela deliciosa sequência "Nell of New Rochelle", interessante não apenas pela leitura crítica que faz da tradição teatral, como porque alude ao próprio passado artístico de Judy, que cresceu nos populares palcos do vaudeville dos anos 20.
O fio que liga a ação desse musical é tênue: As personagens de Judy e Mickey são dois jovens do interior que sonham com a fama. No intuito de conseguirem dinheiro para levarem a Nova York seu grupo musical, os jovens colocam em cena "Nell of New Rochelle", melodrama "cheio de palavras antigas" que haviam escrito.


A bem humorada sequência dá uma aula de história do teatro. O enredo encenado é totalmente tributário dos melodramas que eram sucesso de público na Europa e na América desde 1800.
Nela estão presentes as personagens tipificadas - Nelly é uma pobre moça que vive de esmolas, é perseguida por um vilão bigodudo que tem voz cavernosa e risada macabra, e é salva por um belo cavalheiro; a moral burguesa é defendida de modo escolar pelas personagens, quer por meio de discursos, quer de canções; e todos terminam felizes para sempre, depois da destruição do vilão pelo mocinho.
O melodrama constantemente visita esse blog. Não é um acaso. O gênero surpreendentemente nos persegue a todos, por meio dos enlatados cinematográficos e das telenovelas que ainda insistem em nos fazer engolir essa visão religiosa de que o mundo é justo, o casamento e a procriação são a finalidade maior da existência, and so on...
Portanto, não podemos deixar passar uma produção que zomba desses lugares comuns como esse filme (de 1940!) o faz. Recomendo fortemente a sequência aos leitores. Recostem-se com calma (ela tem 15 minutos). Certamente vão se divertir:



A sequência é fascinante pela recriação que faz do gênero.
Recriação cômica, bem entendido, pois embora os artistas melodramáticos precisassem exagerar nos gestos para imprimirem em suas fisionomias o que se passava nas suas cacholas, é certo que aqui tal exagero é elevado ao cubo. Porém, a maquiagem carregada do elenco, a voz sibilante da mocinha (e a voz rouca do bandido) e os diálogos verborrágicos não devem em nada aos melodramas protagonizados por artistas como Sarah Bernhardt. Não conheço a fundo a biografia de Judy Garland, mas é bastante provável que ela tivesse dado vida, nos palcos populares pelos quais passou, à personagens da estirpe de Nell of New Rochelle. A atriz sublinha de modo formidável o que de patético há em canções como "Heaven Will Protect the Working Girl" ("O céu protegerá a moça trabalhadora", de 1909) e "Come home, father" ("Volte para casa, papai", 1864), as quais levavam os espectadores de fins do século XIX e começo do XX às lágrimas, canções cuja pobreza conceitual salta aos olhos quando vistas com algum senso crítico. "Strike up the band" mostra de modo cabal que enredos e personagens frágeis como esses apenas podem ser ressuscitados pelo viés do humor. Escolha de mestre a do diretor Busby Berkeley, cuja contribuição à história do cinema não se resume aos estravagantes números de caleidoscópio, como pensam muitos.
E nesse filme Judy ainda dava os primeiros passos rumo àquele espantoso domínio de cena que ela demonstrará anos mais tarde, e que está todo contido no "Judy Garland Show".

Mickey Rooney, já então um mocinho de 20 anos e com impressionantes 14 anos de experiência nas telas (e - pasmem - hoje, aos 90 anos, ele ainda continua na ativa), parece ter exercido papel de destaque no desabrochar da atriz como profissional. Sua participação na série televisiva de Judy prova-nos que a química do casal era fruto da afeição genuína que sentiam um pelo outro - e essa afeição foi fundamental para a sustentação da atriz que desde bem jovem vivia sob o efeito de calmantes e estimulantes.
Porém, se Mickey Rooney naqueles anos 60 ainda conseguia fazer Judy reviver a cômica que ela havia sido no teatro de vaudeville, os anos de consumo de drogas e o desdém com que a indústria cinematográfica passara a tratá-la deixaram-lhe marcas profundas. A soma desses fatores deu-nos, no entanto, uma atriz madura, complexa e completa. Por isso, a visita ao "Judy Garland Show" é programa obrigatório aos seus fãs.

Se Judy Garland já brilha como atriz, como cantora ela é incomparável. O domínio de palco e câmera que revela, a escolha do repertório e a incrível afinação oferecem ao público uma experiência estética de um nível poucas vezes suscitado por um intérprete num palco. Ao interpretar as canções que marcaram sua infância e adolescência, sua vida pessoal e profissional, Judy Garland consegue o casamento perfeito da mulher, da atriz e da cantora. Toda a complexidade da mulher está impressa no modo como ela interpreta canções como "A foggy day in London Town" (Gershwin), "San Francisco" (Kahn); "Old Devil Moon" (E.Y. Harburg e Burton Lane) e tantos outros clássicos. Em "A Foggy Day", seu desempenho começa contido e se intensifica conforme os olhos do eu-lírico da canção veem o amor iluminar o caminho onde antes havia uma neblina espessa. O mise-en-scène intimista e os primeiros planos por meio dos quais Judy é tomada dão relevo apenas à canção (demorei muito tempo para reencontrar essa gravação, que tanto me impactou quando a vi pela primeira vez no blog do Ricardo).



A voz de Judy Garland e seus gestos potencializam os sentidos das canções que ela escolhe. A especificidade do veículo onde essas pérolas foram veiculadas não é em nenhum momento negligenciada. Sobejam os primeiros planos da artista - a subjetiva direta, profundamente expressiva, aproxima-se mais e mais de seu rosto, parecendo captar o alvoroço de sua alma nas canções melancólicas ou sensuais. E quando invade a tela o rosto já macerado da atriz e seus grandes olhos inquirem o espectador, ela se torna muito humana e lindíssima.

Nunca imaginei que alguém pudesse superar a interpretação de Petula Clark de "Old Devil Moon". Judy consegue, pois injeta uma dose de desvario romântico na leitura desses versos, glosando assim a crescente intensificação do arrebatamento amoroso que eles suscitam:

You've got me flyin' high and wide
On a magic carpet ride
Full of butterflies inside.
Wanna cry, wanna croon,
Wanna laugh like a loon.
It's that old devil moon
In your eyes.





E nos momentos descontraídos, a atriz mostra-se tão senhora de si como quando dera vida a Nell of New Rochelle, em 1940. Exemplo disso é sua interpretação de "San Francisco", canção que ganhara as telas em 1936 no filme homônimo (denominado no Brasil "São Francisco, cidade do pecado") protagonizado por Jeanette Mac Donald e Clark Gable.
A canção era uma das preferidas de Judy, como nos atestam os vários registros que há da mesma nos álbuns da artista gravados a partir de seus shows. Em comum nessas gravações há a introdução de uma estrofe cômico-laudatória que parece ter sido composta pela própria Judy, na qual ela dizia que nunca se esqueceria como a "Brava Jeanette" cantava em meio das ruínas da cidade: "A-a-a-and saaaang", enfatiza ela, reproduzindo a interpretação que Jeanette fizera da canção - interpretação tão ao gosto dos anos 30, quando a performance das operetas teatrais ainda dava as cartas no cinema. E Judy leva o mimetismo às últimas consequências, numa apresentação que paga claro tributo ao número musical de sua antecessora. Trinta anos depois de Jeanette, Judy traz à canção o mesmo entusiasmo quase infantil que tomara a mocinha de "São Francisco, a cidade do pecado" enquanto ela entoava o hino da cidade que estava prestes a ser varrida por um furacão. Um misto de homenagem e bom humor bem Judy Garland que leva o público à loucura. Abaixo, a cena do filme "São Francisco" (colorizada, pois não encontrei a versão original) e, em seguida, Judy.






Meu primeiro ímpeto é acabar isso aqui lastimando a fatalidade que a levou tão cedo. Mas aí entro no You Tube e assisto aos excertos do "Judy Garland Show" nos quais ela arrasa cantando as canções que tanto amava; pego meu DVD do "Desfile de Páscoa" e revejo aquela cena incrível em que ela canta "Easter Parade" para Fred Astaire, uma de minhas preferidas dos dois artistas; volto ao You Tube e vejo mais uma vez sua interpretação de "Old Devil Moon" (canção que me persegue faz alguns meses); e acabo me decidindo pela manjada - porém, não menos sincera - conclusão de que Judy continua por aqui, vivíssima.


*
Nos comentários à postagem, os amigos trouxeram não apenas a Dorothy - que aqui apareceu apenas de passagem, largadinha sobre as flores do Mágico de Oz - como a Liza Minelli. Como agradecimento pelas leituras carinhosas que o post recebeu, divido com todos o número de "Over the rainbow" do qual tomam parte a mãe e a filha - bela sequência do show que ambas realizaram no London Palladium em fins de 64. Depois de afirmar "Oh, I sang this song for so many years", Judy pede ajuda da plateia. Olhem...

12 out. 2010

19 comentários:

Carla Marinho disse...

Nossa Dani, que texto belíssimo sobre Judy!! Lindo e perfeito. Eu posso colocar ele no cinemaclassico (com creditos, claro)??? beijos.
carla

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Oi, Carla.

Claro que pode! Eu me sinto honrada! Obrigada pela visita e pelas palavras sobre o post.

Bjocas
Dani

cleber eldridge disse...

Só vi um filme, e li pouquissima coisa sobre a atriz, que todo mundo elogia o quanto pode.

Paulo Telles disse...

Olá

Vim a conhecer seu blog agora e fiquei maravilhado, tanto que resolvi seguí-lo e colocá-lo na tribuna de honra do meu espaço.

Quanto a Judy Garland, creio que dificilmente haverá de novo um talento similar ao dela (embora a filha Liza Minnelli seja também um grande talento, mas não chega ao patamar da mãe). Era uma artista inigualável,única, com uma voz surpreendente, cheio de sensibilidade e emoção para transmitir. Pena que sua vida, apesar das glórias artísticas, tenha que ter sido tão trágica.

Parabéns pelo artigo e pelo espaço, que certamente virei mais aqui.

Saúde e paz

Paulo Néry

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Olá Paulo e Cleber.

Paulo, fico muito agradecida por seu comentário tão elogioso. Vou adorar receber suas visitas em meu blog - e pode apostar que visitarei o seu, que tem tudo o que eu amo (adorei!).
Judy Garland é realmente insuperável. Ao falar dela a gente só faz constatar isso (daí os tantos elogios a ela, Cleber). Também gosto da Liza Minelli, mas ela não me comove tanto quanto Judy.

Paulo, faltou em meu post a recomendação de um DVD brasileiro incrível (e baratinho) em que há uma compilação do "Judy Garland Show". Embora ele não traga "Old devil moon" e "Carolina in the morning", duas interpretações que eu adoro, traz cerca de uns 40 clássicos. Ele se chama "Judy Garland: show na íntegra, incluindo 'Over the rainbow' e 'The man that got away'". Ao contrário do que diz o encarte, o DVD não traz o "Show" na íntegra, porém, ele vale muito a pena.

Bjs e até logo
Dani

Lorena F. Pimentel disse...

Nossa, Dani, que texto de tirar o fôlego! À altura e merecimento da grandiosa Garland, cujo talento artístico era assombroso.

Quando tomei interesse Baixei há um tempo atrás o cd da apresentação dela no Carnegie Hall, circa 1961/1962, salvo o engano. Nossa, que maravilhoso. Todas as vezes em que escuto esse álbum, lembro deste trecho retirado da autobiografia da Julie: http://morphine-shot.tumblr.com/post/463920179

Beijos,
Lolly

Edison Eduarddo disse...

Oi, Danielle... Gosto da Judy desde muito tempo (nem preciso revelar a minha idade falando assim) mas, pra vc ter uma ideia, eu curtia "O Mágicvo de Oz" toda vez que passava na "Sessão da Tarde", foi o primeiro filme que vi na vida que era tanto a cores qto P/B e, claro, tinha a maravilhosa Judy brilhando... Sou maluco por "Get Happy"!!!! Fica aqui a sugestão pra listinha de músicas perferidas de musicais... Que lindo o texto, hein... Adorei! Aquele bjão!

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Lorena, querida, fico feliz que tenha gostado do texto! A nossa Judy Garland era - é - perfeita, não?

Que lindo o depoimento da Julie Andrews sobre sua ida no show de Judy, em que transparecem admiração e respeito - e ele é tanto mais especial porque também a Julie é uma artista grandiosa.

Sou apaixonada pela gravação do Carneggie Hall! Tenho-a no meu mp4 faz uns 2 anos. Por ela vemos o quanto Judy era genial... e safadinha... - ela deixa o público durante toda a noite na antecipação de que ele ouvirá "Over the rainbow", cujos primeiros acordes são tocados antes de várias canções...

Ah, tive que roubar a linda fotografia com que você ilustra sua postagem. Ela estampa o que de mais especial há no "Judy Garland Show" - a simplicidade do cenário e a aparente fragilidade da cantora, que se torna grande quando canta.

Julie menciona a interpretação contida de "Over the rainbow". No "Show", Judy senta-se no proscênio e canta a canção ainda vestida com os andrajos da mendiga de "We're a couple os Swells" - é espantosa a mudança de registro do cômico para o dramático, e como sua interpretação e seus trajes ressignificam a canção. Lindo de morrer!

Edison, obrigada pela visita! O "Mágico de Oz" marcou minha infância também. E "Get happy" é uma delícia!

Estou vendo que cada um de nós tem uma canção preferida da Judy: "Come rain, come shine", "Old devil moon", "A foggy day", "Get happy", todas old laddies, mas que na voz dela ficam tão atuais.

Bjinhos pra vocês e boa semana!
Dani

As Tertulías disse...

Querida.
Falar sobre Judy (querida Judy) as vezes até dói...Dorothy que me apresentou menino no Cine Metro de Copacabana à "Terra de Oz", que me fez rir, chorar e até ficar com medo da Wicked Old Witch of the West... Judy que me fez, menino, recochecer valores como amor, amizade, lar... Amei este teu texto, cheio de carinho e amor e aquela sensibilidade "Crepaldiana" que eu tanto prezo. That Old Devil Moon... voce me fez prestar atencao a este número... Nunca o havia feito... Sempre fui mais "The Man that got away" e (o incrível, lento) "I can't give you anything but love" e (claro) "Over the Rainbow". Voce , minha linda fez-me abrir os olhos e ver uma coisa antiga que se tornou nova para mim... Que coisa boa, recompensante. Ahhh... Danielle, que bom que a gente nao se viu no Rio: Nosso encontro terá que ser mesmo de férias. Venha a Viena. Aí teremos semanas curtindo nosso cinema, debatendo, discutindo, aprendendo... aprendendo a ver com novos olhos o que já se viu! Te agradeco pela tua sabedoria e sapiencia! Voce é uma pessoa muito querida. Mesmo. E eu te quero muito bem.
Com muito carinho do amigo
Ricardo

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Ai, Ricardo, fiquei tão emocionada lendo o seu comentário! Você também é uma pessoa muito, muito querida! Com certeza nos encontraremos na Áutria para papearmos muito sobre esses assuntos que a gente tanto ama. Vou fazer de tudo pra que dê certo! E pra mim vai ser duplamente fascinante, porque será minha primeira viagem abroad.

Sabe, eu também me encontrei com a Judy pela primeira vez vendo O mágico de Oz, numa fita em VHS. Fiquei maravilhada, e desde aquele momento (eu tinha uns 15 anos) ela faz parte da minha vida.

Fico tão feliz que você tenha revisitado "Old devil moon"! Também adoro as lentas - acabei de voltar do cinema ouvindo "I can't give you anything but love", que me acompanhou por quase a viagem inteira - mas essa me pegou.

Querido, muito obrigada por suas palavras! Cuide-se bem.
Bjs
Dani

Danilo Ator disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Danilo Ator disse...

Danielle, acho que não preciso dizer sempre que suas postagens são brilhantes, né! Todos nós já sabemos disso, rsrsr.

A Era de Ouro de Hollywood tinha o adorno das grandes atrizes cantoras e Judy realmente foi grande nas duas coisas (O vaudeville foi uma boa escola). Não imagino mais ninguém como Dorothy no Mágico de Oz.; Nasce uma Estrela é soberbo. Ela teve uma vida turbulenta, um destino compartilhado com algumas estrelas da atualidade. Mas o que hoje soa superficial antes bradava como tragédia, e tantos de nós, amantes da verdadeira arte na sétima arte, suspiramos de pesar quando lembramos que ela se foi com apenas 47 anos. Quantas alegrias ela ainda era capaz de trazer, e quanta magia se foi com ela. Do seu romance com o grande diretor Vincent Minelli nasceu Liza (também grande atuando e cantando, como está patente em Cabaré), que prolongou mais um pouco as alegrias que a mãe nos dava. O que resta agora é o consolo da memória, rever sempre sua obra, que nunca enjoa, mas fascina continuamente para muito além do arco-íris.

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Danilo, você é muito gentil! Obrigada pelas palavras! E que lindas palavras você usou para definir a arte de Judy!

Eu também não imagino outra Dorothy - e pensar que apenas não escolheram a Shirley Temple para o papel porque seu cachê era muito alto na época (...). Imagina só a Shirley Temple cantando "Over the rainbow" (!...).

E que maravilha é o "Nasce uma estrela"! Vi-o com um nó na garganta o tempo todo - quanto de Norman Maine e Vicky Lester há em Judy, na construção da imagem da estrela pela indústria do cinema; no vício do álcool; no talento "descoberto" por Hollywood depois do palmilhar da jovem por palcos e mais palcos do teatro alegre.
Judy se entregou completamente ao papel, nunca a vi tão perfeita num filme. Seria lindo se ela fosse premiada com um Oscar do mesmo modo como a personagem que criou o foi - a ficção acerta mais que a realidade...

E Liza é incrível - seu "Cabaret" merece um post a parte (ele sairá, mais cedo ou mais tarde).

Bjinhos e até logo!
Dani

Ricardo Aguieiras disse...

Falar o que perante tanto talento junto, e tanto sentimento? não, não estou falando apenas da única Judy, mas também de você, Danielle, teu texto é soberbo, perfeito, lindo, tão bem escrito que vou guardar dentro daquela caixinha de joias que trago no coração. E vou ficar lendo e relendo.
Como homossexual, você sabe, Judy tem uma representação toda especial e "Over The Raimbow" é o hino da nossa luta por Direitos. E olha, se ela não tivesse sido enterrada em Nova York naquele dia tão triste, a revolta de Stonewall não teria ocorrido.... os policiais vieram de novo para achacar e surrupiar os clientes gays do bar "Stonewall In"; coitados desses guardas, não sabiam que os corações dos gays e lésbicas estavam arrebentados de tanta tristeza naquele dia e que não suportariam mais humilhação. E assim foi: três dias de luta e o mundo nunca mais foi o mesmo.28 de junho de 1969...
Judy era, na época, como um mito poderoso nunca mais visto pelos gays, sem comparações com o mundo de hoje. Acho que nem se juntarmos Madonna, Cher ; esse monte de cantoras novas, todas juntas, nem aí chegaremos ao que realmente representava Judy para os/as homossexuais.
Recentemente, Rufus Wairaght, cantor e compositor de música indie e pop/rock americano refez em homenagem à Judy todo o histórico show do Carnagie Hall, gravando as mesmas músicas na mesma sequência e arranjos de Judy e foi grande sucesso. Nesse show contou com a grande presença da filha de Judy, Lorna Luft, igualmente como a mãe , dona de uma poderosíssima voz.("Rufus Does Judy At Carnegie Hall").
Não sei o que falar de Judy e do quanto ela mexe comigo. Atriz perfeita, transgressora em vida, cantora cuja voz era maior que a orquestra, dançarina, figura humana incomparável...como disse uma vez o saudoso crítico do Jornal da Tarde - São Paulo, Wladimir Soares: "Judy é patrimônio da humanidade".
Beijos emocionados,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
http://dividindoatubaina.wordpress.com/

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Ricardo, que lindo o seu comentário! Fiquei muito feliz em conhecer o depoimento de alguém para quem Judy Garland é tão importante, como artista e como mulher.

Você tem toda razão. Não há hoje em dia outra artista como ela. Existem atrizes e cantoras carismáticas, outras bonitas, outras competentes. Judy é a soma de tudo isso - muito mais, mesmo, do que Madonna jamais sonhou ser, embora ela sem dúvida seja uma grande entertainer.

Judy tinha a orquestra na voz e era atravessada pelos sentimentos à baila em cada uma das canções que cantava. É impossível não se emocionar ouvindo-a cantar "Over the rainbow", canção inesquecível porque ela soube transformá-la nesse misto encantador de oração e de hino.

Na verdade, essa moça motiva em mim um fascínio meio que religioso. Adoro o jeito completo que ela se entrega em cada música que canta; adoro o jeito bem humorado com que ela encarava até os maiores aborrecimentos que o "show biz" a fez passar - e ela pronuncia "show biz" de um jeito extremamente ácido, referindo-se à burocracia artística que lhe obrigava a responder a perguntas do tipo: "Por que você perdeu todo o seu dinheiro?"; "Você engordou?", etc.

A alegria de viver que Judy faz transparecer quando canta ou atua torna-a muito distante daquela imagem trágica que têm dela aqueles que não a conhecem. Quando estou soterrada em trabalho, paro dois minutos e vejo um número musical de seu "Judy Garland Show". Qualquer número - e sinto-me outra.

Naquele junho de 69 apenas o corpo de Judy se foi. Sua alma ainda paira por aqui, motivando maravilhas como o espetáculo de Rufus Wainwright, a luta pelos direitos dos homossexuais - e a alegria GLS, que era bem a alegria da artista.

Querido, obrigada pela visita!
Dani

Anônimo disse...

Eu gosto muito da Judy Garland por causa de um filme que vi quando era criança " O Mágico de Oz". Ela era mesmo uma graça, carismática e com uma voz incrível. Depois vi outros filmes dela Agora seremos felizes com a direção de seu futuro marido Vincente Minelli e um filme que ela fez muito graciosamente com Fred Aistaire. Imagina só! Eu gostei tanto do filme que assisti duas vezes. Judy sempre conseguia cativar o público.

Anônimo disse...

Eu gosto muito da Judy Garland por causa de um filme que vi quando era criança " O Mágico de Oz". Ela era mesmo uma graça, carismática e com uma voz incrível. Depois vi outros filmes dela Agora seremos felizes com a direção de seu futuro marido Vincente Minelli e um filme que ela fez muito graciosamente com Fred Aistaire. Imagina só! Eu gostei tanto do filme que assisti duas vezes. Judy sempre conseguia cativar o público.

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Danistill, também amo essas 3 filmes da Judy: O mágico de Oz, Agora seremos felizes e Desfile de Páscoa. Ela é realmente cativante e rouba a cena de tudo o que faz. Até as maiores patriotadas que ela rodou nos anos 40 valem a pena por causa dela.

Bjinhos. Obrigada pela visita!
Dani

Ana Laura disse...

Dani!!!!

Mas que post mais lindo!!!

Vou dormir com a música do Mágico de Oz na cabeça hj!!

=)