La Bambolla (1909-1913?) |
O Programa Cinema delle Origine/Early Cinema [Primeiro Cinema] apresentou, sempre no primeiro horário, um conjunto de sessões do “Biograph Project”, composto por filmes dirigidos por D. W. Griffith no ano de 1908. Filmes interessantes porque atestam o percurso do diretor que se tornaria fundamental para sistematizar uma gramática do cinema narrativo.
No geral, são obras compostas por poucos planos e que ainda flertam bastante com a tradição do teatro popular, a exemplo do melodrama, feito de cenários pintados, e, no âmbito narrativo, de personagens planas e reviravoltas fantásticas. A câmera em muitos momentos emula os filmes de arte europeus, realizando tomadas que não raro comportam, cada qual, uma cena. E a influência teatral é a pantomima: os artistas não economizam nos gestos, mesmo a câmera se aproximando um pouco mais deles.
As poucas comédias ganham um pouco mais de agilidade narrativa, a exemplo de “A Calamitous Elopement”, conto do casal que foge para se casar, já que o pai da mocinha é contra o consórcio. O ladrão que espreita a dupla acaba seguindo-os na lua de mel, onde, depois de roubados, descobrem por carta que o pai da moça tudo perdoou. A maioria desse corpus é composta por dramas lacrimosos, a exemplo de “Behind the Scenes”, que retoma a tópica da mãe atriz (neste caso, cantora de vaudeville) que precisa deixar a filha doente em casa para trabalhar. A mãe a persegue e a apressa nos bastidores. Os espectadores vibram e ela sorri, no espetáculo e no bis, malgrado a sua dor. Uma montagem paralela mostra a expectativa da mãe e o deleite do público, sobretudo masculino. Outro filme em que há um trabalho bastante interessante com a montagem paralela é “The Girl and the Outlaw”, já que, na perseguição da mocinha pelo bandido, o diretor começa a burilar algo que já apresenta com excelência em “An Unseen Enemy” (1912), protagonizado pelas irmãs Gish.
A dicotomia e a carrada de preconceito que pauta essas produções são por vezes transcendidas, como em “The Red Girl”, em que a indígena casada com o “malévolo mexicano” resolve facilitar a fuga da jovem branca que ele sequestra. Estamos na aurora do século XX e D. W. Griffith, descendente de combatentes sulistas da Guerra de Secessão, não dava de ombros à sua casta. Indígenas, negros e mexicanos são todos os “outros” que urgia-se submeter.
Outro braço do programa Early cinema foi dedicado à exibição de um conjunto de filmes da abastada Família Biglia, rodados entre 1907 e 1910. Nessas obras, a alta sociedade ostenta signos de sua posição social. Em filmetes de 1, 2 minutos, ora o pai chega dirigindo o seu automóvel e é recebido pelo mordomo, ora toda a bem trajada e alegre família posa numa tomada como se posasse para uma fotografia: olham para a câmera, sorriem e acenam para a câmera. O early cinema, ou primeiro cinema, engloba um conjunto amplo de produções, de filmes rodados visando a exploração comercial àqueles que tinham por objetivo registrar a alta goma tendo por fim o seu uso privado.
Este programa foi ainda dedicado à exibição de um conjunto de filmes sem nome (ou Sine Nomine, como foi intitulada a sessão): os organizadores da Giornate esperavam que, com a sua exibição para um público vasto, essas obras fossem identificadas (o que em parte se deu). Exemplo disso é o gracioso “La Bambola/The Doll”, título atribuído (francês (?), de entre 1909 e 1913), história (de pouco mais de 7 minutos) da menina que é deixada pelos pais em casa reparando uma toalha de tricô, no entanto, incapaz de fazê-lo, vai até uma amiga na feira onde esta última trabalha. A menina faz o trabalho, consegue entregá-lo a tempo, e a amiga ganha dos pais uma boneca em retribuição. Ao descobrirem a verdade, entregam a boneca para a amiga da filha, e as duas meninas, do modo mais gracioso e infantil, conseguem elas mesmas resolver a situação.
Por fim, o Programa Sicilia, embora comporte filmes rodados entre as décadas de 1900 e 1920, tem porção considerável de seu corpus abarcada por esta sessão, considerando-se que esses filmes são sobretudo filmes naturais das paisagens das vilas e cidades sicilianas.
Un giorno a Palermo (1914) |
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