Costumeiramente produzo boletins concernentes à programação da Giornate del Cinema Muto de Pordenone (da sua modalidade online nos últimos anos). Agora, escrevo do palco do evento, mesmo que essas notas possivelmente sejam publicadas posteriormente.
A cidadezinha italiana de Pordenone (de cerca de 15 mil habitantes, a cerca de 80 km de Veneza) é um oásis para os amantes de cinema mudo, não canso de dizer. Nela encontram-se, ao longo de 8 dias, arquivistas, acadêmicos, músicos e amantes devotados deste cinema.
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É difícil de se falar sobre a programação de uma mostra desta dimensão – 8 dias de duração e 15 horas diárias de exibição cinematográfica. No calor da hora, isso ocorre apenas se o escrivinhador/espectador se recusar a dormir, ou então resolver pular sessões, o que não é o meu caso. E se deixamos as obras descansarem alguns dias dentro de nós, corremos o risco de nos esquecermos de detalhes. Tomei esta última decisão, e por isso optei, desta vez, por fazer uma apresentação geral dos programas, o que ajudará o leitor a perceber a sua amplitude e, quem sabe, o convidará a prestigiar a mostra no próximo ano, seja pessoalmente, seja em sua modalidade virtual (a exemplo dos últimos anos desde a Covid, uma seleta dos filmes é disponibilizada virtualmente ao longo da semana da Giornata).
Overview
Surpreendi-me com a diversidade da programação deste ano. A amplitude da programação nem sempre significou diversidade – ano após ano, repetia-se o olhar que, se era sensível, também era notadamente eurocêntrico. Discussões sobre o “Sul Global” e a emergência do “outro”, ocorridas desde o Me too e as manifestações que se seguiram à morte de George Floyd, faziam antecipar um redirecionamento do olhar dos curadores dos programas.
Efetivamente, este ano foi programada, por exemplo, uma quantidade considerável de filmes latino-americanos, enfeixados no programa “América Latina”. E então, ampliou-se o público espectador, multiplicaram-se os hispano-hablantes pelas ruas da cidade (mesmo que os brasileiros continuassem a ser poucos...).
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O olhar voltado às minorias ainda se observou no programa voltado a Anna May Wong – atriz sino-americana que foi obrigada a envergar o hábito tradicional que o cinema hollywoodiano impunha ao Oriente, e bravamente bateu-se com ele – e naquele dedicado aos “Feminist Fragments”.
Vamos às notas sobre esses programas! Elas serão divididas em 7 textos, a serem publicados com periodicidade diária.
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