La Sultane de l'amour (1919) |
Algumas sessões noturnas da Giornate, exibidas a partir das 20h45-21h00, são apresentadas como Eventi Speciali/Special Events [Eventos Especiais], em geral com acompanhamento musical de grupos orquestrais maiores. Destaco, este ano, a exibição dos norte-americanos “3 Bad Men” (1926), de John Ford, e “Girl Shy” (1924), de Fred Newmeyer, e do francês “La sultane de l’amour” (1919), de Charles Burguet e René Le Somptier.
“3 Bad Men” (1926) teve acompanhamento da Orchestra da Camera di Pordenone e regência de Timothy Brock, também autor do acompanhamento musical. Trata-se de um western que já apresenta todas as principais características de Ford – que depois se celebrizaria por, entre outros, “No tempo das diligências” (1939) e “Rastros de ódio” (1956). Como sói aos filmes do gênero, toma num diapasão heroico a conquista, pelo branco, do Oeste norte-americano, terra indígena.
As longas cenas de batalha pela disputa do território, uma constante nesta cinematografia, também não faltam aqui. Numa delas morre o pai da mocinha – mulher assertiva que se ombreava ao velho na Marcha para o Oeste. Algo não tão típico no cinema clássico, embora comum na cinematografia de Ford, é a construção de tipos matizados, não totalmente bons, nem totalmente ruins, como é o caso desses “3 homens maus”, que, depois da morte do velho, se tornarão braços direitos da mocinha.
“Girl Shy” (Fred C. Newmeyer, Sam Taylor, 1924) foi gloriosamente acompanhado pela pordenonense Zerorchestra, de levada jazzística, e a sua partitura foi escrita por Daan van den Hurk. Protagonizado por Harold Lloyd, o filme faz uma impagável piada do tipo de machão clássico. Lloyd, ator cômico bem conhecido do público por caminhar na contracorrente deste tipo, é o tímido aprendiz de alfaiate que resolve escrever um livro para enriquecer. Na viagem em que submeteria a obra ao editor, ele encontra a personagem de Jobyna Ralston, e o sucesso profissional passa, então, a ter para si uma finalidade especial: ele deseja desposá-la.
A comicidade brejeira dos filmes de Lloyd – por exemplo, a cena em que ele, dentro do trem em movimento, resgata, com o cabo da bengala, o cachorrinho da jovem, que escapa dela e salta na via férrea – soma-se à crítica social (e também cinematográfica) ao homem que submete às suas vontades todos os tipos femininos existentes (os quais foram também, em grande medida, construídos pela cinematografia): a flapper, a vamp, etc.
“La sultane de l’amour” (Charles Burguet e René Le Somptier, 1919) teria, originalmente, um acompanhamento musical de artistas libaneses, os quais, todavia, segundo Jay Weissberg, diretor da Giornate, não puderam aceitar a incumbência graças ao conflito em seu país. A música, então, ficou a cargo de um trio de musicistas da Giornate, Mauro Colombis (piano), Frank Bockius (bateria), Elizabeth-Jane Baldry (harpa).
O filme francês lê os usos e costumes árabes de forma romantizada e exotizante. A história é um fio, pretexto para o desfile de festins e a apresentação de danças protagonizadas por homens e mulheres ricamente vestidos, os quais ganham ainda mais relevo porque o filme é colorizado por meio de várias técnicas – as cores e a música são elementos que negam a imagem que o grande público tem deste cinema, mudo e em preto e branco.
“La sultane de l’amour” conta a história do filho do sultão que, ao se fingir de reles pescador, se apaixona por uma jovem que ele encontrara na praia. A obra narra o périplo deste rapaz para encontrá-la, e os esforços de um velho e pusilânime sultão para desposá-la. A obra está coalhada de números de dança, perseguições e expedientes mágicos – como a luneta graças à qual o mocinho descobre onde a jovem fora escondida, conseguindo, assim, salvá-la. Malgrado a obra se arraste e o seu enredo seja inane, ela é uma festa para os olhos.
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